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Channel: ATALAIA - V.N.BARQUINHA
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Troféu Disciplina para a União Desportiva Atalaiense

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Foi entregue no dia 15 de Maio de 2011, o equipamento desportivo às equipas do Atalaiense (Divisão Secundária) e do Ouriquense (Divisão Principal) de futebol, no âmbito do Troféu Disciplina referente à época 2009/2010, instituído pelo Governo Civil de Santarém, em colaboração com a Associação de Futebol de Santarém.
O Adjunto da Governadora Civil Nuno Antão e o Presidente da Associação de Futebol de Santarém, Rui Manhoso, fizeram a entrega no Estádio Municipal de Rio Maior, no intervalo da final da Taça do Ribatejo, cujo resultado final foi de 5 – 4 CD Torres Novas SL Cartaxo.
Recorde-se que a atribuição do troféu e do equipamento são relativos ao bom desempenho disciplinar e fair play na época 2009/10, no futebol e futsal em masculinos e femininos.
A cerimónia para a entrega do troféu, neste caso a todos, realizou-se no dia 9 de Fevereiro de 2011, durante o intervalo do jogo de futebol sub 21, entre as selecções nacionais de Portugal e da Suécia no Estádio Municipal do Cartaxo.
Cumpre-se um dos desígnios referidos pela Governadora Civil durante a atribuição “reforçar a importância e a visibilidade deste troféu, onde contrariamente ao mérito competitivo, que é obtido pelo maior número de pontos na classificação, nesta vertente destacam-se as equipas com menos pontos, a quem equivale a atribuição de menos sanções disciplinares e maior desportivismo”.
O regulamento prevê a entrega de troféu a todos, e equipamento desportivo aos clubes de futebol, no entanto com o desenvolvimento da modalidade de futsal será revisto o regulamento de atribuição, e se esta iniciativa continuar, poderá contemplar no futuro também estes praticantes.
Divisão Principal: Estrela Futebol Club Ouriquense (Cartaxo)
Divisão Secundária: União Desportiva Atalaiense (Vila Nova Barquinha)
Seniores Futsal Masculino: Juventude Ouriense (Ourém)
I Divisão Seniores Futsal Feminino: Casa do Povo das Mouriscas (Abrantes)
II Divisão Seniores Futsal Feminino: Sport Club de Ferreira do Zêzere

O TELÉGRAFO DA ATALAIA - VILA NOVA DA BARQUINHA

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"Ignora-se a sua história, sendo que de crer que tivesse sido ocupada por Alanos, Visigodos e Muçulmanos, e sabendo-se ao certo que em 1129 estava já em poder dos Portugueses. Tornando anos depois a cair em poder dos Mouros, foi reconquistada em 1147, por D. Afonso Henriques, que mandou reedificar o castelo medieval. Reconquistado de novo pelos Mouros estes teriam arrasado e abandonado a fortaleza, que ficou completamente despovoada, até que D. Afonso II mandou reedificar o castelo e lhe concedeu foral em 1212, com muitos privilégios para os moradores a fim de mais facilmente ser povoada. Parece que, sendo de novo destruída pelos Mouros, D. Dinis a mandou repovoar e reedificar a fortaleza, construindo-lhe a torre de menagem, e dando novo foral à povoação em 1315. Hoje está totalmente destruída e o monte coberto de mato e arvoredo, mal se pressentindo que ali tivera um forte castelo medieval.” (1)
É na encosta, ponto mais alto da Vila da Atalaia, ocupada desde tempos de antanho, que os actuais registos matriciais denominam sítio da encosta do telégrafo.
Qual a sua origem? Investiguemos...
Em Junho de 1810 dá-se a terceira invasão Francesa. A nação era o epicentro do choque de interesses das duas potências, a Inglaterra e a França. O invasor empregava o Telégrafo de Chappe e o aliado inglês empregava o Telégrafo de Balões ou Telégrafo de Bolas, usado entre as fortificações das Linhas de Torres e os seus flancos laterais. O português Francisco António Ciera, Director dos Telégrafos, inspirado nos sistemas que viu e/ou estudou, inventou o Telégrafo Óptico Português, de menor alcance mas mais económico, mais eficaz e que dava maior celeridade às comunicações. Começavam as primeiras “obras telegráficas” na nossa região. O marechal de campo José Lopes de Sousa, a partir de Abrantes, comunica a D. Miguel de Forjaz, Secretário de Estado da Guerra, o seguinte: “Tenho a honra de informar V. Exª., que se tem trabalhado na obra do Telegrafo (de Abrantes), e que posto senão ache completa toda a obra pelo que respeita a barraca e sua escada; o Telegrafo já poderia trabalhar; a corresponder-se com o da Barquinha cazo que aquelle de achasse pronto, mas não se avista ainda no lugar em que se pode collocar […] Abrantes 23 de Junho de 1810”. No dia seguinte, a 24 de Junho de 1810, o mesmo marechal de campo informa: “Hontem participei a V. Exª que não se avistava ainda daqui o trabalhar-se na colocação do Telegrafo no lugar da Barquinha, mas na mesma tarde já se divizava este trabalho, e o que hoje mais se verifica. Deos Guarde V. Exª. Abrantes 24 de Junho de 1810”.
Assim, temos por certa a data da construção do telégrafo da Atalaia, o dia 24 de Junho de 1810 (2).
Num contexto bélico o telégrafo, como um sistema de comunicação rápido à distância, era um elemento fundamental para a estratégia e para as operações de guerra.
No boletim do telégrafo central de Lisboa do dia 13 de Abril de 1812 (3), consta que pelas 9 horas e ½ da manhã, é comunicado do posto da Atalaya: “ Hontem de tarde chegaram aqui 2 Companhias de Brigada da Cavalaria Inglesa”. No mesmo boletim há uma mensagem enviada às 6 horas da tarde, agora do telégrafo de Abrantes: “Participar a Marechal Beresford, q. no dia 11 do corrente vierão huns 5000 homens de Cavallaria Inimiga a Alpedrinha, Sobreira Formosa, Fundão saquear[…] Governador”.
Pelos conteúdos das mensagens podemos perceber a importância do posto da Atalaia na Guerra Peninsular, essencialmente o seu interesse estratégico. Por aqui passavam todas as informações da Nação resultantes da ligação à linha telegráfica das Beiras: Lisboa, Atalaia, Abrantes, C.Branco, Elvas, e da ligação à linha telegráfica: Lisboa, Atalaia, Tomar, Ceiras, Zambujal, Vendas D.Maria, S.Sens, Almalaguer e Coimbra.
O telégrafo da Atalaia ainda estava a funcionar em 1832 e era parte da rede: Castelo de S. Jorge, Penha França, Monte Serves, Monte Gordo, Boavista, Santarém, Alviela, Golegã, Atalaya, Tomar, Ceiros, Alvaiázere, Monte Ver, Volta Monte, Coimbra, Agrello, Buçaco, Boialvo, Montedo, Vila Nova Juzos, A. Branco, S.º Estêvão, Morado, S.º Ovídeo e Porto (4).
Na sequência das Guerras Liberais verifica-se a destruição do telégrafo da Atalaia.
Tal tarefa coube à guerrilha constitucional, comandada pelo coronel do exército espanhol, D. Manuel Martini: “No dia 24 de Junho de 1833, dei o grito da Liberdade, acclamei o Governo Legitimo, fiz nomear outras Authoridades, soltei os prezos políticos, desarmei a Guerrilha do Corregedor, e hum forte Destacamento de Realistas de Abrantes, amparei-me de 400 armas; e de tarde … marchei para a Barquinha; ao passar destrui o Thelegrafo da Atalaia; na madrugada de 26 aprizionei hum barco que de Lisboa hia para Abrantes com 500 fardamentos completos, armamento, correame, 5 cornetas, e 20 praças da sua escolta.” (5).
O Telégrafo da Atalaia foi construído em 24 de Junho de 1810 e destruído em 24 de Junho de 1833, precisamente 23 anos depois!
Ainda hoje os registos matriciais o mantêm vivo e a mim coube-me o dever de reescrever a sua história.

(1) Almeida, João (General), Roteiro dos Monumentos Militares Portugueses, Vol II, Edição do Autor, 1946.
(2) Telégrafo da Barquinha concluído – Arquivo Histórico Militar (AHM)-DIV-1-14-269-50.
(3) Boletim do Telégrafo Central com referências às comunicações do Telégrafo de Abrantes – AHM-DIV-1-14-180-25.
(4) AHM/DIV 3-32-5-24.
(5) Ventura, António: As guerras liberais em Portalegre: Junho-Julho de 1833, Portalegre, Assembleia Distrital, 1982.

AGRADECIMENTO, ao meu preclaro amigo José Manuel d'Oliveira Vieira, colaborador do Jornal de Alferrarede, que me cedeu muita da informação para a história do telégrafo da Atalaia. O meu eterno BEM-HAJA.

ATALAIA, In MEMORIAS DA ACADEMIA REAL DAS SCIENCIAS DE LISBOA, TOMO VIII, 1823

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“41. Os mapas n.º 3e 4mostrão a população da villa da Atalaia , e no termo, que simplesmente contém huma freguezia, e de todas deste território a mais populosa. Vê-se pois que o numero dos fogos he de627, e o total dos habitantes de 2196, estando estes para aquelles na proporção de 3,5 &c. que realmente não indica fertilidade de população. Tem esta freguezia lugares muito populosos, como são aBarquinha, Mouta, &c.

42. Os mesmos mappas a respeito desta villa e termo (como de todas as mais) especificão tudo quanto no plano se exige: aqui acontece o mesmo do que nas outras, a respeito da grande desproporção das viúvas a respeito dos viúvos, que he sempre em menor numero, e as causas que isto aqui tem originado, não são differentes: ha aqui huma grande quantidadede gente do mar, e quasi todos são daBarquinha,e alguns da Mouta; ha também muita gente occupada no serviço do campo; tanto em huma, como em outra occupação os homens se expõem ás differentes alternativas das estações, e adquirem por isso grande numero de enfermidades, além de serem ambos os serviços forçados, e violentos; estas mesmas causas são as que concorrem para a falta de povoação, nem ha nesta freguezia outras algumas, de donde se possa colligir o terem produzido o mencionado effeito.

43. A classe mais numerosa he a empregada na navegação para a capital, e quasi toda dos lugares acima referidos, pois que o commercio he o seu principal trafico: os cultivadores não guardão a proporção, e o calculo, de que em em 20 pares de habitantes sejão16destinados para a cultura (da terra); entretanto segundo o presente estado de pequena cultura do paiz , e porque mesmo huma grande porção delle he máo terreno, elles são sufficientes; a respeito porém da colheita da azeitona verifica-se o mesmo, dito nos antecedentes Artigos, pois sufficientes braços não ha. Nem se tem vindo estabelecer nesta freguezia gente de fóra, nem dela tem emigrado seus habitantes para outras partes. Aqui ha ordinários meios de subsistência ou no serviço do mar, ou do campo , alem dos differentes officios; se bem que os actuaes jornaes são diminutos, porém isto tem huma causa mais geral na decadência do commercio intrínseco, e agricultura em toda a nação. Ha huma roda de expostos na Atalaia, entretanto a seu respeito nada tenho que accrescentar ao já dito. Eis aqui o que julgo conveniente dizer a respeito da povoação deste território.”

A maior parte da actividade agrícola e pecuária tinha como referência o rio Tejo. Daí que não surpreenda os números de gentes do mar, pescadores e singeleiros na nossa terra. Uma breve referência para estes últimos, os singeleiros, quem são estes homens e qual o seu ofício? O transporte de mercadorias era feito, essencialmente, pelo rio Tejo e por terra mas para transportar os produtos entre os lugares do termo da Vila da Atalaia e a via fluvial tal tarefa estava entregue a estes homens que no mapa são 11.

A Cultura Avieira II

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Este é o segundo escrito neste blog sobre a Cultura Avieira. O primeiro é de 8.11.2010 e pode ser revisto em http://atalaia-barquinha.blogspot.com/2010/11/seculo-xix-os-pescadores-nos-oceanos.html.

In MEMORIAS DA ACADEMIA REAL DAS SCIENCIAS DE LISBOA, TOMO VIII, 1823, retiro que a maioria da população de Paio de Pelle, actual Praia do Ribatejo, desde tempos de antanho, se dedicava à pesca: “ Quase todos já de antiquíssimos tempos se tem empregado no serviço da pesca do que tiram muito maiores vantagens, do que na cultura de terras …” uma vez que os terrenos circundantes, pelo relevo e declive acentuado das propriedades rústicas eram “bastantemente áridase estéreis, e em que somente muitos braços, muitos gados, e muitos estrumes poderão concorrer para que elas dêem algum interesse ao lavrador”. O locais de pesca dos nossos antepassados, tal como na actualidade “ é às vezes no rio Zêzere, e muito principalmente no Tejo …” Parte da população de Paio de Pelle emigrava para jusante do rio “onde chega a maré”. A sua actividade é exercida entre Vila Franca de Xira e Salvaterra de Magos e “ pescam sáveis desde o Natal até ao Santo Antonio, e mugens desde este tempo até ao S. Martinho. A imensa quantidade de varinas, e de chinchas (pequenas redes de arrastar), e de outras redes desta ordem, chamadas de arrastar, que desde o Alqueidão até aBarquinhase empregam na pesca dos sáveis no seu tempo competente, produz muitas vezes a escassez deste peixe no pego de Tancos, e é esta uma das causas da emigração destes homens se bem que outros há, que se empregam na pescaria dos sáveis no lugar da Praia, com as tais chinchas, e como por tal emigração não terão suficientes braços, costumam anualmente vir de Ovar, e de suas imediações de80a100 homens, que somente aqui permanecem aquele tempo necessário, e mesmo porque esta gente é mais apta, e está mais acostumada a tal serviço.” Abalando das suas terras de origem, no texto de Ovar, onde o Inverno é rigoroso e ao mar agitado o que, certamente, os inibia de exercer a sua actividade procuraram no Tejo, rio sem risco acrescido e pouco agitado, o seu sustento durante o tempo em que o mar está alterado.Terminado o Inverno regressavam às suas terras de origem para de dedicarem à pescar no mar e à faina da sardinha. Vemos que há, assim, uma migração sazonal de pescadores não são só da Praia da Vieira, como atrás se escreveu, mas igualmente de Ovar. No ano de 1823 eram, do dizer do escritor, de 80 a 100 homens pescadores. Muitos destes não regressam à sua terra natal, ficam a habitar na Borda-d’água do Tejo vindo a ser designados Avieiros ou Ciganos do Tejo.

