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Da antiga Imagem de nossa Senhora da Conceição da Matriz de Payo de Pelles

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Frei Agostinho de Santa Maria, Santuário Mariano, Tomo III, 1712
(Texto adaptado)
Título XVI - Da antiga Imagem de nossa Senhora da Conceição da Matriz de
Payo de Pelles.


A Festividade da Conceição de Maria Santíssima, é a que os moradores da terra devem solenizar com os maiores júbilos, e alegrias que forem possíveis à sua capacidade não só por ser ela Senhora em sua Conceição a perene fonte de todas as suas felicidades; mas porque sendo de crédito, e de gozo a toda a humana, e Angélica criatura, é a alegria dos homens; porque nesta festividade, ou na Conceição dela puríssima criatura, as reconhecerão; por isso disse Ruperto Abbade: Maria emisit omnia bona, quibas mundus impletur. É a alegria dos Anjos; porque tem na terra, quem lhes pareça em a pureza, e assim disse São Vicente Ferreira: Statim Angeli in Coelo fecerunt festum Consceptionis. E assim esta é a mais celebre, e a mais nobre de suas festividades, que em honra, e glória de Maria celebra o mundo, e faz grandes as mais festividades da Senhora.  Célebre é o Nascimento da Virgem Maria, dia ditosíssimo para o mundo, porque nele recebeu as primícias de suas esperanças, e aquele em que fahio a esta luz, uma Filha adotiva de Deus, para Mãe natural, e verdadeira de seu unigénito Filho; mas essa festa se realça porque a que nasce nunca foi filha da ira, como nós fomos pela original culpa. Solene é a sua temporânea Presentação em o Santo Templo, pela rica, e inestimável oferta, que a Senhora fez de si mesma ao Rei da glúria. Porém não se pode negar, que é muito maior; porque o inferno não gozou das suas primícias, quando foi concebida. Digna verdadeiramente é de todo o aplauso a Anunciação de Maria, ação de grande humildade para o Divino Verbo, porque se viu desde então vestido da nossa humanidade; e singular para Maria, pois naquele ponto, ficou feita Mãe de Deus, que é o seu maior adorno; mas é certo, que maior aplauso merece, por haver chegado a ser Mãe, sem haver sido escrava do demónio. Santa foi a sua Visitação, na qual a ditosa Isabel a nomeou bendita entre todas as mulheres; mas é muito mais Santa, por se saber que em nenhum tempo teve parte na maldição da culpa. Alegre foi a sua Purificação ao mesmo passo que humilde, a cuja cerimonia se sujeitou, sem ser obrigada àquela lei; mas mais se enobrece, sem comparação, com a memória de sua original pureza pois de nenhuma purificação necessitava, a que foi em sua Conceição tão pura. E finalmente é muito extremadamente gloriosa a festividade da Assunção de Maria,e a sua subida aos Céus, pois pisando caminhos de Estrelas, passando por coros de Anjos, e adiantando-se a todas as hierarquias celestes, chegou a tomar assento à mão direita de seu Santíssimo Filho, para reinar eternamente, e triunfar no Império. Mas esse triunfo é muito mais glorioso, por ser de quem nunca foi vencida, antes no campo da batalha levantou o troféu da vitoria. E assim todas as festividades dela Senhora se realçam com a sua Conceição puríssima. Assim o ponderou o venerável Anjo da Paz, dizendo: Que autem festivitas buic preponenda e et exorta debitio. Que foi o mesmo que dizer, que nenhuma festividade pode competir com a grandeza desta, porque as mais só com a memoria dela se ilustram.
Junto à Villa de Punhete (nome derivado da pugna, e guerra, que o soberbo  Zêzere faz ao caudaloso Tejo com as suas soberbas, e impetuosas correntes, e a quem os antigos por esta causa lhe chamarão Pugna Tagi ( de donde se derivou o nome de Punhete àquela Vila) se vê situada entre estes dois referidos rios a limitada Vila de Payo Pelles, com todo o seu termo, e destino ,e tão pouca cousa é, que dela se não conhece mais que o nome. Esta Vila pertence à
Jurisdição espiritual da Prelazia de Tomar, e antigamente se compreendia no termo daquela nobre Vila ,de cuja correição é ainda hoje. Não me confiou em que tempo os Reis enobreceram esta limitada povoação com o título de Vila. Podia bem ser, fosse El Rei Dom João o Terceiro; porque ele foi o que fez Vila o lugar das Pias, e feria para maior autoridade daquela Prelazia.
Fica esta Vila situada ao Sul da Vila de Tomar, em distancia de três léguas, em as ribeiras do Tejo , e pela mesma parte do Sul a divide uma ribeira , da Vila de Tancos.
A Paroquial Igreja desta Vila é dedicada ao mistério da Conceição imaculada de Maria Santíssima , e este titulo parece lhe foi dado modernamente; porque nos tempos antigos se intitulava aquela igreja, Santa Maria do Zêzere, e com este era buscada , e venerada aquela Senhora. É muito antiga esta Igreja, e se vê situada abaixo do castelo do Zêzere, que deu El Rei Dom Afonso Henriques aos Cavaleiros do Templo, em a mesma ocasião que lhes fez também doação do castelo de Ceres, hoje Ceras.
Deste castelo do Zêzere se vêm ainda hoje ruinas onde o Zêzere entra no Tejo , em a foz de Punhete, e fica esta Igreja da Senhora da Conceição entre este antigo castelo, e o de Almourol que edificou o Mestre do Templo , Dom Gualdim Paes. É esta Igreja muito pequena, e na sua fábrica, e arquitetura, se está mostrando a sua muita antiguidade. Nesta Igreja se vê colocada a devota, e antiga Imagem da Santa Maria do Zêzere, a quem hoje invocamos com o nome, e título de sua Conceição puríssima.
É de vulto e obrada em Madeira estofada, sua estatura é grande, etrá seis palmos, pouco mais ou menos.
Com esta soberana Imagem tiveram sempre aqueles moradores circunvizinhos muito grande devoção , e sem embargo de que ainda hoje lha tem, já a devoção de fé mais fria, e é menos o fervor com que a buscam, merecendo pela sua antiguidade, e pelas antigas memórias dos seus favores ser buscada com mais fervor. Antigamente era o presidio, e a proteção (como é sempre, porque esta Senhora nunca diminui o seu amor para connosco) daqueles contornos;
porque sempre a devoção antiga se diminui com a devoção moderna , se a Divina Providencia com as maravilhas , que costuma obrar, não aumenta o calor da fé, e da devoção, em os frios,  e tíbios corações humanos. Tem esta Igreja da Senhora Vigário Freire da mesma Ordem de Cristo que é o Pároco daqueles moradores , que não devem ser muitos.



Carta-Galeria Arqueológico-Histórica do Concelho de Vila Nova da Barquinha

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Prefácio
- Informar para dar a saber. 
Pois só se ama aquilo que se conhece. Importa iniciar a gestão integrada de toda a informação sobre os bens de interesse cultural do Município de Vila Nova da Barquinha.
Num mundo cada vez mais global onde fervilham múltiplos recursos ao dispor do cidadão, devemos dar o que temos e o que somos.
- José Gomes, um homem que amou a arqueologia
Muito do que temos em arqueologia devemos ao José Gomes. Com o seu denodo e entrega às causas públicas, com o seu afável trato e calma de voz, era para qualquer jovem ou menos jovem um imenso gosto partilhar longos diálogos com tão eminente ser humano. Parte da sua juventude foi dedicada à arqueologia sendo, à data da sua morte (30 de outubro de 2012), tal como foi no restante caminho da vida, uma figura ímpar e proeminente na região do Médio Tejo.
- José Gomes, um cidadão que viveu as coletividades e as instituições
Foi membro fundador dos núcleos de Arqueologia do Grupo Recreativo Soudoense, na sua terra natal, e do Núcleo de Arqueologia da Barquinha, sua terra por opção. Eleito presidente da Associação Centro de Interpretação de Arqueologia do Alto Ribatejo (ACIAAR), desempenhou o cargo até ao último dia de vida com uma entrega inigualável. Em 2003 foi eleito diretor-delegado da ACIAAR. Foi distinguido com a atribuição da categoria de sócio emérito e sócio n.º 1 do Instituto Terra e Memória (ITM), no 1.º Congresso de Arqueologia do Alto Ribatejo, que se realizou no Centro Cultural de Vila Nova da Barquinha, nos dias 11 e 12 de novembro de 2011. O ITM reconhecia, assim, o papel pioneiro de José Gomes, bem como a sua dedicação à investigação sobre o passado e sobre o território, no Alto Ribatejo e fora dele, consolidando também a rede regional de infraestruturas criadas em Vila Nova da Barquinha, Abrantes, Mação e Tomar, numa estreita relação com as populações e em prol da construção do conhecimento. A sua vivência firme, determinada e entrega ao bem comum levou, em 2012, a Assembleia Municipal de Vila Nova da Barquinha, a reconhecer os seus préstimos e atribuir-lhe a Medalha Municipal de Mérito - Grau Prata, por se ter distinguido no campo social, associativo e cultural, condecoração que recebeu no dia 13 de junho de 2012, feriado municipal, no edifício dos Paços do Concelho.
- José Gomes, a quem dedicamos esta carta
Ao longo da sua vida participou em inúmeros trabalhos arqueológicos de prospeções e escavações, muitas delas no nosso concelho de que são exemplos: a Ribeira da Atalaia, Aldeínha - Barreira Vermelha - Fonte da Moita - Pedregoso, etc. Recordo um dos seus sonhos, o levantamento arqueológico da vila romana no sítio que ambos sabemos onde poderá estar localizada, face aos indícios bastantes que aí existem. Ao José Gomes se deve a realização de diversas exposições, conferências e várias publicações. Com ele a Barquinha ficou mais rica pois com a sua prestimosa entrega conseguiu dar a conhecer quem neste atrativo sítio erigiu a primeira construção, quais as obras que foram nascendo, a sua idade e as mãos que as edificaram, quem construiu as estradas, os caminhos, as pontes e as fontes.
Hoje cumpre-se um dos seus sonhos, a feitura da Carta Arqueológica de Vila Nova da Barquinha. José Gomes, lá do assento etéreo onde subiste, podes sorrir pois os teus discípulos, amigos e companheiros de jornada continuam a perpetuar os teus ensinamentos. Quão encantador será descobrir em cada nova pedra a tua memória levantando com palavras o sonho do nosso futuro.
Fernando Freire
Vila Nova da Barquinha, 30 de Outubro de 2014

Carta-Galeria Arqueológico-Histórica do Concelho de Vila Nova da Barquinha.
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Júlio Sousa e Costa - Um ilustre barquinhense

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A minha amiga Manuela Poitout, licenciada em Filologia Românica e investigadora de temas históricos e cultura da nossa região, publicou, na última revista “Nova Augusta”, Revista de Cultura, n.º 26, de 2014, edição da Câmara Municipal de Torres Novas, um belíssimo artigo sobre Júlio de Sousa e Costa.

