Castelo de Almourol
Manuel J. Gandra
A partir de 1169, os Templários tornaram-se detentores de um vastíssimo domínio que lhes deu o controlo de parte considerável do vale do Tejo, de uma das vias medievais mais concorridas, justamente aquela que atravessava o vau do rio nas imediações da Cardiga e se dirigia para Coimbra pela Ladeia, bem assim como de vários dos caminhos que corriam de Leste para Santarém, paralelamente à margem direita do Tejo.
Esse amplíssimo território resultou da confirmação da doação de Tomar, concomitantemente com o prolongamento do domínio até ao curso do Tejo, mediante a concessão perpétua do castelo de Ozezar, ou Zêzere.
O teor do documento afonsino, que delimitou o dito termo, é o seguinte: “Em primeiro lugar pela foz do Beselga, e daí pela estrada que se chama de Penela, até Alfeigiadoa, e daí, pelo cimo do monte de Alfeigiadoa, pela vertente das águas do lado de Tancos, e daí, como o monte entra até ao fundo do pego de Almourol, e daí, pelo meio do Tejo até à foz do Zêzere, e daí, do Zêzere até à foz do Tomar [Nabão], e daí, pelo Tomar [Nabão], como vai até à foz do Beselga onde primeiramente fizemos começo.”
Ciente do valor estratégico do território em apreço, Gualdim Pais terá concretizado de imediato (1171-1172) um programa construtivo, decerto previamente delineado, edificando, ou reabilitando, os castelos do Zêzere, de Almourol, da Cardiga e do Pinheiro 1, e, igualmente, algumas torres com função semafórica (Atalaia, Santa Maria do Olival, Langalhão 2, Dornes, etc.), susceptíveis de alertar, em caso de necessidade, toda a região que integrava as bacias do Tejo, da Zêzere e do Nabão (então denominado rio Tomar).
O foral concedido em 1174 ao castelo de Ozezar decerto potenciou a instalação de significativa população residente, porventura de origem franca, a aquilatar pela onomástica das testemunhas que o avalizaram (Boninus, Broes, Arlote e Pouvas).
Uma igreja havia de ser edificada no local, consagrada a Santa Maria do Zêzere, a qual o
Papa Urbano III (1185-1187) isentou de toda a jurisdição ordinária, integrando-a no nullius dioceses de Tomar, pela bula Justis petentium desideriis, de 1186, ou 1187.
Ainda assim, a sede administrativa da comenda de Ozezar foi instalada em Almourol, aí
tendo permanecido até, pelo menos, o séc. XIV, uma vez que as parcas notícias sobre cavaleiros comendadores não consignam expressamente qualquer nome para o Zêzere e para a Cardiga, mas apenas para Almourol 3.
1 Lapignera na bula Cum pro Defensione, local que disporia, no seculo XII, de uma estrutura fortificada, da qual nao se encontra qualquer outra noticia ou vestigio.
2 Ver Manuel J. Gandra, Guia Templário de Portugal, v. 1, Mafra – Rio de Janeiro, 2015.
3 Cf. Frei António da Encarnação, Relação […], citada por João José Alves Dias, As Comendas de Almourol e Cardiga, das Ordens do Templo e de Cristo, na Idade Média, in As Ordens Militares em Portugal (Actas do 1º Encontro sobre Ordens Militares – Palmela, 3 a 5 Março 1989), Palmela, 1991, p. 103. Acham-se documentados os nomes de uns quantos cavaleiros comendadores de Almourol, a saber: D. Gil (1188); João Domingos (1201); Irmão Beltradus (serviu de testemunha no foral de Ega, em 1231); Gonçalo Fernandes (1302); Frei João Lourenço (1333); Frei Rodrigo (1372); Frei Rui Gonçalves (1374); Bernal Foçim (1383), irmão de João Focim, capitão da frota de D. Fernando durante a guerra com Castela (cf. Fernão Lopes, Crónica de D. Fernando, cap. LXXIV); Frei Martim
Gonçalves (1385); Frei Diogo Gonçalves 1390, 1409 e 1445 = concórdia da Ordem de Cristo com concelho de Tomar); Frei Lopo Dias (1426); Frei Gonçalo Velho (idem); Rui Velho (1467), sobrinho materno de Frei Gonçalo Velho; Simão (filho do anterior); entre outros.