A FEIRA FRANCA DA VILA DA ATALAIA

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Dissipa-se na escuridade dos tempos a altura em que se iniciou a feira da Atalaia.
Vamos, então, à sua procura!
Nos tempos dos primórdios da nacionalidade a agricultura era a principal actividade do reino e dela emanava uma força social significativa.
D. Dinis, denominado o “Rei Lavrador”, proferia que os homens que se dedicavam à agricultura eram os “Nervos do Estado”. Ora, para colocarem os seus produtos à venda os agricultores afluíam às feiras e mercados em todo o território nacional.
Como sabemos, a mando de D. José I e de Sebastião José de Carvalho e Melo, mais conhecido por Marquês de Pombal, no ano de 1758, foram efectuados os interrogatórios ou inquéritos paroquiais a todas as vilas e aldeias de Portugal, documentos que actualmente se encontram no Arquivo Nacional da Torre do Tombo em Lisboa. À questão: “19º. Se tem Feira, e em que dias, e quantos dura, e se é Franca, ou Captiva?”, respondeu o prior da Atalaia: “ Há só uma feira nesta vila a vinte de Janeiro, três dias franca…”, esta é a primeira referência que encontrei.
Posteriormente, descobri outra referência descritiva sobre a feira e que dou ao conhecimento mais adiante.
Em 1822 a vila da Atalaia detinha 626 fogos, 2196 habitantes, sendo 13 desses habitantes comerciantes. A população era estável “nem se tem vindo estabelecer nesta gente de fora, nem dela tem emigrado seus habitantes para outras partes”. Muita da população dedicava-se à agricultura pois neste território havia bons terrenos, como em outros lugares do reino. A principal cultura era o milho, produção de 4370 alqueires, semeado nos nateiros e nas terras de boa qualidade do interior da vila com acesso fácil à água da ribeira, das fontes e das nascentes com peculiar realce para baldios do Vale das Éguas, Braçal, Vale do Junco, Vale da Sardinha e Vale das Sete Fontes. Depois o trigo, com lavra de 1490 alqueires, centeio com 300 alqueires, este último semeado nas terras altas. Abundam as oliveiras com produção de 3.000 alqueires de azeitona pelo que, nesta vila da Atalaia, existiam vários lagares de azeite. Havia um de especial relevo, o lagar da Ponte da Pedra, do Sr. Trigoso, célebre pelo seu engenho com a roda principal movida por água, com 3 galgas, 4 varas e com movimento rápido que permitia fazer uma moedura numa hora. Igualmente, havia muita gente que se empregava na navegação, 446 pessoas designadas por gentes do mar que se deslocavam na sua faina para a capital. Deste fluxo marítimo resultavam trocas e actos de comércio que davam força e pujança às gentes da Atalaia e, obviamente, à sua feira.
O comércio está intimamente relacionado com a agricultura pela troca de produtos, bem como à indústria/manufacturação e a pecuária.
Também, a Atalaia era rica em louça, devido à abundância de greda na nossa região. Existiam 15 oleiros que comercializavam os seus produtos nas feiras circunvizinhas em concorrência com as das da Flor da Rosa e das Caldas da Rainha.
Na Ponta da Pedra havia um engenho de serrar madeira e a população da Atalaia apresenta 37 carpinteiros de obras número significativo para a comarca de Tomar que permitia criar riqueza para a aquisição de produtos na feira. Todas estas actividades concorriam para que a feira fosse um grande acontecimento. Mas, vejamos o relato que descobri nas Memórias da Academia Real:
A feira da Atalaia se faz pela mesma villa; o primeiro dia é a 20 de Janeiro de todos os anos, e continua também nos dias seguintes. É uma das melhores feiras destes contornos, e onde vão muitas lojas de mercadores, e capelistas. Entretanto um dos objectos de maior consideração desta feira é a grande quantidade de porcos, que ali entram, e donde se extraem assim para estas terras circunvizinhas, como também para a capital: os porcos, que ordinariamente ali entram são já gordos, e vindos dos montados do Alentejo directamente, ou de negociações feitas em a feira de Galveas, que costuma ser a 7 do dito mês.
Somente esta negociação faz a feira de grande monta, e entidade, e é de grandes vantagens não só para a vila, mas também para as povoações vizinhas, que anualmente costumam ir sortir-se à dita feira dos géneros, que ali concorrem, e especialmente dos porcos, e o que algum modo torna a feira estável”.
Por último, as feiras e mercados deste território, comarca de Tomar, mais concorridas eram as Punhete (Constância), Paio de Pelle ou Feira de Tancos, Atalaia e Santa Cita.

Bibliografia: MEMORIAS DA ACADEMIA REAL DAS SCIENCIAS DE LISBOA, TOMO VIII, PARTE I, 1823

A lenda do Arrepiado

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"Recortada contra o azul do céu, a silhueta imponente do Castelo de Almourol, evoca um passado povoado de personagens lendárias, de guerreiros e de heróis, de mouras encantadas e misteriosas donzelas. Todo um imaginário de sonho vivificando de imaginário a História e a Cultura das populações vizinhas do milenar castelo. A imponente construção medieval ergue-se na pequena, mas agreste e solitária, ilha de Almourol no meio do formoso e vasto Tejo, ali engrossado pelas águas do luso Zêzere. Das suas elevadas torres avista-se uma paisagem deslumbrante. Perto, prende-nos a atenção a risonha e mourisca povoação do Arripiado. O seu nome remete para uma lenda a que não falta nenhum dos ingredientes requeridos pela arte narrativa do povo de riba Tejo: cavaleiros sedutores e jovens de divina formosura vivem amores ora contrariados ora bem conseguidos. E tudo acontece naquele lugar privilegiado pela natureza, um lugar disputado pelos homens e pelos deuses: a surpreendente ilha de rochas reluzentes destacadas do areão de seixos doirados. Ilha verde e ocre, sombreada de frescos salgueirais e de copados sobreiros e azinheiras. Quando um frémito de aragem percorre a ramaria, a moldura esmeraldina reflecte-se no espelho mágico do rio. Pescadores e homens serranos navegam as águas profundas e descansam nas aprazíveis praias do Tejo. Casario branqueja nas encostas marginais do grande rio. As povações do Arripiado, do concelho da Chamusca, e logo além Tancos, do concelho de Vila Nova da Barquinha, apresentam aos olhos do viajante as marcas de um Passado que se desdobra também na aventurosa gesta de desbravar a terra e o rio e as matas. Povoações que testemunham a luta quotidiana, vivida ao longo dos tempos, por povos de dferentes civilizações. Almourol, a pitoresca ilha tagana, era já um castro romano na Era de César. Na decadência do Império Romano, a arruinada fortaleza foi convento e ermitério. A situação estratégica determinou o oscilar da sua posse por senhores de exércitos, por nobres poderosos. No periodo de declinio da dominação muçulmana, algumas épocas de agitação seguem-se a tempos de pacifica convivência entre moçárabes e os cristãos descendentes dos godos. Em Almourol vivia-se ao sabor de algaras mouriscas e de fossados dos cavaleiros cristãos que acompanhavam os cruzados nas lutas pela Reconquista. Reza a tradição que, no século X, a ilha tinha sido conquistada pelo temido Ibne Baqui, filho do lendário Xurumbaque. Este era um Mouro dotado de forças superiores. Feito prisioneiro pelos nórdicos da Normandia, logrou escapar-se-lhes. Conheceu palmo a palmo a região galega e, mais tarde, as terras taganas. Era já muito velho, quando decidiu marcar os seus dominios e instalar-se, em recônditos e inacessiveis lugares, entre serranias e rios profundos, numa região da antiga Lusitania, entre Coimbra e Santarém. A ilha de Al Mourol foi reforçada e dotada de uma zona de residência e de lazeres. Uma luxuosa alcaçaba, onde Ibne Baqui dividia o seu tempo entre aventuras guerreiras e os prazeres da música e da poesia. Al Mourol era um luger de paz e de recolhimento e uma atalaia vigilante. O poderoso muçulmano amava muito a sua mulher, a doce Fata, da tribo de Micnesa. Ambos se orgulhavam de sue filha Ari, uma jovem de rara beleza e invulgar talento. Os seus cânticos dulcificavam o coração dos guerreiros de Alá . A sua elegância e arte de bailarina eram afamados em todo Al Andaluz. De Beja, por uma madrugada de Maio, chegou uma luzida embaixada. Logo, Ibne Baqui mandou que todos os barqueiros e pescadores do rio se preparassem para acolher e transportar para Al Mourol o seu amado e velho irmão e toda a luzida comitiva que de tão longe viera visitá-lo. Ibne Xurami, senhor de imensa fortuna e invencível poderio militar, ouvira falar de Ari. Por ela, se decidira a vir negociar um casamento que haveria de reforçar ainda mais os descendentes do heróico Xurumbaque. A doce Ari veio a saber pelo zum-zum das belas mulheres do Pátio das Estrelas o que estava a acontecer. Uma nuvem negra parecia-lhe pairar sobre a sua juventude. Desde menina que ela amava Mem Roderico, moçárabe influente, mensageiro da paz em muitas questões e rivalidades entre mouros e cristãos. Também ele amava perdidamente a formosa Ari. Esperavam ocasião asada para convencerem os pais de ambos a permitirem o seu casamento. Depois de um longo serão de festejos, Ari esperou que o pai e a mãe se dirigissem para os seus aposentos e pediu-lhes para a ouvirem. Confiada no amor dos seus progenitores, Ari confessou-lhes o seu romance com Mem Roderico. E, rojando-se no lajedo, jurou-lhes que não suportaria nunca casar-se com o velho tio. Irado, Ibne Baqui mandou que metessem a filha na mais alta torre da fortaleza. E, para que não tentasse fugir, dizem as pessoas antigas, que "Piaram-a, isto é, ataram-na pelos pés como se fazia às cavalgaduras ruins de amansar. Ari peada, morria de saudade e paixão. Certo dia, por uma estreita fresta, entrou uma pomba branca que trazia presa a um laço no pé uma mensagem. Era a notícia de que o seu amado Mem Roderico tinha sido morto numa cilada pelos soldados de Ibne Baqui. Nesse mesmo instante a alma pura da infeliz Ari deixou o seu formoso corpo. Ari peada voou no corpo da pomba branca e foi poisar na campa de Roderico, lá em baixo, frente ao Tejo, no branco cemitério da povação que o povo passou a chamar de Aripeada, a branca e bela povação do Arripiado."

Retirado de: http://olharopassado.blogs.sapo.pt/24707.html

A Gliptografia na Igreja de Nª Srª da Assunção, Atalaia

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A Igreja de Nª Srª da Assunção, na Atalaia, Vila Nova da Barquinha, é monumento nacional por Decreto n.º 11453, de 19 de Fevereiro de 1926. A data, gravada numa pilastra do lado esquerdo do arco da capela-mor, remete-nos para o acerto da data da sua construção, ano de 1528. Este belo edifício reflecte a orientação da escola de João de Castilho e de João de Ruão que enriqueceu entre nós “a arte da pedraria” com visibilidade acentuada no pórtico principal, verdadeira obra-prima da arte Renascentista. Para além do seu pórtico, dos painéis de azulejo do Séc. XVII, de duas cores combinadas, azul e amarelo, e do honorífico túmulo de D. José Manuel da Câmara, 2.º cardeal patriarca de Lisboa, a Igreja tem outros segredos que importa desvendar. Vamos então ao seu encontro …

Diversas marcas de cantaria encontram-se gravadas na Igreja da Atalaia (1). Localizam-se as mesmas em vários sítios do monumento nacional e que escaparam, até agora, à sua extinção. Podemos vislumbrá-las, entre outros locais: na torre sineira da igreja, na parede e contraforte de cunhal da fachada principal, na cabeceira do lado norte e também no seu interior, na arcaria do lado esquerdo e do lado direito da nave central. As marcas de canteiro ou siglas, Gliptografia (2), surgem nas superfícies interior e exterior das pedras e as que estão na Igreja da Atalaia, iguais às da figura ao lado, exprimem, afinal, o quê? Existem várias teses com o objectivo de clarificar o significado e a função destas marcas de cantaria havendo quem defenda que: “ - Constituem o alfabeto de uma língua mágica e esotérica de origem caldaica, destinando-se a exercisar toda a casta de malefícios;

- Não passariam de sinais utilitários gravados pelos canteiros para indicar a exacta posição, colocação, localização e altura, bem como o adequado ajustamento dos silhares aparelhados;

- Seriam marcas feitas pelos canteiros como assinatura pessoal com o fito de assinalar o trabalho realizado por cada um e permitir a contabilização do salário em conformidade;

- São marcas individuais, reportando-se ao nome de cada pedreiro (inicial ou monograma), às respectivas crenças e devoções (objecto simbólico ou alegórico), ao seu estado social (instrumento profissional), à data da realização do trabalho (signo astrológico), etc.