Júlio de Sousa e Costa, nascido em Lisboa, em 1877, foi funcionário público em Lisboa, Vila Nova da Barquinha, Tomar, Leiria, Alcanena e Torres Novas,
Foi, porém, na Barquinha que trabalhou e viveu grande parte da sua vida, onde foi secretário da Câmara Municipal.
Sendo escritor, interessou-se por temas históricos nacionais e par tudo quanto respeitasse ao concelho da Barquinha.
São dele vários artigos publicados nos Serões de Tancos, do qual foi Diretor, Proprietário e Editor.
Através dos livros revelava a sua faceta de republicano assumido, acabando por ver a sua obra proibida pela Censura e de ser perseguido pela polícia política, a Polícia de Vigilância e Defesa do Estado (PVDE) criada por Decreto-Lei n.º 29992, de 29 de agosto de 1933, e substituída pela Polícia Internacional e de Defesa do Estado (PIDE), criada por Decreto-Lei n.º 35 046, de 22 de outubro, de 1945.
Num estudo de 36 páginas, Manuela Poitout, com as limitações de fontes que existem, conseguiu um brilhante trabalho sobre um grande homem, Júlio de Sousa e Costa, que incontestavelmente deu a conhecer o nosso concelho no início no Século XX.

Alguns excertos do seu trabalho:
“ Quem procurar na Biblioteca Nacional, para consulta, o livro de Júlio Sousa e Costa, intitulado O Rei dom Carlos I, factos inéditos do seu tempo (1863-1908), com  a cota 106527P, receberá um volume que mostra na capa um carimbo da Direção dos Serviços da Censura e a menção PROIBIDO, datada de 1 de março de 1943 .
Conhecendo-se a história das relações do Estado Novo com os escritores, não se ficará surpreendido, embora a leitura da obra, por si só, não seja esclarecedora das razões que terão conduzido a Censura a tal decisão, porquanto nela não existe, para o leitor qualquer crítica velada ou explícita ao Estado Novo, nem propaganda subversiva, ou atentado à moral e aos bons costumes.
Na sua narrativa, o autor analisa a conduta do rei D. Carlos e dos seus ministros, e também de D. Manuel II, relatando factos da época. As últimas páginas são dedicadas ao regicídio e aos regicidas, sobretudo a Manuel Buiça, que duas pessoas da Barquinha conheceram pessoalmente. (1)
O Escritor refere-se também ao modo como o país reagiu à morte do monarca e do jovem príncipe, com banquetes clandestinos e congratulações pela morte do soberano» (p. 25) e cita uma carta de Francisco Grandela, escrita doze dias após o regicídio, em que afirmou: «E afinal foi uma coisa tão fácil. Com a morte de cinco pessoas fez-se uma nação feliz.» (p. 25) .Sousa e Costa é muito crítico em relação a D. Manuel II, um perfeito desastrado na maneira de se conduzir perante a dificílima política do seu País», que «atirou os políticos uns contra os outros» (p. 64), e que «não soube caminhar em linha recta sem hesitações», uma «pessoa vacilante na sua opinião, sabendo atraiçoar com um semblante ingénuo». (pp. 65 e 66)
Ainda citando afirmações de Sousa e Costa sobre D. Manuel II, o último rei de Portugal «ajudou com muita vontade a implantação do regime republicano» (pp. 67 e 68), e «talvez não fosse precisa a revolução do 5 de Outubro de 1910» porque «a monarquia estava a cair de podre, de ridículo», (p. 66) .
O texto é um repositório de memórias do autor e dos seus amigos ou conhecidos, muitas delas transmitidas por via oral, e acompanhado de imagens dos reis retiradas da imprensa contemporânea, algumas delas caricaturas de Celso Hermínio (2), amigo de Sousa e Costa desde os tempos de juventude”.

António Roldão, na conferência que aconteceu no auditório do Centro Cultural de Vila Nova da Barquinha no pretérito dia 2 de Outubro de 2010, sobre “A Proclamação da República e a Barquinha de 1910”… disse: “ Mudaram, ou melhor dizendo, baralharam-se os trunfos, acomodaram-se no poder os rostos da visibilidade política da Barquinha, nada de importante, passando aligeiradamente de um para o outro posto do regime sem oposições ou estéril contestação, na plena paz dos anjos” …. vide  http://atalaia-barquinha.blogspot.pt/2010/10/proclamacao-da-republica-e-barquinha-de.html.

No mesmo sentido vai a investigação de Manuela Poitout.
“ Nesse mesmo ano, numa visita a Ramalho Ortigão, perguntou-lhe este:
- Ainda existem lá no seu burgo pitoresco os arreliantes políticos, os caciques, os regedores, os citotes" enfim toda essa boa malta da gentinha que zela admirável e civicamente pela Res Pública?
- Sempre e dignos e austeros, senhor Ramalho Ortigão, cônscios da responsabilidade que lhes incumbe a Carta Constitucional que felizmente nos rege ...
- Belo … Está tudo integrado com coragem!. .. - e  mudando de tom, continuou - E a sua República está de esperanças?
- A República está a chegar!. .. Não lhe dou três anos …”
Esta profecia cumpriu-se, uma vez que a conversação com Ramalho Ortigão tivera lugar três anos antes. E é através de Sousa e Costa, como secretário administrativo do concelho da Barquinha, na mensagem enviada para o Governo Civil de Santarém em 7 de outubro de 1910, que temos um dos registos de como a Câmara da Barquinha e a população reagiram à "chegada" da Republica.
Acuso recebido o telegrama de V. Exa, de ontem, e cunpre-me informar o seguinte: No dia 5, às 6 horas da tarde, soube-se por uns emissários vindos do Entroncamento que havia sido proclamada a República às 8 horas da manhã, imediatamente a Câmara Municipal Republicana  arvorou o estandarte  da República no meio de grande entusiamo e de uma ovação delirante. Tendo sido avisado a comparecer na administração, recebi um telegrama do Exmo. Governador Civil de Lisboa, Dr. Eusébio Leão, para arvorar a bandeira e comunicar o facto às demais repartições públicas o que imediatamente fiz. A escola prática de engenharia aderiu ao movimento, não tendo havido o mais pequeno protesto. Tudo está tranquilo.
E em 2 de novembro, o secretário registou também a adesão das freguesias do concelho, copiando as palavras do administrador:
«Cumpre-me comunicar a V. Exa que todas as freguesias desta administração aderiram ao novo regime tendo prestado voluntariamente a sua declaração de fidelidade.»
E para não parecer estranho ao governador civil que a câmara da Barquinha mantivesse a mesma vereação antes e depois da mudança do regime político, o administrador do concelho, em exercício no ano de 1913, sendo Sousa e Costa o secretário, explicou em ofício que «a revolução de 5 de Outubro encontrou na câmara municipal uma vereação na sua maioria republicana, motivo por que se conservou em exercício.”

(1) Vive, ainda no concelho da Barquinha duas pessoas que conheceram Manuel Buiça de perto - Eduardo Lamas Zagalo Gomes Coelho, proprietário, domiciliado na vila e freguesia de Atalaia, primo do celebrado escritor Dr. Joaquim Guilherme Gomes Coelho, mais conhecido por Júlio Diniz, e Francisco Tacha de Figueiredo, proprietário, residente na vila. Estes senhores deram-me sobre Buíça os apontamentos que abaixo seguem. Tão amáveis informantes frequentavam o Colégio Nacional, da R. das Pedras Negras, onde Buíça era professor (p.257).

(2) «O seu jornal O Micróbio, além de vergastar a ambição de João Franco e a ingenuidade de Hintze Ribeiro, desenhava o rei em permanentes apuros políticos. D. Carlos admirava-lhe o talento artístico, chegando a comentar algumas das caricaturas com Ramalho Ortigão (Costa, 1943, p.54), e Hermínio retribuía-lhe a consideração enviando para o Paço alguns dos seus jornais.» (Sardica, «o poder visível: D. Carlos, a imprensa e a opinião pública no final da monarquia constitucíona1», in Análise Social. nº 203, 2012, pp. 344-368).

