Na Atalaia existiu a Santa Casa da Misericórdia. Situava-se na Rua Patriarca D. José, em frente ao Palácio dos Condes da Atalaia, atual Casa do Patriarca.
O primeiro documento que se conhece é o alvará de D. Filipe I, de 15 de Fevereiro de 1588, confirmando o Compromisso da Misericórdia da Atalaia (1)
“ (Na margem esquerda: “Da Mysericordia d’ Atalaya”) Eu el Rey faço saber aos que este alvara virem que eu vy este Compromisso da Confraria da Mysericordia da vila da Atalaya, e por fazer merse por esmola ao provedor e irmãos da dita Confrarya que ora são e aos que pelo tempo forem, me praz de lhe confirmar como de feyto per este allvara confirmo e ey por confirmado o dito Compromisso, na forma que nelle se contem, e asi ei por bem que elles possão daqui em diante gozar e usar de todo o contiudo no dito Compromisso e que se lhes cumpra e guarde inteiramente na maneira nele declarada, naquelas cousas a que se poder applicar somente, vista a informação que acerca disto por meu mandado tomou o doutor Ayres Ferrnandez Freyre do meu Desembargo e desembargador da Casa da Supllycação. E mando a todas as justiças, officiais e pessoas a que pertencer que asi o cumpram sem duvyda nem contradição allg˜ua e este allvara quero que valha etc. Pero de Seixas o fez. Em Lixboa, aos xb de Fevereiro de mil bc lxxxbiii.”
Outrossim, no inquérito paroquial de 1758, o prior da Atalaia, Bernardo Marques de Carvalho à questão: “10. Se tem hospital, quem o administra, e que renda tem? Se tem Casa de Misericórdia, e qual foi a sua origem, e que renda tem; e o que houver notável em qualquer destas cousas?” Respondeu : “Tão bem tem caza de Mizericordia de que são Provedores alternativos o Ex.mo Sr. Cardeal Patriarcha, e o Ex.mo Snr. Marques de Tancos, e tem anexo hü Hospital para os passageyros, e Caza para todo o Religioso que vay de passagem pedir per noutar, cuja renda liquida he cada ano trinta mil reis e teve seo principio no de mil, quinhentos, oitenta, e oito.” (2)
Assim, podemos concluir que a Misericórdia foi presumivelmente criada perto do ano de 1588 uma vez que o alvará é uma confirmação do compromisso e ignoramos a data da celebração desse compromisso.
Uma carta régia, de 4 de Junho de 1588, ordenou ao provedor da Comarca de Tomar que procedesse à anexação do hospital e albergaria da vila à Confraria (3). Pode-se também acrescentar que a Irmandade desta vila, apesar das várias dificuldades que poderiam eventualmente colocar em causa a sua existência, conseguiu impor-se no socorro aos necessitados uma vez que em 1712 a Misericórdia é relatada por Carvalho da Costa na sua Corografia (3). Outrossim, em 1739 na obra “Descripçam corografica do Reyno de Portugal” (4) é referido que a Atalaia tem Misericórdia e 455 fogos e 1478 almas.
No final do ano de 1869 a Misericórdia estava em estado de completa ruína, a que não será alheio o afastamento da população pela instituição e a ascensão da Barquinha com o seu comércio fluvial, Em consequência decretou-se a sua extinção. Para tal terá contribuído o relatório do governador civil, João Rocad da Costa Cabral (5) que com verbo duro sentenciava o seu fenecimento: “Na villa da Barquinha não há um hospital nem misericórdia, porém em cada uma das duas freguezias ruraes deste concelho, Atalaia e Tancos, há uma irmandade da misericórdia, cujos rendimentos são tenues, porém mais tenues são ainda os serviços que prestam à humanidade”. Nas conclusões do relatório mais refere que as misericórdias de Tancos e da Atalaia, entre outras, tiveram uma aplicação pia mas que, naquela data, em 1867, eram gastos rendimentos em inutilidades e muitas das vezes a capricho dos mesários, podendo converter-se em proveito da humanidade de forem incorporadas nos hospitais do concelho.
(1) IAN/TT – Chanc. de D. Filipe I, Doações, liv. 18, fl. 75v.
(2) Pereira, Julio Manuel. A Região da Barquinha no Séc. XVIII. A visãp dos inquéritos paroquais. Edição da Câmara Municipal. 1993
(3) Portugaliae Monumenta Misericordiarum / ed. lit. Centro de Estudos de História Religiosa da Faculdade de Teologia – Universidade Católica Portuguesa; Vol. 5: Reforço da interferência régia e elitização: o governo dos Filipes.2006 e IAN/TT – Chanc. de D. Filipe I, Privilégios, liv. 1, fl. 209-209v.
(4) Costa, António Carvalho da – Corografia Portugueza e descripçam topografica do famoso Reyno de Portugal. Lisboa: Valentim da Costa Deslandes, 1706-1712. 3 vols.