- Reproduziriam sinais franco-mações adoptados pelos pedreiros para seu mútuo reconhecimento;

- Poderiam corresponder, em certos casos, concomitantemente ou não com os significados enumerados supra, à assinatura do doador de uma pedra, coluna, abóbora, etc.” (3).

O certo é que estas marcas constituem um mistério que dá lugar a todo tipo de teorias que vão desde as iniciais do nome do canteiro, a indicadores de qualidades da pedra, à assinatura do canteiro para cobrar o preço do seu trabalho, a pedras dadas em doação para a sua construção, a interpretações astrológicas, etc. etc.

A opinião maioritária defende que as marcas de cantaria são para justificar o trabalho realizado na obra. Pelo levantamento dos sinais gravados nas pedras da Igreja da Atalaia verificamos que as marcas de identidade são de fácil execução e de traço simples pelo que me parece, salvo melhor parecer, que estas demonstram o apuramento do valor funcional incorporado tendo o objectivo de assinalar o trabalho realizado por cada um dos canteiros permitindo, assim, a contabilização do seu salário.

A gliptografia em Portugal constitui um caso de estudo dos mais notáveis casos da Europa mas, inexplicavelmente, esta permanece uma área que menos atenção tem despertado aos nossos investigadores.

(1)Investigação do Dr. João Ramalhete: “A Gliptografia na Igreja de Nª Srª da Assunção, Atalaia, Vila Nova da Barquinha, Agosto de 2011”. O trabalho encontra-se para consulta na Biblioteca Municipal do Município.

(2)Griptografia – gravação na pedra por incisão ou relevo.

(3)Gandra, Manuel J., Cadernos da tradição, siglas e marcas lapidares, subsídio para o Corpus Lusitânico, Ano I, n.º 2, 2001.

ARROLAMENTOS DOS BENS CULTURAIS DA FREGUESIA DA ATALAIA

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Com a publicação da Lei de Separação da Igreja do Estado, de 20 de Abril de 1911 (1) surgem as Comissões Concelhias de Inventário com a tarefa de, em cada concelho, proceder ao arrolamento de todas “as catedrais, igrejas e capelas, bens imobiliários e mobiliários que têm sido ou se destinavam a ser aplicados ao culto público da religião católica e à sustentação dos ministros dessa religião e de outros funcionários empregados e serventuários dela, incluindo as respectivas benfeitorias e até os edifícios novos que substituíram os antigos” ( art.º 62.º da referida lei).
A lei não obrigava a que existisse uma avaliação e imposição de selos, mas tão só que se entregasse os bens móveis de valor cujo descaminho se temia à guarda das juntas de paróquia ou remetendo-os para os depósitos públicos ou para os museus.
Tal arrolamento era feito, conforme estipulava no art. 63.º “ (...) administrativamente, de paróquia em paróquia, por uma Comissão concelhia de inventário, composta do administrador do concelho ou do bairro e do escrivão da fazenda, que poderão fazer-se representar por empregados seus, sob sua responsabilidade, servindo o primeiro de presidente e o segundo de secretário, e por um homem bom de cada paróquia, membro da respectiva junta, e indicado pela câmara municipal para o serviço dessa paróquia.” Continuando, no art. 64.º refere-se que “quando o governo o entender necessário, poderá designar mais de uma comissão para o mesmo concelho ou bairro, ou nomear para qualquer delas outros funcionários além dos indicados no artigo anterior.” Pelo art. 65.º “a comissão poderá reclamar o auxílio de qualquer autoridade pública e todos os elementos de esclarecimento de que careça e deverá requisitar da respectiva comissão regional artística, ou escolher por si, um ou mais peritos de reconhecida competência, quando presumidamente se tratar de móveis com valor artístico ou histórico”.
Estas “comissões concelhias ficam directamente subordinadas ao Ministério da Justiça, onde será criada e exercerá atribuições de superior direcção e administração, uma Comissão central de execução da lei da separação, composta de funcionários do Ministério, administrativos ou fiscais, e de magistrados ou empregados judiciais, e do Ministério público, da escolha do ministro.” (art. 66.º). Determina-se que os inventários deveriam começar no dia 1 de Junho de 1911 e terminar no prazo de três meses, sendo feitos em duplicado, ficando um exemplar na câmara municipal à disposição de quem o quisesse examinar, e o outro seria enviado à Comissão Central de Execução da Lei de Separação pelo administrador do concelho, à medida que terminassem os trabalhos relativamente a cada paróquia (art. 67.º). Do auto de entrega de 10 de Janeiro de 1931, constam todos os bens móveis arrolados da freguesia de Atalaia. O administrador do concelho entregava à corporação cultural e esta declarava, no competente auto de entrega, que se responsabilizava pelas despesas anuais com a guarda, conservação e reparação dos bens que recebia, ficando obrigada a apresentar ao Ministério da Justiça e dos Cultos um duplicado do referido auto de entrega, no prazo de três meses. Deste auto de entrega relevo os seguintes bens, entre outros, que estavam na Igreja da Atalaia:
- Imagem de N.S. da Assunção, padroeira da freguesia da Atalaia;
- Imagem de N.S. do Rosário;
- Imagem de S. António;
- Imagem do Menino Jesus;
- 2 quadros em tela (N.S. da Piedade e S. Sebastião).
Na Capela do Senhor d’Ajuda, Atalaia:
- Imagem do Senhor d’Ájuda (Cristo crucificado)
- Imagem de N.S. Ajuda;
- Imagem de S. António;
- Imagem de S. José;
- Imagem de S. Caetano.
Na capela da Moita – N. S. Remédios:
- Imagem de N.S. dos Remédios;
- Imagem de N.S. do Carmo;
- Imagem de S. José;
- Imagem de S. Amaro;
- Imagem do Menino Jesus;
- 1 quadro de Cristo crucificado em madeira;
- 1 quadro do Senhor dos Passos em tela
Na Capela de S. João Batista das Vaginhas (Entroncamento):
- Imagem de S. João Batista;
- Imagem de N.S. Conceição;
- Imagem de N.S. Lourdes;
- Imagem do Menino Jesus;
- Imagem Senhor Aflitos (Cristo crucificado)
Na Capela de S. Caetano (Cardiga):
- Imagem de S. Caetano;
- Imagem do Menino Jesus;
- 1 quadro de N.S. da Paz (em madeira);
- 1 quadro em tela.
Curioso é descobrir que, neste auto de entrega, a Casa da Irmandade e as dependências da Igreja da Atalaia foram destruídas aquando das obras de restauração de 1939. Todos estes bens, constantes do auto de entrega, imóveis e móveis, foram-no em uso e administração, conforme art.ºs 10° e 11°, do Decreto-lei no 11887, de 6 de Julho de 1926. Todavia, as entregas móveis e imóveis foram convertidas em propriedade da Igreja, nos termos do art.º 44.º do Decreto-Lei n.º 30615, de 25 de Julho de 1940, com excepção da Igreja da Atalaia, classificada de Monumento Nacional, pelo Decreto n.º 11453, de 19 de Fevereiro de 1926, que continua como propriedade do Estado Português, com afectação ao serviço da Igreja, administração do imóvel, de acordo com o disposto no art.º 41 do mesmo Decreto-Lei.

(1) Bastante polémica provocou a animosidade da hierarquia da Igreja Católica, nomeadamente, de todos bispos portugueses e da própria Santa Sé e, segundo alguns autores, foi, a par da participação de Portugal na I Guerra Mundial, responsável pela queda da I República (José Relvas, Memórias Políticas, vol. I, Terra Livre, Lisboa, 1977, p. 161)

CONFLITOS SOBRE A LEZÍRIA DA ATALAIA (REINADOS DE AFONSO III E D. DINIS)

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O Tejo depois de calcorrear montes e rasgar vales abraça a borda de água em Vila Nova da Barquinha. A partir daqui espalha a sua tumultuosa riqueza pelas planícies. As lezírias, mouchões e pauis acomodam-se às inundações recorrentes que invadem as terras da beira-rio, sinal de fertilidade e de abundância. Semeiam-se os campos, crescem as espigas e as vinhas, pululam olivais e a maior diversidade de árvores de fruto, avulta o gado cavalar, muar, asinino, bovino, arietino, caprino e suíno. O rio, nas zonas alagadiças, é o grande impulsionador agrícola e mercantil. Não espanta pois que este território, desde os primórdios da nacionalidade, tenha sido alvo de contendas pelo seu domínio ou posse. Os reis da reconquista concederam muitas das terras das lezírias às ordens militares mas quase sempre invocavam para a Coroa “ o direito de reconquista que filhou a terra aos mouros e a pobrou”. As mesmas lezírias foram causa para muitos conflitos no reinado de Afonso II e III, com relace para os casos da Lezíria da Atalaia, no termo de Santarém.
São estes conflitos que dou a conhecer.
Sentença dada por Paio Domingues, Deão de Évora, e Mestre Martinho, como «arvidros e compõedores», em um pleito sobre a propriedade da Lezíria da Atalaia, termo de Santarém, em que eram A. (autor) e R.(réu) respectivamente o Concelho desta vila e Lourenço Esteves de Fremoselhe, Arcediago de Viseu. O R. herdara a referida lezíria de Estêvão Joanes, Chanceler de D. Afonso II, o qual a houvera por doação do Concelho de Santarém que alegava, agora, a nulidade desta doação por haver sido feita sob coação e por temor do donatário. Os juízes julgaram nula a doação e ordenaram a restituição da mesma ao Concelho, ao qual ficaria pertencendo de pleno direito em propriedade e posse. Na sentença são transcritos por íntegra: 1) - Procuração, com poderes forenses, ao «tenente» do Alcaide, aos Alvazis, Almoxarife d’el-rei e Homens bons, datada de 12-11-1281, redigida em português. 2) - Compromisso de arbitragem entre as partes pelo qual os AA. escolhem como árbitro Paio Domingues, e os réus Mestre Martinho; datado de 12-2-1282. 3) - Libelo dos autores; sem data. Dada em Santarém, em 5.a feira, de Fevereiro de 1282. Lavrada pelo tabelião Lourenço Esteves. 530 X 259 mm., bem conservada. Teve 4 selos todos pendentes por cordão de lã vermelha, dos quais se conservam apenas o do Concelho de Santarém e um fragmento do último que era de cera vermelha e deve ser o do réu. «Gaveta» 3, M.º 7, N.º 5. Sumariado na Reforma dos documentos das Gavetas, L.º 7, fI. 116; e transcrito por íntegra na «Leitura Nova», L.º 12 da Estremadura, fI. 168, col. 1.ª. Num sumário lançado no v.º do pergaminho, por letra coeva, lê-se «Carta de juízo de avença... ». Como representantes do Concelho outorgam os seguintes indivíduos: Martim Mendes, «tenente» do Alcaide D. Martim Dade; Geraldo Rodrigues e Rui Pires, Alvazis; Estêvão Gomes Ramos; Pedro Esteves, Almoxarife d’el-rei na vila; João Gomes; Felipe Guilherme; Martim Anes, o Cancelas; João Gonçalves; Mendo Afonso; João Eanes do Ferrageal e Estêvão Eanes, o Caçapo. Quatro selos, pendentes por cordões de lã vermelha, dos quais apenas restam o do Concelho e um fragmento do último, irreconhecível, de cera vermelha. O de Santarém é de cera vermelha, de 2 faces. Circular; tem ainda visível no anverso, vestígios da orla circular formada por uma linha ponteada. Mal conservado, pois lhe falta o rebordo e parte da legenda, além de os relevos estarem já algo apagados, especialmente no reverso. Diâmetro: 630 mm. Anverso: ao centro um quadrado com 45 mm. de lado, formado de uma linha ponteada entre 2 filetes paralelos; no espaço dos segmentos circulares a legenda: SIGILL ... / ... / VILLA / ... CARE ... / em caracteres capitais romanos, mas o E uncial. No campo, um castelo de três torres ameíadas, as duas laterais mais baixas e defendidas cada uma por um muro ameíado, espécie de adarve, e rasgado de 1 porta e 2 janelas. A torre central, defendida por muro ameíado onde se rasga uma porta de arco ultrapassado. Em chefe, assente na torre central., o escudo português formado de 5 escudetes, com os 2 laterais horizontalmente; vestígios das arruelas. A silharia das torres muito regular e quadrada. A porta da torre central, em nível mais elevado, tem em frente um pavimento de lisonjas. Reverso: na mesma disposição do campo e da legenda. Desta lê-se: ... U ... / CONCILll / DE VILLA / … Campo quadrado, com 40 mm. de lado. Mesma disposição das torres, muros e portas; porém, o número dos cubelos das torres é menor (3 e 4, e não 4 e 5) e estas de menores proporções. As torres laterais tem 5 (?) pavimentos; a porta da central ladeada de seteiras; nesta, ao alto, o escudo como ficou descrito; as duas torres laterais mais largas na base.” “ Transacção amigável acordada entre o Alcaide, Alvazis e Vereadores do Concelho da vila de Santarém, Lourenço Esteves de Formoselhe, Arcediago de Viseu, e o Prior e Convento de S. Martinho de Crasto, pela qual o referido Concelho se obrigava a dar anualmente ao dito Mosteiro a quarta parte dos frutos da Lezíria da Atalaia, da qual, em sinal de reconhecimento de domínio, o mesmo Lourenço Esteves dava ao Concelho um móio de pão meiado anualmente, tudo isto em vida apenas do dito Lourenço Esteves. Ambas as partes desistem de todo o seu direito e acção, dão-se mutuamente quitações e prometem, sob juramento das Evangelhos e obrigando todos os seus bens, assim o cumprir fielmente. Após a morte do Lourenço Esteves a lezíria da Atalaia ficaria pertencendo em plena propriedade ao Concelho. A transacção fizera-se em virtude do Chanceler Estêvão Joanes ter deixado em testamento a pensão anual de 30 moios de trigo, imposta na dita Lezíria, ao Mosteiro de Crasto. Com êste doc. correlaciona-se o aqui sumariado sob o N.º ... Na transacção estão transcritos na íntegra: 1) - a procuração, de 20-6-1282, com poderes forenses, passada pelo abade Pedro Martins e convento do Mosteiro de S. Martinho de Crasto a Domingues Esteves, cónego do mesmo Mosteiro; 2) - confirmação pela Sé de Braga, passada em nome do arcebispo D. Telo, da transacção referida, datada de 20-6-1282. Lavrada em Santarém, em 10 de Julho de 1282, pelo Tabelião Pedro Esteves e com o reconhecimento autógrafo e respectivos sinais públicos dos Tabeliães públicos de Santarém: Estêvão «Juliani», João Paes, Fernando Joanes, Domingos Martins e Salvador Jaques. Gaveta 3.a, M.º 9, N.º 13.”