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O atalaiense, António José Vieira de Carvalho – 1.ª Parte

O Convento de Cristo, associando-se à Festa dos Tabuleiros de 2015, recebeu no dia 17 de Janeiro, na Charola, a apresentação do cartaz oficial da festa. Tive o enorme privilégio de assistir a essa apresentação bem como a um excelente concerto da Orquestra de Ouro Preto, de Minas Gerais, Brasil, dando corpo e engrandecendo, através da música e do verbo, a Lusofonia e a Cultura que une os nossos dois povos.
Ora, o homenageado era António José Vieira de Carvalho, que no século XVIII, esteve em Minas Gerais como “Cirurgião-mor do Regimento da Cavalaria Regular da Capitania de Minas Gerais e lente de anatomia , cirurgia e operações no Hospital Real Militar de Vila Rica".
António José Vieira de Carvalho era natural do concelho da Atalaia, comarca de Tomar, arciprestado de Lisboa.
No dia anterior ao concerto tinha o Dr. Paulo Rogério Ayres Lage procurado por mim, na Junta de Freguesia da Atalaia, para saber se existia alguém que tivesse algum elemento histórico sobre tão insigne personagem. Debalde, pois motivos profissionais impediram-me de, nesse dia, o conhecer. No dia seguinte lá estava eu no Convento de Cristo para falar com ele e trocar umas breves impressões sobre tão insigne figura. Ali me ofereceu um livro que editou: “Cerâmica Saramenha - A primeira Manufatura de Minas Gerais”. Um belo trabalho artístico que resgata a história da primeira manufatura daquela terra, fundada entre 1802 e 1808 pelo padre Viegas de Meneses, detentor da técnica de produção, e António José Vieira de Carvalho, proprietário da Chácara Saramenha. Mas não só na cerâmica se distinguiu o nosso António José Vieira de Carvalho. 
Vamos, então, conhecer tão ilustre atalaiense. E nada melhor deixar correr o seu verbo no prefácio inserto numa  tradução sua de um original em francês para português (1)
 “ …  felizmente o meu destino me havia levado a ocupar nas Minas Gerais o emprego de Cirurgião-mor do Regimento da Cavalaria que guarnace a capital desta capitania, onde exercendo, a par de minha profissão, a Medicina prática, pude ver com meus mesmos olhos quanto a espécie humana sofre na inumerável multidão dos negros, que ali transporta a escravidão e o comércio. A mudança do clima, a diferença de tratamento, um trabalho contínuo e desmedido, e até a fome raríssimas vezes interrompida, juntos à triste consideração de seu penoso estado, são outras tantas causas das singulares e gravíssimas enfermidades, a que é sujeita entre nós esta raça desaventurada de homens; que fazendo-lhes a vida pesada e adiantando-lhes a morte, levam à sepultura o melhor dos cabedais daquela e de outras Colônias da América Portuguesa, enterrando com eles o mesmo ouro que os seus braços haviam desenterrado, e secando assim na sua origem um dos primeiros mananciais da Coroa e do Estado. Estimulado, pois desta fatal experiência e do sincero e ardentíssimo desejo de me dar todo ao serviço de Vossa Alteza Real, me subministrou o meu zelo a lembrança de traduzir para a Língua Portuguesa o Tratado que sobre as moléstias dos Negros ordenara e escrevera na Ilha de São Domingos o Mr. Dazille; obra que tendo merecido a aprovação e os louvores de uma Nação tão ilustre, como iluminada enquanto não desvairou da Razão, e de sua nativa lealdade, me serviu de guia na minha prática, e a qual, divulgada por meio deste tratado, pode vir a ser de muito uso em todo o Estado do Brasil, onde, pela analogia de muitas circunstâncias físicas e morais são aplicáveis às observações e às doutrinas de seu Autor; e onde a dificuldade de recursos, pelas imensas distâncias que separam os seus habitantes, e pela raridade de médicos, fazem que pela maior parte o seja um em sua casa. Creio, SENHOR, outra vez o digo, creio ter feito a vossa Alteza Real um agradável serviço, prestando, como cuido, à humanidade, na maior parte, na mais útil e a mais desvalida da população dos seus senhorios da América: e nesta confiança tomo a liberdade de pedir a Vossa Alteza Real licença para dedicar-lhe o meu gostoso trabalho. Se Vossa Alteza Real, aceitando este cordial tributo do meu fiel e humilde obsequio, se dignar de aprovar o meu zelo, eu me darei por bem pago na ventura de ter acertado em agradar o melhor dos Príncipes.”



(1) DAZILLE, Jean Barthélemy. Observações sobre as enfermidades dos negros. Trad., Antônio José Vieira de Carvalho. Lisboa: Tipografia Arco do Cego. 1801.         

O atalaiense, Eng.º Luís Gomes de Carvalho

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Nasceu em 15 de Abril de 1771, em Atalaia, Vila Nova da Barquinha, e faleceu em 17 de Junho de 1826, em Leiria.
Foi engenheiro militar. Efetuou levantamentos topográficos em Trás-os-Montes e nos castelos principais da fronteira portuguesa: Outeiro, Vimioso, Bragança, Montalegre e Monforte, e executou a “Carta topographica da parte da provincia de Trás os Montes compreendida entre o Douro e o Sabor até Bragança”. Completou a planta de Bragança e de Chaves, com muitas similitudes com a anteriormente levantada, que tinha anexa a do castelo, três vezes mais detalhada.
Foi responsável pela obra da Barra e do porto de Aveiro. O assoreamento estava a matar a cidade e provocava uma grave insalubridade nas áreas pantanosas que não deixam as águas do mar entrar no interior. Por estudos exaustivos levados por si levados a cabo, em 3 de Abril de 1808, abriu a Barra, num local estrategicamente definido. Com a construção do molho sul, sobre a sua direção, pretendeu normalizar as correntes, a fim de manter o canal de acesso à Ria sempre desimpedido, de modo a facilitar o escoamento das águas interiores. Estudou a bacia da ria quanto às marés, a sua cartografia, o movimento das ondas e dos ventos.
D. José I, a 27 de Maio de 1756, atendendo às reclamações dos nossos antepassados, resolveu criar a Superintendência da Barra e lançar o imposto do real para ser pago por todas as Câmaras da Comarca de Esgueira, a fim de se custearem as despesas com a abertura de uma nova barra em São Jacinto.
Os trabalhos não se puderam então fazer, devido a uma grande cheia: as ilhas e as salinas da ria, os campos do Vouga e os bairros baixos de Aveiro ficaram inundados por muito tempo; as águas represadas causaram enormes danos. Apenas em Janeiro de 1757 o  capitão-mor de Ílhavo, que era o aveirense João de Sousa Ribeiro da Silveira, foi autorizado a abrir um regueirão na areia, onde antes, na Vagueira, tinha estado a barra; mas tudo isto se tornava muito precário.
Doze anos após, o Senado Municipal representou a El-Rei sobre a falta de estabilidade e de segurança da barra; e a este pedido outros mais se seguiram, pois os infortúnios ocasionados sobressaltavam constantemente a região. Os aveirenses e a sua Câmara não desistiram das pretensões sobre a abertura de uma barra capaz; por isso, a 16 de Abril de 1794, a Câmara encarregava o Dr. Manuel Joaquim Lopes Negrão de conseguir do Príncipe Regente, mais tarde D. João VI, as providências necessárias para a efectivação das desejadas obras.
Ante a miséria geral e as doenças que dizimavam a população, a 2 de Janeiro de 1802, o ministro D. Rodrigo de Sousa Coutinho, depois Conde de Olivares, encarregava os engenheiros Coronel Reinaldo Oudinot e Capitão Luís Gomes de Carvalho de separadamente procederem a estudas para a abertura da nova barra, os quais desistiram do sítio da Vagueira e escolheram um outro perto de São Jacinto, próximo da anterior localização no século XVI, a 17600 metros a norte da barra velha. O Eng.º Oudinot enviaria ao Governo o seu projecto a 6 de Março; e a 17 de Abril o Eng.º Gomes de Carvalho remeteria a sua «Memória descritiva ou notícia circunstanciada do plano e processo dos efectivos trabalhos hidráulicos empregados na abertura da barra de Aveiro segundo as ordens de S. A. R. o príncipe Regente Nosso Senhor».
Entretanto, os homens de Aveiro estavam impacientes por via da insalubridade das águas pantanosas da laguna, pelo prejuízo na feitura do sal e pelas inundações na cidade. A própria Confraria de S. Miguel resolveu a 7 de Fevereiro de 1802, já após aquela decisão superior, que, no primeiro ano depois da abertura da barra nova, se desse a Sua Alteza Real a terça parte líquida do sal das suas marinhas, «como prova de gratidão pela munificência que por essa obra havia tido aquele Príncipe». E a 8 de Abril o Príncipe Regente ordenava a demolição das antigas muralhas de Aveiro, que ameaçavam ruína, devendo utilizar-se a pedra nas obras da barra; diríamos hoje que foi uma triste decisão que as condições do tempo obrigaram a tomar.
Os planos definitivos dos dois engenheiros, essencialmente idênticos, foram aprovados pelo Príncipe D. João; recebida a comunicação em aviso régio de 5 de Julho do mesmo ano, logo se começaram a executar os trabalhos. Em Dezembro de 1803, estando eles em andamento, Oudinot foi transferido para a Ilha da Madeira, onde faleceu em 1807; continuou a dirigir as obras o citado Eng.º Luís Gomes de Carvalho.
Após porfiados esforços, não sem graves desgostos e contrariedades, a abertura final da barra nova, facto de excepcionaI importância para o progresso de Aveiro, realizou-se no dia 3 de Abril de 1808, às sete horas da tarde. Do acontecimento lavrou-se um auto, que tem a data de 15 de Abril e foi subscrito por Miguel Joaquim Pereira da Silva; depois de referir os trabalhos preparatórios e a maneira como se deu o rompimento da duna de areia, lê-se no documento: – «As águas que cobriam as ruas da praça, desta / 28 / cidade, e os bairros do Alboi e da Praia, abaixaram três palmos de altura dentro de vinte e quatro horas e outro tanto em o seguinte espaço, e em menos de três dias já não havia água pelas ruas [...] e toda a cidade ficou respirando melhor ar por estas providências com que o Céu se dignou socorrê-la e a seus habitantes com esta grande obra da barra».(1)
Existe uma rua em Aveiro com o seu nome: Eng.º Luis Gomes de Carvalho.
Tem publicados vários projetos, estudos e obras.
Em 1820 fez um plano de melhoramento das condições de acesso à barra do Douro e dirigiu a construção de um dique de 600 metros, na extremidade norte do Cabedelo, hoje designado pelo seu nome (2).
Um notável engenheiro nascido na nossa terra e que pelo presente escrito dou a conhecer a sua obra.

(1) Pe. João Gonçalves Gaspar, Aveiro e o seu Distrito, n.º 19, Junho de 1975
(2) Jesus, Maria Eduarda Rodrigues Vieira. Morfodinâmica do Cabedelo da Foz do Rio Douro. Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, 2003


Mapa da Biblioteca Nacional de Portugal - CARVALHO, Luís Gomes de, fl. 1803-1829 - Mappa da Ria de Aveiro para intelligencia do plano da abertura da nova barra / por Luiz Gomes de Carvalho ; sculp. Queiroz. - Escala [ca 1:59000], 3000 Braças = [11,20 cm]. - [Lisboa : na Impressão Regia, 1813]. - 1 mapa : gravura, p&b ; 23,70x67,20 cm, em folha de 26,60x69,50 cm

O atalaiense, Custódio Maldonado Freitas

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Natural da freguesia de Atalaia, concelho de Vila Nova da Barquinha, nasceu nesta terra em 13 de Julho de 1886 e veio a falecer na cidade das Caldas da Rainha, com 78 anos, em 15 de Abril de 1964.
Licenciou-se em Farmácia no Porto, em 1886.
Estabelece-se na cidade das Caldas da Rainha por volta de 1905.
Quando é proclamada a República, em 1910, já Custódio Maldonado Freitas tem ali instalado a sua farmácia naquela cidade, à data em franco desenvolvimento.
Com fortes e convictas ideias republicanas, membro maçónico, da qual se manterá até à sua morte é um adepto indefectível da carbonária. Ainda no período da monarquia é preso durante setenta dias. Nada, porém, o desvia nem faz abafar as suas convicções republicanas, pelo que vem a ter acção destacada na proclamação da República.   
Em 1911 fez parte duma comissão para a aprovação da Lei da separação da Igreja do Estado
Em 1913, por Portaria é nomeado para Vice-Presidente do Conselho Administrativo das Caldas da Rainha assumindo a presidência a 30 de Setembro desse ano.
Na Rotunda de Caldas, em 1915, lidera um grupo de marinheiros, conseguindo a devolução da Câmara aos Republicanos.
Em 1915 era extinto o semanário “Viroscas” após os tumultos que se verificaram no dia 2 de Abril desse ano, nas Caldas: “Houve troca de tiros ao cimo da Praça da República, depois de uma procissão bastante concorrida nessa Sexta-feira de Paixão, entre sujeitos ligados ao Partido Democrático e ao Partido Republicano Evolucionista, resultando num morto afecto a este último partido”.
Por causa deste facto, foram enviados para a prisão do Limoeiro, em Lisboa, alguns nomes afectos ao Partido Democrático, como Custódio Maldonado Freitas e José dos Santos Germano (partindo os disparos mortais deste último), bem como outros correligionários como Amândio de Carvalho, António Alves Cunha, Branco Lisboa, Etelvino dos Santos, Joaquim José de Sousa, José Rodrigues, Salvador Sousa de Figueiredo e António Lopes de Oliveira. “Este último foi o fornecedor das bombas encontradas na redacção de O Defensor, jornal local afecto ao Partido Democrático” … “o povo, supondo que o líder dos distúrbios fosse o farmacêutico Custódio Maldonado Freitas, se dirigiu à sua farmácia, intimando-o a abandonar as Caldas”, mas Maldonado Freitas subiu ao telhado, “alimentando uma luta que se seguiu com bombas de dinamite e tiros”, disse. O grupo de cidadãos acabou por entrar na farmácia e na redacção de O Defensor, “provocando estragos”. Quanto ao farmacêutico, “foi descoberto no dia seguinte dentro de uma chaminé num prédio vizinho, pelas forças militares e da Guarda Republicana, que se deslocaram às Caldas”.
Em Janeiro de 1919 a Comissão Administrativa da Câmara Municipal passa a ser presidida por Custódio Maldonado Freitas.
Nesse ano em Agosto assume a Presidência da Comissão Administrativa do Hospital das Caldas.
Em 13 de Abril de 1921 torna-se sócio gerente da empresa de Limas União Féteira, Lda.
Foi presidente da Comissão Concelhia dos Bens da Igreja.
Criou e dirigiu os Jornais o “Direito do Povo” e o “Regionalista”.
Em 1930, possui-a uma Farmácia na vila de Óbidos.
O atentado ocorrido contra a linha férrea e telegráfica em Pataias, no dia 13 de Janeiro de 1931, envolveu personalidades do meio sociopolítico tendo sido referenciado pela polícia política Custódio Maldonado de Freitas, farmacêutico, das Caldas da Rainha.
Voltou ao cárcere entre 21 de Março de 1947 a 24 de Abril de 1948.
Do seu casamento com Margarida Pereira de Sousa Freitas nasceram 5 filhos, o primeiro António Maldonado Freitas, nascido em 1910, e já falecido, foi um destacado dirigente do Partido Socialista. O segundo com o mesmo nome do pai, também já falecido, foi membro do PCP e fundador do MDP-CDE, de que fui destacado militante.

Fontes:


Origens Geográficas dos Açorianos

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Hoje fui surpreendido pela chegada de uma encomenda com origem nos Açores.
Aberta a mesma deparei com uma obra de Carlos Melo Bento (1)
A obra é um trabalho de investigação e de identificação dos primeiros povoadores das ilhas açorianas.  Conseguiu identificar 281 pessoas com a sua origem geográfica num trabalho que fica para a memória futura daquelas ilhas tão belas.
Rezava a história que os portugueses começaram a povoar as ilhas por volta 1432, oriundos principalmente do Algarve, do Alentejo, da Estremadura e do Minho. O autor defende que as datas iniciais são os anos de 1439, 1444 e 1474, e os primeiros povoadores vieram do Porto, Lisboa, Guimarães, Beira, Alentejo, Entre o Douro e Minho, Algarve, Ribatejo, Trás-os-Montes e Estremadura, sendo identificados pelo nome e sua genealogia. 
Uma obra que vou ler com toda a atenção ademais quando na obra 6 páginas são fruto da minha investigação e do António Roldão contando, ainda, com a ajuda do Manuel João. Da nossa parte demos a informação que tínhamos e, certamente, contribuímos para que a história dos açorianos seja mais rica.


  (1) Autor de diversas obras, no campo da Arqueologia e História dos Açores. Medalha de Honra da Ordem dos Advogados Portugueses e ex-presidente do Concelho Deontológico e Conselho Distrital dos Açores da Ordem dos Advogados.

Apresentado o livro “Os Maias da Atalaia” de José Mota Maia

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"José Mota Maia, engenheiro de formação, apresentou este domingo na Casa do Patriarca na Atalaia o seu livro “Os Maias da Atalaia”, “um livro de histórias centradas numa família Maia que passou por esta Vila Velha de Atalaia”, como definiu o general e engenheiro António Maia Mascarenhas que fez a apresentação do autor e da obra.
Antes do autor falar sobre o seu livro, Fernando Freire, Presidente da Câmara de Vila Nova da Barquinha, felicitou o autor pela iniciativa de escrever sobre a Atalaia, aquela que é a sua Vila de adoção e sobre a qual, também ele está a escrever um livro, que iniciou há 6 anos e já tem 360 páginas escritas.
Na mesa de honra estiveram para além dos oradores, Elisabete (Betinha) Maia, prima do autor e organizadora do evento e o Presidente da Junta de Freguesia de Atalaia, Manuel Maria Honório.
José Mota Maia, com um entusiasmo de quem tem o livro que acabou de lançar na alma, revelou algumas das histórias e facetas da obra, “para aguçar o apetite” a quem vai adquirir o seu livro, “que deve ser lido nas calmas e sem pressas”, e que revela muito da história da Velha Vila da Atalaia, uma das mais antigas da península ibérica.
Depois da sessão de autógrafos foi servido um lanche aos convidados, no bonito espaço da Casa do Patriarca."


In Entroncamento online
http://www.entroncamentoonline.pt/portal/artigo/apresentado-o-livro-%E2%80%9Cos-maias-da-atalaia%E2%80%9D-d