Bibliografia: Beirante, Maria Ângela, “O Tejo na construção do poder real na Idade Média portuguesa, de D. Afonso I a D. João I”, separata da Revista da Faculdade de Letras-História, II Série, vol. XV, Porto, 1998.
Boletim da Junta Geral do Distrito de Santarém, ano 6.º, n.º 43, 1936.

CARTAS DE PRIVILÉGIOS À VILA DA ATALAIA

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Uma das paixões de qualquer investigador é datar a origem de qualquer vila.

O desconhecimento das circunstâncias concretas da origem medieval da Atalaia não olvida uma leitura atenta aos documentos agora republicados no presente blog.

Podemos afirmar que a origem da Atallaya, enquanto lugar com privilégios reais remonta, pelo menos, aos primórdios da nacionalidade. As cartas abaixo contam-nos as quezílias da Atalaia, e da Asseiceira, com os territórios vizinhos e confinantes, a criação de póvoas ou, melhor dizendo, de concelhos, além da procura de letra de lei real para pôr termo aos abusos de que eram vítimas os nossos antepassados e, também, através dela adquirir direitos às suas gentes.

Os estudos devem prosseguir procurando esclarecer e divulgar as verdadeiras origens desta bonita vila.

OBS. No fim das Cartas abaixo indica-se a era de ..., exemplo: "(...) era de mil e trezemtos e coremta annos " que corresponde ao ano de 1302. Recorda-se que aquando da feitura da Carta, vigorava a era de César, baseada no calendário juliano que iniciara a contagem dos anos em 1 de Janeiro do ano 38 a.C. Este método de datação vigoraria em Portugal até ao ano de 1422, ano em que por Carta Régia de 22 de Agosto, viria a ser substituído pela Era de Cristo, cuja contagem se iniciava no ano 1 do Nascimento de Jesus.

CARTA DE 1302 DE D. DINIS


“ Dom Dinis per graça de Deus, Rey de Purtugal, e do Alguarve. A quamtos esta carta virem faço saber, que pello muyto mal que amim disseram, e que eu sey certo que se fazia no Soveral da lameira, que he amtre Tomar e a Golegam, matanldo hy os homens, e molheres, e esbulhamdo e tendo lhe hy o caminho, e fazemdo hy muyto mal, e muvto mallfeytoria; pera se partir este mal todo, e todos estes danos e todas estas perdas, emtemdemdo que he serviço de Deos, mamdei, e mamdo ao comcelho de Torres novas, cujo termo é aquelle luguar, que façam hy duas povoras; a saber: huua nallbergaria a que chamam a Ceiceira, e a outra lugar onde chamam Atallaya no caminho, no qual luguar hy devisou Ruy Paees bugalho quando lá foy com os Juizes de Torres, e querendolhe fazer graça e merce a todos aquelles que ha povorarem, e morarem comtinuadamente, tennho por bem, e mamdo que sejam escusados d'ostes, e de fosado, e dadua a que nom vam em ella em nenhuum tempo. Outro sy mamdo e tenho por bem que de todas aquellas vinhas que fizerem nos termos de sas pobras, que nom dem do vinho que nellas ouverem nenhuua releguajem em nenhuum tempo, mas mando, e tenho por bem, que se vinho trouxerem pera hy doutros lugares pera vemder no releguo, que dem de toda carregua huum almude como o custume de Samtarem, e no mais: e o vemdam tambem no releguo em cuba como em tonel, como se cada huum pagar. E outro sy a todos aquelles que esta carta virem, faço saber que eu Recebo em minha guarda, e em minha emcomemda, e sob meu defemdimemto todos aquelles que morarem em esas povoras sobreditas; e seus homens, e seus herdamemtos, e cryados, e todallas outras suas cousas, porque mamdo, e defemdo que nenhuum seja ousado que faça mal, nem torto a elles, nem a seus homens, nem a suas herdades, nem a seus guados, nem nenhuuas suas cousas; e aquelle que ende al fizer, ficará por meu ymiguo, e peitarmia os meus emcoutos de seis mil solldos e corregeria a elles, e a cada huum delles em dobro o mal que lhes fezese, e dey emde aos ditos povoradores esta carta. Damte em Samtarem adesoyto dias de Fevereiro. ElRey o mandou. Francisco Annes a fez, era de mil e trezemtos e coremta annos.” (ano de 1302 d.C.)

2.ª CARTA DE 1303 DE D. DINIS

“Dom Dinis, per graça de Deus, Rey de Purtugal, e do Alguarve. A quamtos esta carta virem faço saber, que eu sabemdo por verdade que se matavam muytos homens, e faziam muitos roubos, e muitas malfeytorias em termo de Torres novas, a saber: no Soveral dabureiras; que he amtre aguoa de cardiga, e bellsega, fiz fazer huua povra no lugar que chamam Atallaya, e outra na Ceiceira, e outra amtre essas povras no lugar que chamam a Tojeira, e eu por minha allma em remimento de meus pecados, querendo fazer graça e merce a eses que morarem em esas povras, quitolhe a minha jugada pera todo sempre do pam, e do vinho, e do linho que ouverem em essas povras, e termo das ditas povras. Em testemunho desto lhe dey esta minha carta, damte em Lixboa a cimquo dias de Setembro. ElRey o mamdou. Afomso Pires a fez, de mil trezentos coremta e huum anos.” (ano de 1303 d.C.)

3.ª CARTA DE 1307 DE D. DINIS

“Dom Dinis, per graça de Deus, Rey de Purtugal, e do Alguarve. A quantos esta carta virem faço saber, que hos povoradores das minhas pobras da Tallaya, e da Ceiceira se me emviaram queixar do mal, e força que lhes faziam os Concelhos de Torres novas, e Tomar, e dalguus outros lugares queremdo por sobre elles Releguos, e portajens, e allmotaçarias, e açouguajem, e mordomado, e outros foros, e custumajens, perque hos derramcavam, e destroyam do que eses povoradores aviam em tal guisa, que nam. podiam sofrer, nem poderiam a hy morar, nem povorar, e pediramme que lhes ouvese merce. E eu queremdolhe" fazer graça, e merce, e porque emtemdo que he meu serviço, Mamdo que estes povoradores nom dem aos ditos comcelhos, nem a nenhuum outro lugoar nenhuua das sobreditas cousas elles, nem os moradores dos termos das ditas pobras; e mamdo, e defemdo aos ditos Comcelhos de Torres, e de Tomar, e dos outros lugares, que lhes nom demamdem, nem filhem nenhuua das ditas cousas, nem ponham sobre elles foro, nem custume allguum; e se lhes allguua cousa tem filhada polla dita resao, mamdo que loguo, vista esta carta, lhe emtreguem, sob penna dos corpos, e dos meus emcoutos: em testemunho desta cousa dey aos povoradores dos ditos lugares estaa minha carta, damte em Samtarem a dous dias dabril. ElRey o mandou por Gilly Annes, seu tisoureiro. Ruy Vasques a fez, anno de mil e trezemtos e coremtae cimquo” (ano de 1307 d.C.)

4.ª CARTA DE 1325 DE D. AFONSO IV

“Dom Afonso, per graça de Deus, Rey de Purtugual, e do Alguarve. A quamtos esta carta. virem faço saber, que hos povoradores das povras datallaya, e da Ceiccira, me mostraram huúa Carta delRey Dom Dinis meu padre, a que Deus perdoee, em a qual he comtheudo amtre as outras causas, que por agravamemtos que lhes faziam os comcelhos de Torres novas, e Tomar, e outros lugares, queremdolhes poer sobre elles Relegos, e portagens, e allmotaçarias, e açoguajees, e mordomos, e outros foros, e custumajens, perque os derramcavam, e destroyam do que aviam, que lhe, pediam sobre esto merce; elRey meu padre vemdo esto, queremdolhe fazer graça, e merce, mamdou que hos ditos povoradores nom desem ao ditos comcelhos, nem a nenhuus outros lugares as sobrditas causas, e elles nem os moradores das ditas pobras, e mamdava aos ditos comcelhos de Torres novas, e de Tomar, e dos outros lugares, que lhes nã demamdasem, nem filhasem nenhuua das ditas cousas; e pediram me por merce, que eu lhes fizese esto comprir, e guardar, segundo era comtheudo na dita carta delRey meu padre: e eu queremdolhe fazer graça, e merce, tenho por bem, e mamdo que lhe seja guardada a dita carta delRey meu padre, assy como em ella he comtheudo, e mamdo aos ditos Comcelhos que lha façam cumprir, e guardar. E em testemunho desto lhe dey esta minha carta, damte em Santarem postomeiro dia de Janeiro. ElRey o mamdou per Mige1 Vivas, seu clérigo. Lourenço Martins a fez, era de mil e trezemtos e sesemta etres annos” (ano de 1325 d.C.)

5.ª CARTA DE 1328 DE D. AFONSO IV

“Dom Afonso, per graça de Deus, Rey de Purtugal, e do Alguarve: a todallas Justiças; corregedores dos meus Reynos, que esta minha carta virem, faço saber os povoradores da minha povora datallaya, e Ceiceira me diseram que vós lhe nom queriades leixar levar as viamdas que ham mister pera dita povora, e esto nam tenho eu por bem se asy he, porque vos Mamdo a cada huum de vós em vossos lugares, que vós lhe leixes levar as viamdas ho que ham mister pera dita povora por seus dinheiros, e nom lhes embarguedes o que al nam façades, se nam a vós me tornaria eu porem, e peitarmiades os meus emcoutos. E em testemunho desto lhe dey esta minha carta, damte em Miramda adezasete de Janeiro ElRey o mamdou por Estevam Pires. Joham Lopes a fez, era de mil e trezemtos sesemta e seis annos.

Todas as cartas são originais, apresentadas perante a autoridade real, conforme se infere do Livro 28 da Chancelaria d’ElRei D. João III, fl. 1

1. As quaees cartas asy mostradas como dito he, o dito Estevam Paees, precurador do dito comcelho, em seu nome nos pedio que elle se temia de se as ditas cartas perderem per foguo, ou aguoa, ou allgum outro cajam; e que se emterndiam dajudar dellas ao diamte, que lhas mamdassemos dar o trellado das ditas cartas, e privilegiós pella guysa que em ellas he comtheudo; e nós vemdo as ditas cartas em como nam eram riscadas, nem viciadas, nem em nenhuum lugar sospeitas, Mamdámos lhe dar o dito trelado em esta nosa carta testemunhavel, selada com noso sello pemdemte; em testemunho desta lhe mamdámos dar esta nosa carta, damte na cidade de Lixboa quimze dias de Novembro. ElRey o mamdou por Lourenço Annes Fogaça, seu vasallo &c. Gil Vasques a fez, era de mil e quatro centos e vintoyto annos.

2 . Pedimdonos o dito concelho que lhas quisesemos asy confirmar, e nós visto seu Requerimento, queremdo-lhe fazer graça e merce, temos por bem, e confirmamoslha como se nela comtem. E asy mamdamos as Justiças que lha cumpram imteiramemte como nela he comtheudo, sem allguua duvida, nem embarguo allguum. Dada em Samtarem a dous dias do mes de Junho. Fernam de Pina a fez. Anno de noso Senhor Jesus Chrispto de quatrocentos e oytemta e sete annos.

3. Pedimdonos o dito comcelho que lhe comfirmasemos as ditas cartas aquy comtheudas, e vysto per nós seu Requerimento, e queremdolhe fazer graça e merce, temos por bem e lha comfirmamos asy, e pela guysa, e maneira que se em ella comtem. E asy mamdamos que se cumpram, e guardem imteyramemte sem nenhuma duvida; dada em a villa destremoz a vimte cimquo dias de Dezembro. Vicente Pires a fez. Anno do nascimento de noso Senhor Jesus Chrispto de mil e quatro cemtos novemta e seis annos. Pedimdome os sobreditos que por lhe fazer merce lhe comfirmase as ditas cartas á dita villa datallaya, e visto por mym seu Requerimemto, queremdolhe fazer graça e merce, tenho por bem de lhas comfirmar, e mamdo que se cumpra, e guarde como nellas se conthem. Bastiam Lameguo a fez em Lixboa a desanove de Setembro de mil e quynhemtos e vimte oyto annos.