O turismo em Vila Nova da Barquinha

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Verificou-se no ano de 2015, na região centro, um crescimento de 15% de turistas. Estamos a trabalhar para que os resultados de 2016 sejam, ainda melhores. O turismo cultural na nossa região, como é público e notório, é um dos segmentos crescentes e uma indústria atrativa dado o seu estímulo à atividade cultural e o seu papel inegável na economia local com a prática reiterada de atos de comércio, que geram enorme riqueza.
O “fatalismo” que marcou durante décadas a promoção da cultura no nosso território está, nos dias de hoje, superado.
Nas margens da Barquinha, junto do rio Tejo, outrora um local subaproveitado, onde em tempos de antanho, era praticada a agricultura, nasceu um Parque Ribeirinho com 7 hectares, ao qual foi atribuído o Prémio Nacional de Arquitetura Paisagista em 2007. Desde a sua inauguração, visitaram o Parque milhares de pessoas, quer pela zona envolvente e proximidade do rio, quer pelas condições dos cais onde chegam milhares de canoas que descem o Tejo, quer pelas zonas de lazer, parque de merendas e quiosques inseridos em sombras de árvores centenárias, quer pelo espaço onde as crianças podem brincar em liberdade plena.
Entretanto, foram criados à volta do parque infraestruturas para acompanhar o fluxo de pessoas de que são exemplo o posto de turismo, loja, quiosques, cervejaria, centro náutico, hotéis, alojamento rural, banco, clínica, loja do cidadão, escola de música, etc.
Em 2012, tendo em vista a regeneração urbana da vila, foi criado o Parque de Escultura Contemporânea Almourol e a Galeria do Parque, um espaço para exposições gerido em parceria com a Fundação EDP. Nesse mesmo ano era criado o Centro Integrado de Educação em Ciências.
Em 2013 foi inaugurado o Centro de Estudos de Arte Contemporânea, em parceria com o Instituto Politécnico de Tomar, com ateliês de desenho e pintura, marionetes, teatro e fotografia/vídeo.
Em 2015 surgem as residências artísticas também resultantes da parceria com a Fundação EDP, e a Galeria de Santo António, junto da Igreja Matriz de Vila Nova da Barquinha.
Em 2016 começam a surgir as primeiras casas regeneradas. A aposta na regeneração urbana, com incentivos fiscais, é determinante para o crescimento e qualidade de vida em Vila Nova da Barquinha.
Também não foi olvidada a aposta na gastronomia, como produto turístico. Têm sido desenvolvidos anualmente eventos ligados aos recursos endógenos: “Mês do Sável e da Lampreia”, “Festival do Peixe do Rio” e “À mesa com azeite”.
Ademais, as particularidades naturais de Vila Nova da Barquinha proporcionam grande número de atividades desportivas pelo que, quer no rio (canoagem e motonáutica), quer no solo (BTT e caminhadas), quer no ar (paraquedismo e saltos tandem), vamos continuar a incentivar estas atividades de desporto e lazer.
Pensámos em valorizar e a preservar o Castelo de Almourol. Concluída a sua recente musealização, vamos avançar com beneficiações paisagísticas na ilha, bem como criar melhores condições de mobilidade para os turistas. A animação não será esquecida, pelo que durante o verão irão ocorrer eventos culturais ligados à época medieval – teatro e música.
Estamos a valorizar as visitas guiadas à Igreja da Atalaia.
Fizemos reuniões com os agentes económicos para criar sinergias de oferta de produtos em rede (gastronomia, alojamento, paraquedismo, hipismo, canoagem, etc.)
No dia 18 de fevereiro colocámos nas redes sociais o vídeo “Vila Nova da Barquinha – Terra de Sorrisos”, https://www.youtube.com/watch?v=ti8qfBLuDIM, que, após o seu lançamento, já atingiu 100.000 visualizações.
Certos estamos que valorizando o nosso potencial endógeno e preservando o património histórico, cultural e artístico estamos em condições de rentabilizar os nossos produtos e serviços (exportação) e rentabilizar o nosso património (turismo e cultura).

Vila Nova da Barquinha

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Pela sua localização geográfica junto ao nó da A23 com a  A13 e servido pela linha de caminhos-de-ferro, e pela sua história, o nosso concelho tem uma magnífica centralidade e é detentor de um vasto e rico património natural, arqueológico e arquitetónico.
No período da Reconquista Cristã, foram aqui erguidas fortificações, cujo melhor exemplo é o Castelo de Almourol, monumento que é o nosso ex-líbris, assim como a Igreja Matriz de Atalaia, edificada em 1528, uma obra de João de Ruão e João de Castilho, construtores com 3 edificações premiadas pela Unesco e que constam da Lista do Património Mundial: Mosteiro da Serra do Pilar, Convento de Cristo e Mosteiro dos Jerónimos.
A beleza das margens ribeirinhas do Rio Tejo, desde o Cafuz até à Cardiga, oferecem ao visitante a possibilidade descobrir um território de rara beleza patrimonial e natural. Desde os estaleiros donde partiu a armada para a conquista do norte de África em 1415, passando pela Foz do Zêzere, Praia do Ribatejo, Almourol, Tancos e Parque Ribeirinho, há abundante fauna e flora para encontrar e apreciar as belíssimas paisagens rurais e ribeirinhas.
Mas “ninguém ama o que desconhece”. Portanto, temos de perceber que a valorização do património arqueológico, edificado, móvel e integrado, imaterial e paisagístico, e até do rico associativismo presente nas nossas comunidades são um recurso económico que deve ser aproveitado, divulgado e valorizado.
É isso que está a acontecer neste mês de junho nosso concelho.
Foi a festa Kuri Kuri, o Campeonato Nacional de Motonáutica, a Feira do Tejo, o Campeonato Nacional de Canoagem, a Festa Templária em Almourol, que trouxeram milhares de visitantes ao nosso concelho e à nossa região.
Isso implica promover a animação e a implementação de eventos de desenvolvimento de iniciativa e base local, regional e nacional. O nosso concelho constitui-se como um território onde importa continuar a dinamizar a cultura e o lazer, onde interessa fortalecer as associações – as nossas forças vivas – estimulando o seu funcionamento em rede.
Só com a promoção e realização de eventos regulares de dimensão regional e nacional podemos contribuir para o incremento de oportunidades oferecidas à comunidade, à restauração e ao turismo e dar a conhecer aquilo que amamos.

Vila Nova da Barquinha

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O contexto geográfico e histórico da Barquinha é favorecido pelo cruzamento de eixos principais de autoestradas e caminhos-de-ferro. Isso potencia a sua integração em rotas turísticas nacionais ou internacionais, como é exemplo a rota dos Caminhos de Santiago (no monumento nacional – Igreja da Atalaia), Rota dos Templários (no monumento nacional – Castelo de Almourol), e o Museu Nacional Ferroviário, na cidade do Entroncamento. Estes monumentos, e o museu, representam um potencial de alavancagem do turismo no nosso território que aproveita as sinergias e as complementaridades de produtos endógenos já estabilizados e reconhecidos pelos diferentes operadores turísticos.
Temos, no nosso concelho, vários estabelecimentos de turismo em espaço rural, com 118 camas no total, segundo os últimos dados do Turismo do Centro. Estes novos dados revelam uma potencial de oferta de alojamento em espaço monumental e natural com notável proeminência para os rios Zêzere e Tejo. Revelam, ainda, a capacidade do turismo temático (percursos pedestres, canoagem, BTT, etc.) que percorre as freguesias da Praia do Ribatejo, Tancos, Barquinha e Atalaia.
A congruência estrutural de uma educação de excelência no concelho, na sequência dos avanços obtidos por via da requalificação física do nosso parque escolar; a aposta contínua na temática “Barquinha é Ciência e Arte” que tem vindo a ser adotada como desígnio estratégico para as nossas Escolas; a criação do Parque de Esculturas Contemporânea Almourol; a fruição artística do Parque, com o Centro de Estudos de Arte Contemporânea e a residência de artistas e, no ano de 2017, o alargamento do projeto das artes às freguesias, numa parceria com a Fundação EDP, são fatores de desenvolvimento que devemos relevar e estimular.
A reabilitação urbana tem sido também um dos eixos prioritários de desenvolvimento para o Município, com a sensibilização dos proprietários para o seu dever de conservaçã
o dos imóveis e com a realização de levantamentos das construções degradadas, com a cedência de incentivos fiscais para quem recuperar, e agravamento para quem não conservar. O trabalho da Divisão Municipal de Serviços Técnicos em conjunto com o Gabinete de Apoio e Desenvolvimento ao Empreendedorismo Local (GADEL) nos investimentos em áreas de atividades económicas, agrícolas e não agrícolas, tem sido inexcedível.
Com a aprovação do recente Plano de Ação de Regeneração Urbana (PARU) e com intervenções já asseguradas com fundos comunitários, na reabilitação do espaço público – na Rua da Misericórdia, Praça República, Largo José da Cruz/Largo Marechal Carmona e na reabilitação integral de imóveis com mais de 30 anos, atualmente devolutos, vamos instalar um Ninho Empresas e lojas de produtos locais – estamos, assim, a combater as fragilidades do espaço público do centro histórico da vila e a incentivar os privados a recuperar os seus imóveis. Podemos acrescentar que registamos com grande agrado uma estimulante revitalização do edificado privado.
Desejamos um concelho com um modelo híbrido de povoamento, que integra realidades urbanas e rurais numa interação que deverá aprofundar os objetivos da revitalização económica e da sustentabilidade da vivência campestre.
Vila Nova da Barquinha tem vindo a ser reconhecida como zona cultural, com qualidade de vida e com uma relação equilibrada com a natureza. Queremos continuar a apostar num lugar cultural diferenciado, coeso e com espaços de oportunidades de negócio, capaz de afirmar e gerar vida urbana e rural com qualidade de vida e bem-estar.

A Padroeira da Atalaia

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A Assunção de Nossa Senhora ao céu é celebrada anualmente a 15 de agosto, data escolhida, também, para ser o dia da freguesia da Atalaia.
Acontece que em 24 de dezembro de 2012 escrevi um artigo neste blog "Desde quando existem templos religiosos na Vila da Atalaia?" - , vide http://atalaia-barquinha.blogspot.pt/2012/12/os-templos-religiosos-na-atalaia.htmlonde referi que: "Outra questão deveras curiosa é a questão da padroeira da Atalaia.
Hoje temos por designação que é Nossa Senhora da Assunção. Porém, a imagem de pedra, de boa escultura, atribuível a Diogo Pires, o Velho, que assenta numa mísula renascença, figura proeminente na sua capela-mor da Igreja da Atalaia é Nossa Senhora com o menino ao colo e, seguramente, não é a padroeira. Conforme escreveu Frei Agostinho da Santa Maria no Santuário Mariano, “a sua forma não diz com o mistério, porque tem sobre o braço esquerdo o Menino-Deus”. Assim, apesar da sua beleza, é descabido denominar-se de padroeira a imagem da escultura de pedra do altar-mor. Esta é, seguramente, Nossa Senhora da Atalaia. Singular é referir que nos painéis de azulejos inferiores há duas imagens da Virgem que caracterizam o novo oráculo e o antigo, Nossa Sr.ª da Rosário, o antigo, e Nossa Sr.ª da Assunção, o novo. Porque será que a Padroeira foi relegada para 2.º plano? Não sei responder. Certo é que a fundação e o povoamento de Portugal coincidiram com um grande devoção mariana motivada pelo ideal da idade média de exaltação da mulher, cujo exemplo perfeito era a Virgem Maria.
Por conseguinte seria lógico que Maria Santíssima fosse escolhida para padroeira de quase metade das igrejas das terras sucessivamente incorporadas no território português e que, também, a nossa Igreja da Atalaia lhe seja dedicada."
Agora, a Prof. Manuela Poitout, a trabalhar numa obra sobre a cronologia do Entroncamento (então Casal da Vaginhas) facultou-me  cópia de  um registo baptismal  de 1549, já referenciado pelo Dr. Luís Batista, deveras interessante para esta temática e que passo a transcrever:
“Aos 8 dias do mês (de) deze(m)bro da era de 1549 anos bautizei / Eu joão da Rosa cura a Simoa f(ilh)a de fernão p(e)r(e)z E de sua molher briatiz g(onça)ll(ve)z moradores nos casais das bajinhas/ E forão padrinhos E madrinhas luis a(fons)o e lianor Simoa / E c(atharin)a f(e)r(nande)z todos fregueses de nossa Sen(n)ora d’atalaia. (Primeiro Livro de Registo de Baptismos da Paróquia da Atalaia).”
Assim, temos por certo que no ano de 1549 a padroeira era nossa Senhora da Atalaia facto que não deve ter passado despercebido, em 1941, aos técnicos da Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais que colocaram a imagem da Nossa Senhora da Atalaia no lugar central, no altar mor, daquele monumento nacional e Nossa Senhora da Assunção num lugar lateral.
Sabemos que a grande maioria dos títulos atribuídos a Nossa Senhora tem a sua origem na veneração popular. Nossa Senhora da Atalaia ou Nossa Senhora da Assunção, estas duas qualificações dizem respeito à mesma pessoa que é a Virgem Maria,  Mãe de Jesus Cristo, e que desde tempos ancestrais vem sendo venerada pelos Atalaienses. Também estes no dia 15 de agosto de 2017 disseram, mais uma vez, presente!

António José Vieira de Carvalho, nasceu em Atalaia, Vila Nova da Barquinha, em 1781

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Figura 1 - Carta Regia
“Bernardo José de Lorena, Governador e Capitão General da Capitania de Minas Gerais. Amigo. Eu o Príncipe Regente vos envio muito saudar. Atendendo a grande falta que há de Cirurgiões hábeis, e inteligentes nessa Capitania, por nela não haver Aulas Públicas, em que se expliquem as doutrinas respectivas a esta Faculdade; e conformando-me com o vosso parecer, e do vosso Antecessor, constantes dos ofícios, que subiram à Minha Real Presença com datas de vinte e quatro de maio, e sete de outubro de mil setecentos e noventa e sete: sou servido estabelecer no Hospital de Vila Rica uma Cadeira, Anatomia e Arte Obstetrícia; nomeando para ela o atual cirurgião-mor do Regimento de Cavalaria de Minas Gerais, Antônio José Vieira de Carvalho, por nele concorrerem as circunstâncias, e requisitos necessários, para bem reger a dita Cadeira, ao qual estabelecerei o competente ordenado, que deve ser pago pela Junta da Fazenda dessa Capitania. Escrita no Palácio de Queluz aos dezessete de junho de mil oitocentos e um.”
Príncipe.

Figura 2 - Folha de Rosto de livro - Observações sobre as Enfermidades dos Negros: suas causas, seus tratamentos, e os meios de as prevenir. Leia-se: “…Traduzidas na língua portugueza, debaixo dos auspícios e ordem de Sua Alteza Real, o Príncipe Regente N. S., por Antônio José Vieira de Carvalho, cirurgião mór do regimento de Cavalleria Regular da Capitania de Minas Geraes; e lente de anatomia, cirurgia, e operações no Hospital Real Militar de Villa Rica…”.

António José Vieira de Carvalho nasceu em Atalaia, Vila Nova da Barquinha, em 1781. Aos 27 anos de idade, iniciou-se como ajudante de cirurgião-mor. Além da Medicina, Carvalho era proprietário de uma fábrica de cerâmica em Saramenha.
Segundo documentação do Arquivo Ultramarino de Lisboa, o Governador Lorena o possuía em muito apreço, o que favoreceu sua nomeação em 1801 (Pieruccetti F. Em Minas, o início do ensino médico no Brasil. Ver Med Minas Gerais. 1992; 2(3):191-4)
Curiosamente, e talvez como retribuição da Coroa à tradução, a nomeação de Carvalho ocorreu no mesmo ano da publicação da versão portuguesa da obra de Dazille (Eugênio A. Ilustração, escravidão e as condições de saúde dos escravos no Novo Mundo. Varia História. 2009; 25(41):227-44.)
Jean-Barthélemy Dazille, cirurgião francês das tropas na ilha de São Domingos, teve seu livro “Observações sobre as Enfermidades dos Negros: suas causas, seus tratamentos, e os meios de as prevenir” publicado em Paris em 1776 pela Coroa Francesa. E 25 anos depois, Carvalho, com o patrocínio da Coroa portuguesa, lançou a tradução do mesmo em Lisboa. (Nogueira A. Universos coloniais e ‘enfermidades dos negros’ pelos cirurgiões régios Dazille e Vieira de Carvalho. Hist Ciências Saúde – Manguinhos. 2012; 19:179-96).
No espaço colonial francês, o manual de Dazzile, escrito com base na sua experiência profissional em São Domingos, destacou-se por ser um dos primeiros textos médicos cujos conhecimentos poderiam contribuir para a diminuição dos altos índices de mortalidade dos escravos. Dazille tentava fazer os colonos reconhecerem que a diminuição desses índices dependeria da sua compreensão da necessidade da humanização dos seus métodos de exploração do trabalho escravo. (Eugênio A. Ilustração, escravidão e as condições de saúde dos escravos no Novo Mundo. Varia História. 2009; 25(41):227-44.)

Vieira de Carvalho era leitor atualizado e cosmopolita (falecido em 1818, o testamento13 do cirurgião inclui biblioteca com 127 títulos de importância crucial para a Medicina da época), sendo que, movido pelas mesmas preocupações de Dazille, deixa claro – em nota inicial de sua tradução – que não apenas a alta mortalidade dos escravos, mas também o sofrimento destes, eram fatores que justificavam seu impresso: Felizmente o meu destino me havia levado a occupar nas Minas Geraes o emprego de Cirurgião Mór do Regimento de Cavalleria, que guarnece a Capital daquella Capitania; onde exercendo, a par da minha profissão, a Medicina prática, pude vêr com os meus mesmos olhos, quanto a especie humana soffre na inumerável multidaõ dos Negros, que alli transporta a escravidaõ, e o commercio. A mudança de clima; a differença de tratamento; hum trabalho continuo, e desmedido; e até a fome raríssimas vezes interrompida; junto à triste consideração do seu penoso estado, saõ outras tantas causas das singulares e gravissimas enfermidades, a que he sujeita entre nós esta raça desaventurada de homens; e que fazendo-lhes a vida pezada, e adiantando-lhes a morte, levaõ à sepultura o melhor dos cabedaes daquella, e das outras Colonias da America Portugueza; enterrando com elles o mesmo ouro, que os seus braços haviaõ desenterrado; e seccando assim na sua origem hum dos primeiros mananciaes das riquezas da Coroa, e do Estado. Estimulado pois desta fatal experiencia, e do sincero, e ardentissimo desejo de me dar todo ao serviço de Vossa Alteza Real, me subministrou o meu zelo a lembrança de traduzir para a Lingua Portugueza o Tractado […].
Ancorado na sua experiência em terras coloniais e também em conhecimento teórico, António não se contentou em ser mero tradutor da obra do cirurgião francês. Ao longo das páginas de “Observações sobre as Enfermidades dos Negros”, Carvalho introduziu notas explicativas, ambientando o leitor ao contexto das Gerais. Como exemplo, quando Dazille comenta que a alimentação dos negros era baseada em raiz de mandioca pisada e geralmente malcozida, Carvalho expõe que: No Brazil, especialmente em Minas Geraes usaõ os Negros de differente alimento por que em lugar da mandioca, elles tem o milho, que depois de moído em moinhos proprios, e peneirado o cozem simplesmente com água, mexendo-o atè o ponto de se formar huma massa em boa consistencia, a que chamaõ angù […]. Há também notas em que Carvalho dialoga sobre sua experiência na prática cirúrgica e de dissecação. Por meio de suas observações, Vieira de Carvalho deixa-se indiretamente classificar como profissional que atua em causa da humanidade, numa postura típica das fronteiras do Iluminismo. Porém, diferentemente dos objetivos humanísticos e científicos do cirurgião, sustenta-se a ideia de que a Coroa Portuguesa objetivava, tanto com o apoio à tradução da obra quanto com a criação das Aulas de Anatomia de Vila Rica, apenas aumentar o tempo de vida útil dos escravos, tentando evitar um colapso da mão-de-obra colonial em momento no qual o comércio mundial era desconexo com o tráfico escravocrata. Esse momento culmina, inclusive, com a proibição do Tráfico Negreiro em 1850, pela Lei Eusébio de Queirós. 