Bibliografia: MEMÓRIAS DA ACADEMIA REAL DAS SCIENCIAS DE LISBOA, TOMO VIII, PARTE I, 1823 e Livro 28 da Chancelaria d’ElRei D. João III, fl. 1

A RESTITUIÇÃO DOS BENS DA IGREJA DA ATALAIA EM 1931

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Por: António Luís Roldão

A perseguição movida pelos detentores do movimento republicano em ordem à instauração de um modelo político capaz de dar satisfação às legítimas aspirações do povo, saldou-se por um evidente fracasso. O mal da nação não estava na igreja Católica nem na sua doutrina, antes na incapacidade das cabeças pensantes e politizadas chamadas a corrigir os erros, os desvios, os abusos e o autoritarismo que minavam o país, sendo impotentes para obter um êxito sustentável. Essa incapacidade leva-os a ver fantasmas onde quer que fosse, obstáculos aos seus propósitos de governação, olhando a Igreja Católica e tendo-a como principal inimiga e impecilho do processo reformista pensado para a salvação da Pátria. O arrolamento dos bens da Igreja ocorrido em 1911 e a suspensão do culto católico até 1917, foram das principais medidas de coação tomadas, tendo por objectivo a asfixia da religião. A Atalaia, a sua Igreja e as Capelas que se estavam sob a sua alçada, a do Senhor Jesus da Ajuda; a da Moita; das Vaginhas e S. Caetano, viram-se espoliadas e impedidas do uso regular dos seus bens durante muitos anos. É a restituição desse espólito feito em 10 de Janeiro de 1931, como peça histórica que agora se revisita, dando conta dos actores presenciais e autorizados em acto tão importante; Francisco Monteiro da Silva; Joaquim José Vieira; João dos Santos Gil; Manuel Rodrigues Maia; Bernardino Gomes; Luís Falcão de Somer e Luís Augusto da Costa Ramos.

TEOR DO DOCUMENTO

Inventário ou arrolamento da Igreja da Atalaia – Igreja Paroquial ( Monumento Nacional ) sacristia, casa da Irmandade, e dependências. Casa e dependências foram demolidas na ocasião das obras de restauração da Igreja (Monumento Nacional – 1939). Uma custódia de prata, com pedras; um cálice rico, de prata dourada, com pixide (vaso do sacrário) de prata dourada; uma dita de metal dourado; uma cruz de prata para a extrema unção; dois pequenos resplendores de prata; duas pequenas caixas de prata para os santos; três lâmpadas de latão amarelo; dois turibulos e suas gavetas com colheres, tudo de metal amarelo; uma pequena campainha; três sinos na torre e um no relógio; uma caldeirinha para água benta de metal amarelo; ambulas de estanho para os santos óleos; uma concha de metal para os baptismos; uma chave de sacrário com fita encarnada; trinta e dois castiçais de pau dourado para os altares; quatro crucifixos de pau dourado, dois tocheiros na forma de castiçais para junto do altar-mor; seis varas do palio douradas; duas lanternas para junto do páleo; uma cruz processional; dois tocheiros processionais; duas cadeiras de couro (velhas); sete bancos de madeira de pinho; uma credencia, um banco com três assentos e almofadas; uma escada para as lâmpadas; um pequeno arcaz para arrecadação de roupas e alfaias; dois confessionários volantes, uma estante de missal; dois missais e três sacras; cinco pedras de ara, vinte jarras de porcelana; um berço do Menino Jesus; um sudário; uma capa de asperges de damasco roxo; uma capa de asperges de damasco branco, duas dalmáticas, estolas e cingulos de damasco branco; uma casula de damasco branco com estola e cingulo; mais duas idênticas; uma encarnada; uma verde; uma roxa; uma preta; cinco bolsas de corporais de diferentes cores; seis véus do cálice de diferentes cores; um pequeno véu de damasco para a estante do missal; uma estola paroquial de damasco branco e roxo; uma estola paroquial de damasco preto; uma manga de cruz de damasco branco; uma manga de cruz de veludo preto; um pavilhão de damasco branco do sacrário (velho); um pavilhão de damasco encarnado; um pavilhão de damasco do esquife, branco; um palio de damasco branco para seis varas; um frontal de damasco branco, com ramos; outro do mesmo tecido, sem ramos; um frontal de damasco branco/encarnado (velho); uma umbela de damasco branco; um reposteiro de damasco encarnado da porta principal; duas pernas de sanefas do arco do cruzeiro – de damasco encarnado; dez sanefas de damasco encarnado (bastante rotas); doze pernas de damasco encarnado; uma sanefa e pernas de algodão encarnado; cinco capas de lã encarnada (velhas); cinco capas de lã branca; treze toalhas de linho dos diferentes altares; dez toalhas de algodão; três alvas de linho; três amitos de linho; três cingulos para as alvas; oito sanguíneos; três manustergios; uma sobrepeliz; um Ritual de Paulo V; cinco coberturas de chita para os altares; Imagens = Nossa Senhora da Assunção - padroeira da freguesia; S. Francisco de Assis; Nossa Senhora do Rosário; Santo António; Menino Jesus; um quadro em tela (N. Srª da Piedade) um dito – S. João Baptista. O processo de onde é possível extrair a presente peça histórica contempla a restituição das alfaias litúrgicas e paramentaria das referidas Capelas dispersas pela paróquia Atalaense, curioso e exemplar documento na minúcia do inventário e na preocupação de restituir inteiramente os espólios arrolados em 1911. De salientar, como nota final, a presença, no rol dos figurantes a quem cabe a responsabilidade de receber de volta, os pertences da Igreja, a presença de políticos coniventes com os comissários da República, creio que por aproveitamento e segurança dos estatutos sociais mais do que por convicção.

Volume 1, Edição 1, do Centro Social e Paroquial da Atalaia, IPSS, Centro de Dia e Creche, CRESCER SOLIDÁRIO

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O Centro Social e Paroquial da Atalaia (CSPA) constituiu-se para dar expressão ao dever moral de solidariedade e justiça entre os indivíduos, para fins de apoio às crianças, à família, à integração social e comunitária e de protecção na velhice. Este dever moral de prestar assistência é ao mesmo tempo dever cívico ou de justiça social e preceito religioso de caridade.
Dos estatutos do Centro Social e Paroquial da Atalaia (CSPA) consta a existência de uma Liga de Amigos cujos objectivos são os de apoiar e colaborar na prossecução das actividades do Centro quer através de trabalho voluntário quer de singela contribuição material.
A obra erigida pelos atalaienses, a funcionar desde Setembro de 2011, tem dado uma ajuda preciosa aos idosos e às famílias com filhos menores. É desejo dos seus responsáveis alargar essas respostas tendo já adquirido uma propriedade do lado norte com o Centro para futura ampliação. Contudo, infelizmente, a instituição tem necessidades financeiras uma vez que o investimento nas instalações foi elevado a que acresceu a compra de terreno para ampliação futura.
Portanto, atalaienses, unamos esforços para prosseguir uma obra que é de todos. É fundamental que cada um de nós se inscreva e faça parte da Liga ou que ajude de qualquer forma. Só uma participação activa procriará riqueza para os presentes e para os vindouros. Como ajudar de imediato, questionar-me-ão? Em todos os últimos sábados de cada mês a Liga organiza um jantar no Centro para a recolha fundos. Cada inscrição tem o valor de 10€. O 1.º jantar foi um sucesso com a sala completa. Vamos continuar pois sabemos que são os grãos pequeninos que dão frondosas árvores!

A ATALAIA E A BARQUINHA NOS CAMINHOS DE SANTIAGO

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Nos tempos da idade média a fé cristã emanava no nosso território e construíam-se magníficos templos, que ainda hoje podemos apreciar, como é exemplo a Igreja da Golegã, a Igreja da Atalaia e o Convento de Cristo em Tomar.
Nas urbes e vilas circulavam pessoas e acolhiam-se viajantes, cruzados ou mercenários, homens de paz, artesãos e salteadores que calcorreavam a nação à procura do sustento material e espiritual.
Também na nossa região se cruzavam numerosos peregrinos recordando que a vida religiosa, o misticismo e a fé em Cristo eram valores de elevada grandeza no quotidiano do homem medieval.
Desde meados do século XIII que todos os caminhos tinham um denominador comum, a atracção ao túmulo do Apóstolo S. Tiago, em Compostela, Espanha. O fim era o cumprimento de promessas, remição dos pecados, conhecimento de outras terras ou simplesmente a singela curiosidade. Conta a história que depois da morte de Jesus o apóstolo São Tiago foi pregar para a Galiza, à data província do império romano. No seu regresso a Jerusalém veio a ser preso e depois decapitado. Todavia, dois de seus discípulos conseguiram recolher o corpo e, numa barca, trouxeram-no de volta para Compostela onde o sepultaram, secretamente, num denso bosque. Um ermitão, de nome Pelágio, presenciou uma queda de chuva de estrelas sobre esse preciso local. Então, o bispo Teodomiro ordenou que escavassem nesse lugar. Aí se descobriram os restos mortais do apóstolo Tiago. A novidade espalhou-se por toda a Europa e os cristãos iniciaram jornadas de fé que deram origem aos designados “caminhos de Santiago”. Compostela passou a ser o segundo oráculo mais importante para o cristianismo, a seguir à cidade santa de Jerusalém.
O designado caminho do sul de Santiago, com origem no Algarve, passa por Santarém, Golegã, Cardiga, Atalaia e segue para Tomar e Coimbra onde se cruza com outros caminhos. No nosso território, na era medieval, o caminho ou estrada era utilizado por gente simples, incógnita, santos, e reis como por exemplo o grande rei Filipe II que em 1580, vindo das Cortes de Tomar a caminho de Lisboa, descansou na Quinta da Cardiga. Aliás, tal caminho é referenciado muito antes, em 1302, por D. Dinis que na sua carta declara: “Dom Dinis per graça de Deus, Rey de Purtugal, e do Alguarve. A quamtos esta carta virem faço saber, …façam hy duas povoras … Ceiceira, e a outro lugar onde chamam Atallaya no caminho”. Tal caminho, de importância estratégica territorial, pois ligava a Cardiga à sede da Ordem de Cristo, tinha uma ponte na Quinta da ponte da Pedra. A mesma é referenciada nos Tombos de 1504 da Quinta da Cardiga.
Também, Frére Claude de Bronseval, escrivão de Dom Edme de Saulieu, abade de Claraval, visitador das comunidades monásticas cistercienses, em meados do séc. XVI (1532-1533), conta-nos: “ … chegamos finalmente a uma grande vila chamada Atalaia. Tomamos uma refeição leve e saímos para pastar os cavalos que entraram num vale largo e longo, caminhámos para dois lugares por estrada plana, mas numa região com terrenos pouco cultivados…” (1). O caminho de peregrinação/estrada real era engrandecido com construções de apoio aos peregrinos como albergarias ou hospedarias e hospitais. Na Atalaia, pelos inquéritos paroquiais de 1758 sabemos que tinha “… casa de Misericórdia e anexo com Hospital (albergaria, local de abrigo e hospedagem), para os passageiros e Casa para todo o religioso que vai de passagem para poder pernoitar“. Também, a ermida da Nossa Senhora do Rocamadour, na Barquinha (2), era um pequeno espaço de liturgia e de meditação e albergue de peregrinos que se dirigiam a Santiago de Compostela. A existência destas instituições “ … como expressão de caridade cristã, no exercício das obras de misericórdia, respondiam, de certo modo, aos ensinamentos do capítulo XI do livro V do Codex Calixtinus quanto à obrigação de acolher os peregrinos de S. Tiago, fossem eles ricos ou pobres” (3).
Apesar de já não ser possível percorrer o antigo caminho na sua totalidade - porque a construção de estradas e de habitações apagou alguns percursos - hoje ainda podemos ver caminheiros de Santiago que fazem basicamente o mesmo percurso medieval. Estas pequenas alterações não são impeditivas para que os crentes procurem, junto do túmulo de Santiago, lenitivo para a salvação das suas almas.
(1) Bronseval, Frére Claude, Peregrinatio Hispanica, 1531-1533, tomes I e II, Paris, 1970.
(2) A primeira referência à ermida data do reinado de D. Manuel e diz respeito à sua administração “…das capellas que se acharão na leitura D’Elrei D. Manuel”. Inventário dos Bens eclesiásticos pertencentes ao padroado real ordenado em Julho de 1573 por D. Sebastião. in Fontes Documentais Portuguesas III, Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, 1971
(3) Marques, José. Revista da Faculdade de Letras, História - Os Santos dos Caminhos Portugueses, 2006.


O CENSO LOCAL DE 1878

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Por: António Luís Roldão

No princípio do ano de 1872, a Câmara Municipal da Vila Nova da Barquinha elaborou um mapa estatístico onde constavam, pormenorizadamente tratados, o número de fogos e o montante das populações residentes nos diversos lugares conhecidos do espaço concelhio. Tratou-se de uma tentativa mais abrangente e ambiciosa do que aquela que se fazia regularmente, contentando-se tão somente em conhecer a quantidade dos fogos e as populações das freguesias, levantamentos feridos de algumas grosseiras distorções e irregularidades fáceis de detectar por comparação, devidas por certo à insuficiente capacidade, à pouca competência e engenho das pessoas incumbidas dessa responsabilidade.

Esse realismo é evidente e ressalta da análise comparativa que se faz dos resultados inscritos nas tábuas para o efeito reduzidas a escrito e oficialmente remetidas ao Governo Civil, em obediência aos preceitos administrativos.

A organização do documento de 1872 pauta-se por uma mais ampla abrangência de resultados, ultrapassa os limites regulamentares das tábuas anteriormente referidas, pois que, desta vez, vai ao fundo da questão, identificando a natureza dos fogos e das populações residentes, não somente nas freguesias mas especificamente em todos os lugares publicamente conhecidos do território concelhio.

Constitui um instrumento de assinalado interesse documental pelo facto de demonstrar como se espalhava o povo de Deus neste assinalado espaço. É uma primeira e séria abordagem para o passo mais longo e complexo, que, por amadurecimento ao longo dos anos irá resultar no censo de 1878, naquilo que poderemos traduzir com toda a propriedade como o marco fundamental do conhecimento organizado e estruturado das potencialidades do concelho, nas vertentes sócio-económicas.

Apreciemos…

Lugares

Fogos

Habitantes

Atalaia

93

380

Moita

156

594

Vaginhas

64

263

Pedregoso

7

31

Lameira

1

10

Casal do Doutor

1

2

Casal do Médico

1

4

Vale do Seixo

1

4

Moinho do Bonito

1

4

Casal do Frade

2

5

Porto Beiçudo

1

7

Quinta do Amaro

1

5

Ponte da Pedra

1

44

Barquinha

230

953

Praia

69

307

Fonte Santa

4

20

Casal do Jacinto

3

13

Vale de Poços

6

24

Madeiras

1

2

Pintainhos

21

93

Fontainhas

3

8

Figueiras

5

24

Laranjeira

30

118

Portela

9

38

Limeiras

16

69

Outeiro

26

105

Caneiro

12

58

Matos

13

59

Casal do Rio

1

8

Acampamento

6

26

Tancos

57

246

Com naturais e ligeiras alterações quantitativas, quanto aos índices demográficos, relativamente ao esboço de 1872, são elucidativos das vivências da população na segunda metade do século XIX. Revisitam-se, ao pormenor, como espelho curioso e singular de uma época que o pó do tempo acabou por cobrir do esquecimento, sobrando-nos este memorial recordativo.

A realidade do concelho era, então, composta de duas realidades económicas distintas, nem sempre complementares no harmonioso dos resultados. A primeira, importante e absorvente do extracto de uma sociedade aburguesada tinha, nos proveitos fáceis e generosos da vila fluvial – o Tejo – nos negócios de água abaixo e água acima, a tentação fundamental e apetecida. Geradora de riquezas sem necessidade de grandes investimentos, agrupava o grosso dos negociantes estabelecidos com casa própria, cómoda e próspera. Segunda, traduzida no mundo rural – agricultura e pastorícia – constituía o complemento daquela, no rendimento que a terra era capaz de proporcionar, nas parcelas adaptadas ao cultivo da oliveira, da vinha e aos produtos de menor valia. A mata, propícia ao pastoreio do gado e produtora das madeiras e das lenhas para o aquecimento doméstico, associava-se aos proveitos. No capitulo do mundo rural e na vertente da agricultura e nas suas variantes, revele-se, já, a opulência da Quinta da Ponte da Pedra, impondo-se como potentado entre os seus pares, na diversidade e número dos seus rebanhos e no povo activo (44 elementos) para gerir, eficazmente, o tratamento das lides agrícolas. Os aspectos sócio-económicos são tratados ao pormenor, no parecer desses procuradores de coisas importantes e vitais para a subsistência, enraizamento e fixação das populações.

ANIMAIS DE CARGA E TRANSPORTE: é referida a existência de 26 cavalos e 16 muares, distribuídos pelos lugares mais concorridos, força capaz de movimentar as 37 viaturas de dois rodados, achadas pelos inquiridores. Parece-me insuficiente o número peca por defeito se avaliarmos o importante e valioso desempenho que o transporte desempenhava na movimentação das cargas do mundo agrícola e das mais apetecidas e reclamadas no tocante ao tráfego fluvial. Mas, é esse o número constante.

GADO VACUM: existia, apenas, um contingente de 50 unidades na Ponte da Pedra, elemento elucidativo, entre outros, da capacidade criadora e produtiva dessa casa.

GADO LANIGERO: foram contadas 1977 unidades, com particular relevância os efectivos encontrados na Moita – 200: Ponte da Pedra – 500: Barquinha – 700 e Tancos – 400.

GADO SUÍNO: dá-se conta de 229 unidades, com evidência nos efectivos da Ponte da Pedra – 40 e da Moita, com 50.

No respeitante aos MOINHOS DE VENTO, existiam dois, um na Barquinha e o outro em Tancos e quanto aos de ÁGUA, são 13 no total, 10 dos quais em Tancos e os restantes no Vale Seixo, no Porto Beiçudo e na Ponte da Pedra.

FORNOS: são eles 135, dispersos por todo o território, particularmente na Atalaia, com 20; Moita, com idêntico número; a Barquinha, com 30 e Tancos, com 10, os mais significativos.

POÇOS E CISTERNAS: encontram-se 53 ao longo do espaço concelhio, contribuindo para as necessidades do abastecimento de água das populações, obtendo nas fontes e nas correntes do Tejo e do Zêzere um contributo suplementar, sem perigos ou implicações de monta.

Não me alongo mais na análise deste interessante repositório de uma época de prosperidade concelhia, que, em certos aspectos, nos dá que pensar.

Publicado no Jornal Novo Almourol MAR12 n.º 371

ATALAIA e MOITA (1930-1940)

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Mão amiga fez-me chegar o n.º 1 do Boletim da Junta de Província do Ribatejo. Do mesmo retirei o texto abaixo que dou a conhecer ao público em geral e, em especial, aos moitenses e atalaienses.
Eis mais factos para as memórias destas duas localidades, Atalaia e Moita do Norte.


A freguesia de Atalaia, que tem a sua sede na vila do mesmo nome, tem por orago Nossa Senhora da Assunção. No ano de 1600 a sede da freguesia já tinha a categoria de vila. A freguesia é de 2.ª ordem, supondo-se que a sua criação remonta ao século XI.
População - 1.068 habitantes, sendo 532 varões e 536 fêmeas. O número de famílias é de 445.
Correios, telégrafos e telefones - Tem caixa posta rural na sede da freguesia, o mesmo se dando em Moita do Norte. Não há telégrafo nem telefone.
Localização - A vila de Atalaia está situada num monte. Dai lhe provém o nome porque deriva do árabe: Ata-laã, isto é, monte donde se pode vigiar (Atalaiar).
Lugares e lugarejos - Lugar: Moita, a 1.900 metros.
O maior aglomerado de habitações existe na sede da freguesia.
Feiras - No dia 20 de Janeiro tem lugar, na sede da freguesia, a chamada Feira da Atalaia. vulgarmente conhecida pela Feira dos Porcos por nela só se transaccionar gado suíno. Os velhos almanaques (os de 1700 e 1702, por exemplo). já mencionavam a Feira da Atalaya.
Mercados - Não se realizam.
Festas tradicionais - Em Atalaia há uma festa anual ao Senhor Jesus da Ajuda, comemoração imemorial. Esta imagem era, em tempos idos, muito venerada pelos habitantes. O tempo diluiu esse culto. As festas são organizadas por uma comissão de festeiros nomeada no terceiro dia da festa. Constam de arraial, reminiscência dos tempos primeiros, talvez da Igreja antiga, onde o culto tinha sempre uma parte profana de folguedos populares, de fogo de artificio, de jogos e cavalhadas. Influência árabe não era certamente, nem a aconselharia; temos de aceitar a influência romana que dominou na Península, culto a Ceres (festas religiosas e profanas), a Diana, etc. Estas festas, que duram três dias, realizam-se em Agosto, em dias variáveis.
Há outra festa tradicional no lugar da Moita, a Senhora dos Remédios, em dia variável, festa religiosa com folganças populares (bazares, jogos, chá, etc.).
Vias de comunicação - Não é sede de estação de caminho-de-ferro. As estações que lhe ficam mais próximas são as de Entroncamento, a 3 quilómetros, e a de Barquinha, a 2,5 quilómetros, e para as quais não há carreiras de camionete.
Distância às povoações mais próximas - A Tomar, 16,500 quilómetros; à Barquinha, sede do concelho, 2,5 quilómetros; à Golegã, 9 quilómetros; a Moita do Norte, 1.900 quilómetros; a Torres Novas, 9 quilómetros, e ao Entroncamento, 3 quilómetros. Na área da freguesia passa uma estrada nacional. a n.º 60, que se destina a Tomar. Portos fluviais, não tem. O Tejo fica à distância de 3 quilómetros e meio, tomando a direcção da Barquinha. Não tem automóveis de aluguer.
Produção - A sua principal produção agrícola é o azeite. Como produção industrial há algumas oficinas de olaria; a manipulação dos artefactos é ainda produzida pelos meios rudimentares, ancestrais mesmo; a única roda de pé sobre a qual assentam o barro amassado. Estas olarias existem desde tempos longínquos, exportando para as feiras e mercados de Tomar, Barquinha, Constância, Golegã, Torres Novas, etc. Há na freguesia duas azenhas (tipo primitivo) e 9 lagares de azeite, 2 na Moita e 7 na Atalaia. Possui também oficinas de pirotecnia que muito se têm desenvolvido. A produção que mais se tem desenvolvido e que predomina é a da oliveira. Não tem muitos terrenos incultos. A agricultura é feita por processos primitivos (o arado e a cava manual). Não existem baldios.
Comércio - A principal natureza do seu comércio é a olaria. Predominam os estabelecimentos mistos. As localidades com que mantém mais relações comerciais são Tomar; (olaria) e Barquinha (comércio em geral). Não tem farmácia.
Instrução - Em Atalaia há escolas para os dois sexos. Em Moita do Norte há uma escola mista com horário alternado. A freguesia de Atalaia é a que contém número menor de analfabetos entre as freguesias do concelho; se extrairmos as pessoas maiores de 55 anos, cuja educação primária foi descurada, nota-se que o número de analfabetos é sensivelmente inferior ao das outras freguesias do concelho.
Associações e instituições - Na Moita do Norte há uma Casa do Povo, criada em 28 de Março de 1934, que tem um grupo musical e uma instituição de assistência e previdência que lhe está anexa e cuja acção se tem feito sentir benéfica e valiosamente. Em Atalaia há um grupo musical e uma sociedade de recreio, na qual se têm realizado récitas, que vive de recursos próprios, isto é, de cotas mensais e do produto das diversões que organiza.
Monumentos - A belíssima igreja quinhentista de Atalaia (monumento nacional por decreto n.º1\1.453, de 19 de Fevereiro de 1926, é de três naves. No lado do Evangelho está o túmulo de D. José Manuel, 9.° filho de D. Luiz Manuel de Távora, 4.° Conde de Atalaia, com um epitáfio em latim de que a seguir se dá a tradução: D. José. Manoel I, Cardeal Presbítero da Santa Igreja Romana, Patriarca da Santa Igreja de Lisboa. Regeu o Patriarcado durante 4 anos, 1 mês e 19 dias. Viveu 72 anos, 6 meses e 14 dias. Faleceu no ano do Senhor 1758, no dia 9 do mês de Julho. Descanse em paz.» Este senhor faleceu na Atalaia e foi o 2.° Patriarca de Lisboa. Fora eleito em 1754 e feito cardeal em 1747. Na coluna do arco do cruzeiro da capela mor está a data 1528. O púlpito tem a data de 1674.
Factos notáveis - A freguesia de Atalaia foi uma das maiores vítimas das invasões francesa. Em 1810 e 1811, épocas dolorosas e amargas, foram assassinadas mais de 400 pessoas, segundo se verifica nos assentos paroquiais. Os soldados franceses cometeram imensos assassinatos na vila de Atalaia e no lugar da Moita. Todavia as guerrilhas não ficaram inactivas. Muitos soldados inimigos jazem nas charnecas e olivais assassinados por todas as formas. Tão importantes foram esses recontros que mereceram a investigação do Coronel de Engenharia Garcez Teixeira e do antigo Secretário da Administração do Concelho da Barquinha, Júlio de Sousa Costa, que publicaram nos Serões de Tancos.
“A.B.C” de Rocha Martins e na imprensa, crónicas interessantes sobre o assunto. A invasão francesa deu mais de 200 crónicas históricas ao segundo daqueles senhores. Os Serões de Tancos são um repositório dos grandes acontecimentos de então, sem auxl1io algum particular ou oficial.
As lutas do Constitucionalismo tiveram também a sua repercussão e foram publicadas crónicas sobre essas épocas em vários jornais do distrito. Tão importante é esse manancial que já estão completos três volumes, que ainda não viram a luz por falta de auxílio. É seu autor autor Júlio de Sousa Costa e parece que ainda se colherão apontamentos para mais um volume documentado. Pela Atalaia, na tarde de 16 de Maio de 1834, passaram fugidos da Asseiceira, onde se havia travado a batalha entre miguelistas e liberais, soldados derrotados nesse prélio. Vinham esfomeados, cansados e temendo as represálias. A alguns deram os habitantes de comer e beber mas tanto medo traziam que recebiam as vitualhas e iam comendo e sempre a fugir.
Também a freguesia não ficou insensível aos movimentos políticos do tempo de D. Maria II (1846·1848). Daí para o futuro não mais se interessou nas lutas partidárias. Só em 1908 e 1909 é que acompanhou o movimento republicano com muito entusiasmo.
Livros que se referem à freguesia - Ribatejo Histórico e Monumental de F. Câncio, e crónicas dispersas em jornais, artigos nos jornais da Chamusca, Entroncamento e outros.
Águas - Na Atalaia o abastecimento de águas é feito por uma fonte pública e um poço. Na Moita, por um chafariz a 800 metros. Está-se construindo um depósito de cimento armado para um poço, além de poços para a colheita da água para usos e lavagens.
Não tem qualquer água com propriedades medicinais. Na freguesia não há rede de esgotos nem é obrigatória a construção de fossas.
Luz eléctrica - Na Moita do Norte há iluminação eléctrica, ao preço de 2$00 o Kilowate, fornecida pela Câmara Municipal da Barquinha e produzida pela Empresa Hidro-Eléctrica do Alto Alentejo. Na sede da freguesia a iluminação pública é a petróleo.
Condições geológicas - Terras: barrentas (80% a 85%) donde se extrai o barro para a indústria que é a única na terra: a olaria.
Rios e ribeiros - Cursos de águas dignos de figurarem nos mapas não há. Apenas ribeiros que secam no verão e que nem figuram nos mapas do Estado-maior.
Igrejas e capelas - Atalaia - A igreja matriz merece ser visitada. Possui belíssimos azulejos, século XVII.
Moita - A capela da Senhora dos Remédios, sem arquitectura. Reedificada, talvez, nos princfpios do século XVIII; sem ornamentação e estilo. Nesta capela deu-se, segundo a tradição oral dos velhos Barbosas e Farinhas um desacato que indignou a população da Moita. Soldados franceses, acenderam as velas dos altares e deram lá um baile. O que se passou depois com as pobres raparigas da Moita, que os franceses foram buscar à força às suas casas, é tudo quanto há de mais indigno. Há uma crónica, baseada em informações, que descreve esse estúpido divertimento que teve um desenlace trágico e comovente. Trágico porque revelou uma triste fotografia do carácter humano; comovente porque foi revestido da mais cruciante e dolorosa amargura. As guerrilhas do célebre Madrugo, porém, vigiavam os franceses e a desforra parece que foi cruel e sanguinolenta. Era a guerra.
Cruzeiros e Alminhas - Havia um cruzeiro na Atalaia que o camartelo destruiu há muitos anos, talvez há mais de sessenta. Parece que constava duma cruz assente num pedestal com três degraus e erecto a pouca distância da Capela de S. Sebastião, destruída ou demolida há poucos anos, e situada na parte sul da vila (lado do Entronca­mento). Não há os conhecidos painéis ou azulejados comemorativos das Alminhas. Hoje há dois cruzeiros, um no cemitério da Atalaia e, outro, em frente da porta da Capela do Senhor Jesus da Ajuda.
Pontos de vista - Horizontes um pouco limitados, a não ser na região oeste. Vastos terrenos de olivedo com a sua folha de tonalidade escura. Ao longe, na direcção sul, a fita do Tejo. Bons ares, mercê da esplêndida situação. Norte dominante. Sitio saudável.
Lendas - Não há lendas algumas. O que é ponto averiguado é que existe ainda a tradição moirisca. Lenda? Não, apenas a tradição que se repete através dos séculos. O nome da terra, como já vimos, é, e bem vincadamente, moirisco. Da Atalaia, em 1147, foram os mouros expulsos por D. Afonso Henriques. Todos nós sabemos que a dominação dos mouros não foi de anos, mas de séculos, principalmente na parte média do Portugal dos nossos dias. Hábitos, propensões, modos de agir são caracteristicamente mouriscos. O cruzamento das raças ficou bem marcado através dos séculos. E pessoa alguma foge à ancestralidade.
Homens notáveis - Residiu na vila de Atalaia durante algum tempo o escritor Francisco Gomes de Amorim e no século XVIII a família Manoel (Atalaia) durante o verão segundo a tradição oral.
Propriedades rústicas dignas de menção - A Quinta da Ponte da Pedra. Casa senhorial dos Morgados do Juncal (Falcão Trigoso). onde sucederam grandes factos por ocasião da Guerra Peninsular.
Folclore - Nada de típico em trajos e costumes. Versos mais típicos cantados pelas classes populares:
“  Oh! meu lindo papagaio, empresta-me o teu vestido! - O meu vestido é de penas!
- Penas trago eu comigo ...”
Danças preferidas pelas classes populares - Danças típicas da região não há e crê-se bem que nunca as houve. Dança-se aqui o que é importado.
Casas brazonadas - A Casa da Ponte da Pedra (Falcão Trigoso).
Pelourinho - Havia um na Atalaia que em 1830 foi destruído pelo chamado camartelo civilizador ...
Conventos, estátuas, fontes artísticas, padrões e obeliscos. Não há .
A freguesia nunca teve outra denominação e possuiu brasão.
Não existem presentemente quaisquer elementos militares. De 1840 a 1846 houve milícias e um capitão-mor de apelido Barbosa, homem decidido, cartista esturrado, valente e desempoeirado de ideias. Parece que era natural da vila de Atalaia ..
Legião Portuguesa. - Há filiados que recebem instrução no Entroncamento
Mocidade Portuguesa. Não há.