Transcrição da Obra: História da Medicina - Antecedentes Históricos do Curso de Medicina da Universidade Federal de Ouro Preto
Historical background of the Course of Medicine at the Federal University of Ouro Preto Márcio Antônio Moreira Galvão, Breno Bernardes de Souza
DOI: 10.5935/2238-3182.20140110



Livro de Atalaiense publicado no Brasil

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Paulo Rogério Ayres Lage publica, no próximo dia 26 de outubro, em Ouro Preto, Brasil, o livro “A vida e a obra de Antônio José Vieira de Carvalho, Cirurgião-Mor do Regimento de Cavalaria Regular da Capitania de Minas Gerais, Primeiro Professor de Anatomia, Cirurgia e Arte Obstetrícia do Brasil no Hospital Real Militar de Vila Rica”.
Filho de José Gomes Vieira e Catharina Roza. Nascido em 1756 em Atalaia, Vila Nova da Barquinha, além de cirurgião, Vieira de Carvalho foi também um empreendedor, tendo-se aventurado na mineração e criado a Cerâmica Saramenha. “Cada detalhe do livro - o tamanho caudaloso e apresentação gráfica do título, que nos remete de imediato aos livros portugueses do século XVIII; o projeto gráfico primoroso e a cuidadosa produção de belíssimas ilustrações nos mostra, sem sombra de dúvida, que temos em mão uma delicada jóia da bibliografia. Por tudo isso, este é um livro precioso, desde já destinado a ocupar um lugar de destaque na historiografia mineira - Amílcar Vianna Martins Filho”

Centro de Interpretação Templário de Almourol

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Portugal teve um papel protagonista no mundo durante séculos a fio, criando monumentos, gerando rotas, emigração de gentes, mutuação de fauna e de flora.
Essa epopeia mudou o mundo deixando vestígios em todos os continentes.
Vila Nova da Barquinha tem na sua génese o gosto pela coisa militar. Desde os primórdios da nacionalidade, na reconquista, com o Castelo de Almourol, reconstruído por Gualdim Pais em 1171. No século XV, com Frei Gonçalo Velho, Comendador de Almourol e da Cardiga, que mandou construir na foz do Zêzere, as primeiras galeotas que partiram à descoberta dos Açores. No século XIX, no Polígono Militar de Tancos, com os pontoneiros. No século XX, com o Corpo Expedicionário Português (CEP) protagonista do “Milagre de Tancos” e da “Cidade de Paulona”, com a arma de Engenharia e a sua Escola Prática, com a Força Aérea (ex-Base Aérea n.º 3) e as Tropas Paraquedistas que completaram 62 anos de presença no nosso concelho.
Viveram neste território milhares e milhares de cidadãos que cumpriram a sua missão ao serviço da Pátria e que, com saudade, recordam esses tempos.
A este trajeto coletivo, assente nos laços hodiernos de familiaridade e de estima, somamos o campo institucional da defesa da causa pública, princípios e valores que, quer a instituição militar quer o Município partilham e comungam.
Assim, quando, em 2010, foi um dos desafiados para fazer parte do Projeto “Turismo Militar” para posterior feitura de uma Carta Nacional, abracei tal ideia por entender que esta matéria era estratégica para Vila Nova da Barquinha, para a região e para Portugal.
Entretanto, está a concluí-se a requalificação da ilha e do Castelo de Almourol.
Em 2018 foi aprovada, pelo Turismo de Portugal, a candidatura ao “Centro de Interpretação Templário de Almourol”, o único espaço sobre esta temática, em Portugal. De imediato foi elaborada uma estratégia museográfica que incluiu achados em Almourol, exibição, museografia e conteúdos, trabalhos sob a curadoria do Profº, Manuel J. Gandra, e que se encontram concluídos.
A sua inauguração irá ocorrer no dia 18 de novembro.



Centro de Interpretação Templario de Almourol - Abertura

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O Castelo de Almourol, Gualdim Pais e a Cavalaria espiritual
Centro de Interpretação Templário - de 18 de novembro de 2018 a abril de 2019
Esta região afirmou-se na história de Portugal devido à sua importância estratégica, quer pelo atravessamento de boas vias de comunicação, de que são exemplo as vias romanas e as estradas reais, quer pela complexidade dos tráfegos comerciais realizados através do rio Zêzere e Tejo. Este último, “pelo qual se vai para o mundo” parafraseando Fernando Pessoa, é símbolo de grandeza e de missão histórica de Portugal.
Junto a ele construiu a Ordem do Templo o Castelo de Ozêzere, o Castelo de Almourol, o Castelo da Cardiga, a Torre do Pinheiro Grande e a Torre da Atalaia. Gualdim Pais, o Grão-Mestre dos Templários, fez destas posições o centro nevrálgico da expansão de Portugal para sul.
“Tagus, Tejus, Tejo. Muitos nomes, um mesmo rio.
Fenícios, Cartagineses, Romanos e Árabes rasgaram as suas águas, fazendo dele uma estrada de eleição (...) A história do Tejo é uma história milenar de que a maioria dos mortais apenas pode fazer vagas suposições, muitas delas baseadas no saber adquirido pela experiência de ver os elementos a interagirem com o rio e com a terra. Ao longo de séculos, os homens sulcaram as suas águas, fintado a sua braveza, servindo-se do obstáculo que constitui para definirem fronteiras e barreiras contra exércitos, inimigos ocasionais e todo o tipo de perigos, alguns mesmo imaginários…”(1)
É também aqui que se inicia a epopeia dos descobrimentos. Estes só foram possíveis graças às pessoas, aos meios e às técnicas de navegação dos nossos antepassados. As primeiras viagens foram feitas em barcas e só mais tarde, já com embarcações robustas e capazes de navegar com
ventos contrários, as caravelas.
Proeminente nesta missão foi Gonçalo Velho, Comendador do Castelo de Almourol e da Quinta da Cardiga, corajoso cavaleiro da Ordem de Cristo, ousado mareante da Escola de Sagres e egrégio companheiro do Infante Dom Henrique, que construiu as primeiras embarcações na sua Comenda junto do Rio Zêzere, perto do lugar de Frade (atual Limeiras) e de Fernando Eanes (atual Outeiro) e daqui levou as nossas gentes para esta colossal epopeia, a expansão ultramarina.
É essencial para Vila Nova da Barquinha, e para os seus dirigentes autárquicos, perceber que a valorização do património é um recurso económico que deve ser aproveitado.
A cultura e o turismo têm um valor económico significativo, são um privilegiado campo de atuação, potenciadores de inovação e desenvolvimento.
Por ser ambicioso e original este Centro de Interpretação, contou com a prestimosa colaboração
do Turismo de Portugal e de instituições consagradas, o Exército Português e o Convento de Cristo. Importa verbalizar que o nosso território regional já está profundamente pensado sob diferentes ângulos de atuação, mas, infelizmente não dispõe, neste momento, de uma visão de conjunto fundamentada numa ampla e segura caracterização, permanentemente atualizada de modo a defender uma estratégia que passa por saber cativar os visitantes do Castelo de Almourol, do Convento de Cristo e da Torre Templária de Dornes, para que eles permaneçam na nossa região.
Certo é que “Ninguém ama o que desconhece”.
Dar a conhecer impõe-se como o primeiro ato devido a quem tem responsabilidades de decidir ou influenciar.
Dar a conhecer e desenvolver é também uma obrigação de serviço público autárquico e por isso estratégia da realidade em que se intervém.
O Centro de Interpretação que hoje inauguramos é um bom exemplo do dar a conhecer e do afeto das nossas gentes aos templários e ao desenvolvimento do Turismo Militar em Portugal.

(1)     IN “OS AUTOS DA BARQUINHA”, DE EMÍLIO MIRANDA

Castelo de Almourol

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Castelo de Almourol 
Manuel J. Gandra

A partir de 1169, os Templários tornaram-se detentores de um vastíssimo domínio que lhes deu o controlo de parte considerável do vale do Tejo, de uma das vias medievais mais concorridas, justamente aquela que  atravessava o vau do rio nas imediações da Cardiga e se dirigia para Coimbra pela Ladeia, bem assim como de vários dos caminhos que corriam de Leste para Santarém, paralelamente à margem direita do Tejo.
Esse amplíssimo território resultou da confirmação da doação de Tomar, concomitantemente com o prolongamento do domínio até ao curso do Tejo, mediante a concessão perpétua do castelo de Ozezar, ou Zêzere.
O teor do documento afonsino, que delimitou o dito termo, é o seguinte: “Em primeiro lugar pela foz do Beselga, e daí pela estrada que se chama de Penela, até Alfeigiadoa, e daí, pelo cimo do monte de Alfeigiadoa, pela vertente das águas do lado de Tancos, e daí, como o monte entra até ao fundo do pego de Almourol, e daí, pelo meio do Tejo até à foz do Zêzere, e daí, do Zêzere até à foz do Tomar [Nabão], e daí, pelo Tomar [Nabão], como vai até à foz do Beselga onde primeiramente fizemos começo.”
Ciente do valor estratégico do território em apreço, Gualdim Pais terá concretizado de imediato (1171-1172) um programa construtivo, decerto previamente delineado, edificando, ou reabilitando, os castelos do Zêzere, de Almourol, da Cardiga e do Pinheiro 1, e, igualmente, algumas torres com função semafórica (Atalaia, Santa Maria do Olival, Langalhão 2, Dornes, etc.), susceptíveis de alertar, em caso de necessidade, toda a região que integrava as bacias do Tejo, da Zêzere e do Nabão (então denominado rio Tomar).
O foral concedido em 1174 ao castelo de Ozezar decerto potenciou a instalação de significativa população residente, porventura de origem franca, a aquilatar pela onomástica das testemunhas que o avalizaram (Boninus, Broes, Arlote e Pouvas).
Uma igreja havia de ser edificada no local, consagrada a Santa Maria do Zêzere, a qual o
Papa Urbano III (1185-1187) isentou de toda a jurisdição ordinária, integrando-a no nullius dioceses de Tomar, pela bula Justis petentium desideriis, de 1186, ou 1187.
Ainda assim, a sede administrativa da comenda de Ozezar foi instalada em Almourol, aí
tendo permanecido até, pelo menos, o séc. XIV, uma vez que as parcas notícias sobre cavaleiros comendadores não consignam expressamente qualquer nome para o Zêzere e para a Cardiga, mas apenas para Almourol 3.

1 Lapignera na bula Cum pro Defensione, local que disporia, no seculo XII, de uma estrutura fortificada, da qual nao se encontra qualquer outra noticia ou vestigio.
2 Ver Manuel J. Gandra, Guia Templário de Portugal, v. 1, Mafra – Rio de Janeiro, 2015.
3 Cf. Frei António da Encarnação, Relação […], citada por João José Alves Dias, As Comendas de Almourol e Cardiga, das Ordens do Templo e de Cristo, na Idade Média, in As Ordens Militares em Portugal (Actas do 1º Encontro sobre Ordens Militares – Palmela, 3 a 5 Março 1989), Palmela, 1991, p. 103. Acham-se documentados os nomes de uns quantos cavaleiros comendadores de Almourol, a saber: D. Gil (1188); João Domingos (1201); Irmão Beltradus (serviu de testemunha no foral de Ega, em 1231); Gonçalo Fernandes (1302); Frei João Lourenço (1333); Frei Rodrigo (1372); Frei Rui Gonçalves (1374); Bernal Foçim (1383), irmão de João Focim, capitão da frota de D. Fernando durante a guerra com Castela (cf. Fernão Lopes, Crónica de D. Fernando, cap. LXXIV); Frei Martim
Gonçalves (1385); Frei Diogo Gonçalves 1390, 1409 e 1445 = concórdia da Ordem de Cristo com concelho de Tomar); Frei Lopo Dias (1426); Frei Gonçalo Velho (idem); Rui Velho (1467), sobrinho materno de Frei Gonçalo Velho; Simão (filho do anterior); entre outros.

Sirgadouros

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E evolução de embarcações nos portos fluviais do Tejo evoluiu durante o período filipino, durante o qual se estudou seriamente a possibilidade de tornar o Tejo navegável entre Alcántara, depois Toledo, e Lisboa. É público e célebre o interesse de Filipe II nessa obra, tendo-se empenhado na construção de obras para melhorar a navegabilidade em troços mais difíceis do Tejo, por exemplo com a construção de sirgadouros nos pontos críticos. Os trabalhos foram dirigidos pelo Eng.º Juan Bautista Antonelli, e permitiram remover obstáculos difíceis no percurso, criando condições para estabelecer a ligação fluvial entre Lisboa e Alcántara.
Gaspar (1970) conseguiu pessoalmente obter informações no Rossio de Abrantes e Alvega que deram conta que “em meados do século passado [XIX] o transporte do minério de Alcántara para o porto de Lisboa era feito exclusivamente por barcos portugueses, na maioria pertencentes ao Rossio de Abrantes e proximidades (Pego e Alvega). Esse tráfego fazia-se em comboios de pelo menos uma dezena de barcos (cerca de 20-30t cada), para que nos momentos difíceis (rápidos a transpor) todas as tripulações se pudessem ajudar na carga” (Gaspar, 1970, p.160).
Ainda hoje existe uma importante estrutura de sirga – carregada de história – no concelho de Nisa, com cerca de três quilómetros, entre Fratel e a Barca da Amieira. Este tipo de estrutura, como se descreverá e testemunhará neste trabalho, foi um importante suporte à navegabilidade tagana nos trechos mais difíceis do trajecto do rio. As manobras eram aí apoiadas por homens ou mesmo juntas de bois, que rebocavam as pesadas embarcações permitindo ultrapassar os obstáculos naturais do percurso.
No decurso do século XVII – e até à restauração da independência portuguesa – os reis filipinos, e em particular Filipe II, dedicaram especial importância ao projecto de navegabilidade do Tejo, para permitir o acesso mais fácil ao Atlântico das mercadorias do interior das terras castelhanas atravessadas pelo rio.

Fonte: O Último Calafate da Barquinha, Memórias do Mestre José Marques, obra de João Monteiro Serrano

A Barquinha e o Tejo

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A localização dos portos fluviais foi decisiva para o desenvolvimento das comunidades ribeirinhas taganas. Os portos do Tejo compreendidos entre Rossio ao Sul do Tejo e Azambuja são separados entre si por distâncias mais ou menos iguais, nomeadamente os de Constância, Tancos, Barquinha, Chamusca, Santarém e Valada-Salvaterra de Magos. Cada um destes portos deveu a sua localização às áreas geográficas que serviu. Não surgiram ao acaso mas antes pela complementaridade com a rede de acessos viários a cada uma dessas mesmas áreas.
Não há por isso aleatoriedade mas rigor funcional na definição dos factores de localização de cada um destes portos, quer porque aí existiu anteriormente um vau, um acesso fácil ao leito, a confluência de dois rios (como por exemplo o Tejo e o Zêzere), ou uma boa
profundidade das águas num determinado ponto (como por exemplo em Valada e Salvaterra de Magos).
A localização do porto de Vila Nova da Barquinha, tal como o de Tancos, foi junto ao leito maior do rio, e cresceu ao longo do Tejo. O porto da Barquinha foi posteriormente vítima de um acentuado assoreamento, o que obrigou à construção de embarcadouros que ligavam perpendicularmente a Barquinha ao rio, sendo disso exemplo o porto da Barca – referido pelo mestre José Marques -, o porto do Dr. Pombeiro e o porto situado junto à Rua da Barca, muito perto da casa do calafate que aqui homenageamos, e que ele tantas vezes referiu nas entrevistas que nos concedeu.
A forma como a urbanização evoluiu nestes portos assemelha-se bastante... Na verdade, a evolução urbana em cada um destes aglomerados seguiu o mesmo processo, dando origem a um cais, a ruas que seguem o seu percurso paralelas ao rio, a largos que constituem nós de ligação destas vias, e a travessas que unem essas ruas, constituindo um reticulado – se assim se pode considerar – que obedeceu a uma lógica de racionalidade na organização do espaço urbano e na articulação deste com o espaço do porto fluvial.
Como corolário refira-se o legado toponímico que evoca a relação íntima da Barquinha com o seu rio e com as actividades a ele ligadas: Rua da Barca – onde, nas palavras de mestre José Marques, tudo começou -, Rua do Tejo, Rua do Sal, Rua Miratejo…

O Último Calafate da Barquinha – Memórias do Mestre José Marques, João Monteiro Serrano, 2016

A Pesca em Payo de Pelle - Praia do Ribatejo

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Resultado de imagem para Albrecht Dürer c. 1490-1493Em 1462 (1) D. Afonso V impõe que os caniços dos canais da pesca dos sáveis no Tejo e no Zêzere fossem construídos de rama ou verga como as mantas da terra, com um palmo de largura e espaçados de dois dedos. Nesses caniços não se podia colocar esteiras ou outro objeto de forma a não matar as “savatelhas” (sabogas ou pequenos sáveis), que nadavam para o mar onde se criavam, e ter-se-iam de deitar vivas ao rio se ficassem presas nos caniços. Em Carta régia, D. Afonso, sustentou que acontecia que os sáveis que fugiam das “avargas e savaares e nassas” avançavam rio Tejo acima, onde desovavam, e que por agosto e setembro as “savatelhas” que se geravam seguiam pelos rios até ao mar onde se iam criar. Refere ainda que os que tinham canais faziam caniços de verga fechados e muito juntos e lançavam-lhes esteiras e redes miúdas dobradas, fazendo com que o pequeno peixe ao entrar nelas morresse provocando um desequilíbrio para o crescimento da espécie. Estes pequenos peixes eram vendidos como se fossem sardinhas, levando à diminuição de sáveis, ano após ano.Sabemos que D. Afonso V, em 1474, persistiu nesta questão e proibiu outras formas de apanhar os sáveis, impedindo os pescadores do rio Tejo de empregarem “bogueiros” (2) e “lavadas” (classe de redes) e que utilizassem “copéis” (3) nas redes, onde a semente do sável poderia morrer, pois estes eram feitos de redes de malha extremamente miúda impedindo a fuga de peixes muito pequenos e acabando por desequilibrar o ecossistema piscícola (4).
Apesar destas limitação, atuais cotas europeias de pescado, a maioria da população de Paio de Pelle, atual Praia do Ribatejo, desde tempos de antanho, dedicou-se à pesca:
“ Quase todos já de antiquíssimos tempos se tem empregado no serviço da pesca do que tiram muito maiores vantagens, do que na cultura de terras …” uma vez que os terrenos circundantes, pelo relevo e declive acentuado das propriedades rústicas (essencialmente no Zêzere) eram “bastantemente áridas e estéreis, e em que somente muitos braços, muitos gados, e muitos estrumes poderão concorrer para que elas dêem algum interesse ao lavrador”. O locais de pesca dos nossos antepassados, tal como na atualidade “ … é às vezes no rio Zêzere, e muito principalmente no Tejo … no pego de Almourol” Parte da população de Paio de Pelle emigrava para jusante do rio “onde chega a maré”. A sua atividade era exercida entre Vila Franca de Xira e Salvaterra de Magos e “pescam sáveis desde o Natal até ao Santo António, e mugens desde este tempo até ao S. Martinho. A imensa quantidade de varinas, e de chinchas (pequenas redes de arrastar), e de outras redes desta ordem, chamadas de arrastar, que desde o Alqueidão até a Barquinha se empregam na pesca dos sáveis no seu tempo competente faziam parte do cenário de antanho.   

Fontes:
Folha Informativa n.º 3, 2013, do Instituto Politécnico de Santarém
Memorias da Academia Real das Sciencias de Lisboa, Tomo VIII, 1823
Imagens de Albrecht Dürer c. 1490-1493 e da DGPC, 1862

1 História Florestal, Aquícola e Cinegética, vol. II (1439-1481), doc. 417 de 12 de Junho de 1462.
2. Sacos para apanhar bogas e outros peixes mais pequenos.
3. Sacos de rede miúda que se punham nas redes de arrastar.
4. História Florestal, Aquícola e Cinegética, vol. II (1439-1481)

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