Bibliografia: Boletim da Junta de Província do Ribatejo / dir. ed. Abel da Silva. - Santarém : J. R R., 1940.

Praia do Ribatejo (1930-1940)

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Mão amiga fez-me chegar o n.º 1 do Boletim da Junta de Província do Ribatejo. Do mesmo retirei o texto abaixo que dou a conhecer.

"A freguesia de Praia do Ribatejo tem por orago Nossa Senhora da Conceição.
A freguesia, que é de 2.ª ordem, era denominada de Paio de Pelle no tempo de D. Afonso Henriques, e Praia do Ribatejo em 1927, por decreto n.º 14.269.
População- 2.697 habitantes, sendo 1.515 varões e 1.182 fêmeas. O número de famílias é de 539.
Correios, telégrafos e telefones - Tem estação telégrafo-postal de 3.º classe, com horário de serviço completo (das 8 às 20 nos dias úteis, e das l0 às 12 horas, aos domingos e dias de feriado). Desempenha serviços de valores declarados, encomendas postais, cobranças, vales, registos e Caixa Económica. A estação telefónica tem horário de serviço completo (das 8 às 21 nos dias úteis, e das 10 às 12 horas, aos domingos e dias de feriado). Idêntico horário tem a rede telefónica urbana. Há distribuição domiciliária.
Localização- Está situada numa encosta, à beira do rio Tejo, na sua margem direita.
Lugares e lugarejos - Praia do Ribatejo, Polígono, Paio de Pele, Madeiras, Fonte Santa, Vale de Poços, Casais dos Pintainhos, Portela, Laranjeira, Figueiras, Casalinho, Caneiro, Limeiras, Outeiros, Matos, Vale de Martinchel, Cafuz, Fontinha, Casal do Jacinto.
O maior aglomerado de habitações existe na sede da freguesia, havendo porém muitas habitações dispersas pela área da freguesia.
Feiras e mercados - Não se realizam na freguesia.
Festas tradicionais - No dia 8 de Dezembro de cada ano realizam-se na sede da freguesia, as festas a Nossa Senhora da Conceição.
Vias de comunicação - Tem duas estações de caminho-de-ferro: Praia do Ribatejo e Almourol, e ainda o apeadeiro de Tancos. Também lhe ficam próximas as estações da Barquinha e do Tramagal. A estação de Praia do Ribatejo fica situada na sede da fre­guesia. Há uma carreira de camionetes para Rio de Moinhos.
Distância às povoações mais próximas – Barquinha; 9 Kms, por estrada nacional; Constância, 2 Kms.; Tomar e Abrantes, 17 Kms.; Golegã sede da comarca, 16 Kms, por estrada nacional.
Na área da freguesia passam a estrada nacional 14.1.ª e o ramal de Santa Cita à estação de Praia do Ribatejo.
Portos fluviais - Pai-Avô, ao canto da Praia.
Carreiras de camionete - Da estação da Praia do Ribatejo para a povoação de Rio de Moinhos; de Abrantes a Tomar e Nazaré; a primeira serve a sede da freguesia, e a segunda, além da sede da freguesia, Madeiras, Polígono, Casal dos Pintainhos e Portela. - Não há automóveis de aluguer.
Produção - Por ordem decrescente as suas principais produções são de natureza industrial, agrícola e pecuária.
É centro industrial. As suas indústrias mais importantes são serração de madeiras e fabrico de azeite. Há também na freguesia duas moagens, duas azenhas, três fornos de fazer tijolo, três destilações e doze lagares de azeite. A produção que mais se tem desenvolvido é a do azeite. Há poucos terrenos incultos. A agri­cultura é feita por processos antigos e pouco aperfeiçoados. As culturas que predominam são as da oliveira e do pinheiro. Não existem baldios.
Comércio – Madeiras, peixe, azeitona em conserva e para azeite, e comércio local de víveres são os principais produtos do seu comércio. Mercearias e tabernas são os estabelecimentos comerciais que predominam. Não tem farmácia.
Instrução - Em Praia do Ribatejo, escolas para o sexo masculino e para o sexo feminino; no Polígono, escola mista; em Madeiras, escola mista; em Portela da Laranjeira, posto de ensino, misto; e em Limeiras, escola mista .
Associações e instituições - Estão em organização o grupo musical .Jazz Melodia Praiense, e o Grémio Recreativo Praiense.
Monumentos- Castelo do Almourol e o Castelo de Santa Maria do Zêzere de que só restam vestígios. O Castelo de Almourol foi reedificado por D. Gualdim Pais, em 1160 . No século XII foi senhor de Almourol um emir árabe chamado Al-morolan. O primeiro nome deste Castelo foi Muriela. D. Gualdim Pais deu foral aos povoadores deste Castelo em 1170. Houve perto deste Castelo um mosteiro de frades Capuchos da invocação de Nossa Senhora do Loreto. Fundado por D. Alvaro Coutinho, senhor do termo do Almourol, e que residia no seu famoso Castelo. Lançou ele a primeira pedra em 13 de Março de 1572 e em 1575 foi modificado o mosteiro. Em 1865 foi inaugurada nova Igreja e mos­teiro de boa construção, pois as primeiras eram inferiores. Hoje encontra-se servindo de arrecadação de objetos militares.
Livros ou publicações que se relerem à freguesia - Extremadura Portuguesa, de Alberto Pimentel, Serões de Tancos. etc .
Águas - A freguesia é abastecida por meio de fontes, duas em Praia do Ribatejo, uma na Laranjeira, uma nos Matos, uma na Galiana, uma no Seival e uma no Loreto. Não há rede de esgotos nem é obrigat6ria a construção de fossas .
Luz elétrica - Tem iluminação pública e particular, ao preço de 2$00 o kilowate, fornecida pela Câmara Municipal da Barquinha e produzida pela Hidro-Eléctrica do Alto Alentejo.
Rios e ribeiros - Rio Tejo. Rio Zêzere, Ribeiros da Fonte Santa, de Valacois e de Seival e Ribeira de Tancos.
Pontes: Ponte romana que atravessa o Ribeiro da Fonte Santa; Ponte do Caminho de Ferro sobre o Rio Tejo. Ponte sobre o Rio Zêzere, inaugurada em 1894.
Igrejas e capelas - A atual Igreja Paroquial do Ribatejo foi iniciada em 1902. Foi seu fundador Tomaz da Cruz, então industrial e proprietário na freguesia. A antiga Igreja Paroquial estava situada num descampado, longe da povoação, e ameaçava ruína. Tomaz da Cruz propôs-se construir uma igreja na Praia, sede da freguesia. Doou o terreno para o edifico, concorreu com importante quantia, e organizou uma comissão para angariar recursos. Esta comissão, que se compunha de Tomaz da Cruz, presidente, e dos vogais Manuel Vieira da Cruz, António Nunes, Sebastião Domingos de Oliveira e António Alves Borradas, começou os trabalhos, e em pouco tempo estava construída a capela-mor e a sacristia. Os atos do culto passaram a ser celebrados na nova capela. Morreu o fundador. Ainda depois da sua morte, se construíram as paredes do corpo da igreja. Mas em 1910 veio a República, paralisaram as obras e as autoridades fecharam a capela. Depois do 28 de Maio, a capela, devido aos esforços do Reverendo Padre António Martins da Silva, então pároco da Barquinha, e do Sr. Júlio Vieira da Cruz, foi entregue aos fiéis e aberta ao culto. Mas o templo não estava concluído. Formou-se então nova comissão. A Casa Manuel Vieira da Cruz & Filhos, importante firma industrial e agrícola do lugar, ofereceu para a conclusão da igreja avultado donativo. A nova comis­são, presidida pelo sócio da mesma firma, Sr. Júlio Vieira da Cruz, tendo como vogais António Alves Barradas, Pedro Nunes, João de Moura e Manuel Antunes, resolveu con­cluir a Igreja. Presentemente a obra ainda não está terminada, mas já bastante está feito. Cobriu-se o corpo da igreja, fez-se e pintou-se o teto, rebocaram-se e caiaram-se as paredes no interior e no exterior, construiu-se a torre, o baptistério, o côro e o soalho, e fez-se a instalação elétrica. Faltam dois altares no corpo da igreja, os quais a comis­são, com o auxilio do Estado, espera ter concluído no corrente ano.
Na povoação das Limeiras, lugar da freguesia, existe a Capela de S. João Baptista. Foi inaugurada em 1900, para substituir outra que, por muito diminuta, não compor­tava mais que uma dúzia de pessoas. Foi construída pelo povo do lugar, e seus vizinhos (Ramo de Cima). O Estado auxiliou a construção com o subsidio de cem mil réis, moeda daquele tempo.
Pontos de vista - Castelo de Almourol, Casal do Pote e Bôca do Rio Zêzere.
Um pouco de história - A sede da freguesia foi cabeça de concelho, com Câmara, juiz ordinário e mais empregados. É muito antiga e D. Manuel lhe deu foral em Évora em Dezembro de 1519. O seu primeiro foral foi dado por D. Gualdim Pais, Mestre da Ordem dos Templários, em 1180. Diz-se que o nome lhe vem de D. Gualdim Pais, porém, pelo foral vem o nome de Paio de Pele. Esta freguesia também se denominava de Santa Maria do Zêzere e foi comenda da Ordem do Templo até 1311, e de 1319 até 1834, da Ordem de Cristo. Foi D. Afonso Henriques que fêz doação desta vila à Ordem pela muita amizade a D. Gualdim Pais. Diz-se que também tinha castelo, mas não há vestígios; dizem que foi demolido por ocasião das invasões francesas. Deu foral a este castelo D. Gualdim Pais, em 1174. Foi alcaide-mor e senhor do Castelo de Paio de Pele ou do Zêzere, D. Francisco de Mascarenhas, da família dos Condes de Marialva. Por falta de sucessão, os bens e rendas passaram para a Casa dos Condes de Cantanhede.
Folclore- Trajos e costumes vulgares.
Casas brasonadas, pelourinho, estátuas, fontes artísticas, padrões e obeliscos, não há.
Conventos- Convento do Loreto, junto ao Castelo de Almourol, Ordem dos Templários. Atualmente pertence ao Ministério da Guerra (Escola Prática de Engenharia).
Pontos dignos de serem visitados - Castelo de Almourol e Casal do Pote, com panoramas sobre o vale do Tejo, com vastos horizontes, e Museu da Escola Prática de Engenharia.
Brazão- Ignora-se se a vila teve brazão.
Unidades militares - Polígono Militar de Tancos, Escola Prática de Engenharia.
Batalhão de Ponteneiros, Base Aérea n.º 3, Hospital Militar e Pôsto Rádio. O Aero Club do Ribatejo tem a sua sede em Praia do Ribatejo.
Há Legião Portuguesa e Mocidade Portuguesa, não há."


Bibliografia: Boletim da Junta de Província do Ribatejo / dir. ed. Abel da Silva. - Santarém : J. R R., 1940.

Tancos (1930-1940)

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A freguesia de Tancos, que tem a sua sede na vila de Tancos, tem por orago Nossa Senhora da Conceição. A freguesia é de 3.ª ordem, ignorando-se não só a data da sua criação como também em que ano foi a sede da freguesia elevada à categoria de vila.
População- 280 habitantes, sendo 130 varões e 150 fêmeas. O número de famílias é de 74.
Correios, telégrafos e telefones - Tem caixa posta rural. A estação telefónica tem horário de serviço limitado (das 9 às 17 horas). Não há telégrafo.
Localização- Está situada na encosta do vale do Tejo, a dois quilómetros a ju­zante do Castelo de Almourol e defronte da povoação do Arrepiado.
Lugares e lugarejos - Laveiros e Casal de Iria Tereza. O maior aglomerado de habitações encontra-se na sede da freguesia.
Feiras e mercados não se realizam na freguesia.
Festas tradicionais - Anualmente mas em dia variável realizam-se na sede da fre­guesia as festas a Nossa Senhora da Piedade, organizadas pelo povo da freguesia, que constituem uma devoção por Nossa Senhora da Piedade, venerada numa pequena capela existente na parte ocidental da vila.
Vias de comunicação - É sede do apeadeiro denominado Tancos. As estações que lhe ficam mais próximas são as de Barquinha e Almourol.
Tancos está à distância de 2,5 kms da estação do Almourol e a 3 da da Barquinha.
Para estas estações não há carreiras de camionete. Na área da freguesia passa a estrada nacional n.º 14 – 1.ª. Há um porto fluvial no Tejo. Não tem automóveis de aluguer nem carreiras de camionete.
Produção - A sua principal produção é o azeite. Não é centro industrial nem existe qualquer indústria caseira. Há na freguesia cinco azenhas para farinar milho, e três lagares de azeite. Não tem muitos terrenos incultos e a agricultura é feita por pro­cessos pouco aperfeiçoados. A cultura que predomina é a da batata. Existe um baldio de pequena área, junto ao cemitério.
Comércio- O comércio da freguesia é diminuto. Como estabelecimentos comer­ciais predominam as mercearias e as lojas de vendas de vinhos. Não tem farmácia.
Instrução- Na sede da freguesia existe uma escola mista.
Associações e instituições - Na sede da freguesia existe uma Sociedade de Recreio, denominada Club Recreativo e Instrutivo de Tancos, que não possui salão de festas, nem cinema.
Águas- A freguesia é abastecida de água por meio de um chafariz. Não tem qualquer água com propriedades medicinais. Não possui rede de esgotos nem é obri­gatória a construção de fossas.
Luz eléctrica - Não há. A iluminação pública é a petróleo.
Rios e ribeiros - Rio Tejo e Ribeira de Tancos.
Igrejas e capelas - Tem a Igreja Matriz; a da Misericórdia e a Capela de Nossa Senhora da Piedade. A Igreja Matriz é muito antiga e tem apenas uma nave abobadada  apesar de ser uma das mais largas que se conhece, rica em obra de talha dourada no altar-mor e também nos seus antigos azulejos que revestem as paredes. A Igreja da Misericórdia está abandonada mas ainda possui bens azulejes. A Capela de Nossa Senhora da Piedade é de construção vulgar e sem elemento algum de valer.
Cruzeiros e alminhas - não há.
Pontos de vista - No Casal de Pote, a nascente da povoação de Tancos, desfruta-se um lindo  panorama de vale de Tejo com o lendário Castelo de Almourol. Este panorama é ainda mais vasto do alto do moinho, sobranceiro à Capela de Nossa Senhora da Piedade.
Livros que se referem à freguesia - Extremadura Portuguesa de Alberto Pimentel. Ribatejo Histórico e Monumental de F. Câncio., etc.
Folclore- Trajos e costumes vulgares.
Pelourinho, conventos, estátuas, fontes artísticas, monumentos, padrões e obeliscos, não. existem.
Segundo Pinho Leal, o antigo nome de Tancos deve ter sido Francos.
Os Marqueses de Tancos eram os donatários da Vila e seu têrmo. O brazão dos Marqueses de Tancos era e seguinte: Um escudo esquartelado, no 1.° e 4.°, em campo de púrpura, um côto de águia de ouro, empunhando (com uma mãe de homem) uma espada guarnecida a ouro. No. 2.° e 3.°, de prata, um leão de púrpura armado de azul.
Há legionários incorporados na Legião Portuguesa do concelho da Barquinha. Está em organização a Mocidade Portuguesa.  
Bibliografia: Boletim da Junta de Província do Ribatejo / dir. ed. Abel da Silva. - Santarém : J. R R., 1940.

AS CONFRARIAS NA VILA DA ATALAIA

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Em Portugal as primeiras confrarias surgem entre o século XIII e XIV. A miséria rural consequência do fraco rendimento da agricultura foi, para os nossos antepassados, uma fonte de permanente aflição. Nem sempre a solidariedade das comunidades ou das ajudas dos paroquianos eram suficientes para mitigar a miséria dos mais pobres. A população da vila seria cristã e uma essência perfeita do crente é que pratique obras de caridade e de misericórdia.
Numa altura de crise para a estado providência atual vejamos quais as estruturas de solidariedade dos nossos antepassados.
Existia a Santa Casa da Misericórdia da Atalaia, sita na Rua Patriarca D. José, em frente à Casa do Patriarca, mas desconhecemos a data da sua fundação. Sabemos que no final do ano de 1869 estava em estado de completa ruína, a que não será alheio o afastamento da população pela instituição. Em consequência decretou-se a sua extinção.
Existiam várias confrarias leigas, sítios de solidariedade mútua entre as gentes com afinidades de ofício ou não. Por sentença proferida no Juízo da Coroa em 4 de Novembro de 1604, foi julgado que “ … o Prior e Visitador da Vila da Atalaia não se devia entremeter nas contas e eleições das Confrarias leigas, por serem cousas pertencentes à Jurisdição Real”. Outrossim, é facto que a confraria do Santíssimo Sacramento já existia em 1603, conforme lavra o testemunho em pedra depositado na sacristia da Igreja da Atalaia, como se pode verificar pela imagem ao lado. A confraria do Rosário, não se conhecendo a sua fundação, sabemos que veio a ser extinta em 16 de Novembro de 1869 passando o seu património para a Junta da Paróquia da Freguesia (1). Entrementes, foi-me dado a conhecer outra confraria, a de São Sebastião. Tal designação não é estranha na vila uma vez que uma ermida, já desaparecida com o mesmo nome, existiu na rua principal, junto do Rossio, construção que constava do inquérito paroquial de 1732. A Confraria de São Sebastião da Atalaia é referida numa carta de venda de sete oliveiras em terra do conselheiro João Amaro Mendes de Carvalho que arrematou a José Henriques e tudo como nela consta e se declara, documento que recentemente veio à minha posse (2): “ Dom Luiz por Graça de Deus Rei de Portugal e dos Algarves, etc. Faço saber aos que esta carta de pura e irrevogável venda virem que precedendo as diligências, anúncios e solenidades da lei, e estilo, arrematou em hasta pública na repartição de fazenda do distrito de Santarém no dia vinte e sete de julho de mil oitocentos e oitenta e cinco José Henriques, pela quantia de seis mil quatrocentos e dez reis na conformidade da lei de vinte e oito de agosto de mil oitocentos sessenta e nove as seguintes oliveiras que pertenciam à confraria de São Sebastião da Atalaia, administrada pela junta da paroquia da vila e freguesia da Atalaia e sob número seis foram compreendidas para venda na lista numero cinco mil e oitocentos e sessenta e quatro; a saber: Concelho de Vila Nova da Barquinha: sete oliveiras em terra do conselheiro João Amaro Mendes de Carvalho. E tendo o arrematante satisfeito no cofre central do distrito no dia onze de agosto último, o preço destas arrematações em metal e na recebedoria do indicado concelho no dia seis do dito mês a quantia de quinhentos oitenta e sete reis de contribuição seguida de seis por cento adicionados de selo tudo com constou dos competentes recibos. Hei por bem arrematar-lhe por irrevogável e pura venda toda a posse e domínio que nas referidas oliveiras tinha a mencionada confraria para que o arrematante seus herdeiros e necessários as gozem, possuam sem dispêndio como próprias. Pelo que mando a todos os ministros de justiça e mais pessoas a quem o conhecimento desta carta haja de pertencer que sendo por mim assinada de chancela e segundo referendada também de chancela pelo membro e secretário de estado dos negócios da fazenda na conformidade do decreto de vinte e cinco de novembro de mil oitocentos e cinquenta e três e competentemente selada e registada nos livros respectivos, a cumpram, guardem, façam inteiramente cumprir e guardar, sem dúvida ou embargo algum, e que o administrador do concelho de Vila Nova da Barquinha sendo-lhe esta apresentada depois de encerrada a verba de ficarem anotadas na repartição de fazendo do distrito os assentos selectivos às mesmas oliveiras faça dar posse delas ao arrematante de que se lavrará auto para a todo o tempo consta a referida venda. Lisboa quinze de setembro de mil oitocentos e oitenta e cinco. Joaquim Pedro Seabra e Antonio Joaquim de Campos Magalhães a subscrevi”.
As confrarias teriam a sua estrutura organizativa. Na sua constituição e administração estavam as figuras do juiz, mordomo e chamador ou andador. Estes elementos surgiriam recalcados das figuras elementares do sistema administrativo e burocrático da vila (3). É quase certo que as reuniões dos confrades seriam realizadas nos anexos laterais da Igreja da Atalaia destruídos aquando do restauro ocorrido em 1939/40. Verificamos que as confrarias na Atalaia, pela sua designação: “do Santíssimo Sacramento e do Rosário”, foram promovidas pela Igreja após o Concilio de Trento (4) como aconteceu com as confrarias do Fundão e de Alcobaça. Tal, concluímos que a sua fundação remonta ao fim do Séc. XVI.  
Em suma, existe, na vida das pessoas um baluarte abrangente de afeção, paixões, costumes, desejos, afetos, modos de ser e de estar na vida que, também, têm a sua história.

(1)                Arquivo Distrital de Santarém, Livro de registos de Alvarás, Fundo SC-E Governo Civil.
(2)                Agradecimento a José Calheiros Cunha.
(3)                Formas de organização social na vila de Torres Novas, nos finais da Idade Média, tese de Mestrado de Cátia Manuela Rios Vieira, Faculdade de Letras de Lisboa, 2010.
(4)                Concílio de Trento, 1545-1563.

VILA NOVA DA BARQUINHA (1930-1940)

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 A freguesia de Vila Nova da Barquinha, que tem a sua sede na vila de mesmo nome tem por orago Santo António. A freguesia, que é de 2.ª ordem, foi criada em 21 de Fevereiro de 1837, e a sua sede foi elevada à categoria de vila em 26 de Junho de 1839.
População - 1.173 habitantes, sendo 572 varões e 601 fêmeas, o número de famílias é de 312.
Correios, telégrafos e telefones - Tem estação telégrafo-postal de 3.ª classe, com horário de serviço limitado, (das 9 às 18 horas, com encerramento das 13 às 14 horas, nos dias úteis, e das 10 às 12 horas, aos domingos e dias de feriado). Desempenha ser­viços de valores declarados, encomendas postais, cobranças, vales, registos e Caixa Económica. A estação telefónica tem horário de serviço completo (das 8 às 21 horas). Há distribuição domiciliária.
Localização - A freguesia está situada na margem direita de Tejo.
Lugares e lugarejos - Barquinha (vila), Aldeinha e Lagarito.
O maior aglomerado de habitações existe quási que exclusivamente na sede da freguesia.
Feiras - De 9 a 16 de Junho realiza-se em Barquinha a feira anual de Santo An­tónio, em que se transaccionam coiros, madeiras, móveis, quinquilharias, artigos de vêrga, etc.
Mercados não se realizam na freguesia.
Festas tradicionais - Em meados de Julho, em dias variáveis, têm lugar na Bar­quinha as Festas da Misericórdia, organizadas pela Misericórdia do Concelho. Estas festas são constituídas por espectáculos tauromáquicos, desportivos e concertos musicais e bem assim por festa religiosa a Santo António. Verbenas de caridade com funcionamento de várias barracas: quermesse, chá, pim-pam-pum, etc. sessões de fados, espectáculos por bailarinas, Ceia do Ribatejo, etc. Estas festas efectuam-se simplesmente com o intuito de angariar fundos para a manutenção da Misericórdia, que delas tira a sua principal receita. São afamadas as touradas que, nesta altura, se realizam na Praça de Touros da Barquinha.
Romarias - Em Domingo de Ramos, na Barquinha, realiza-se a romaria à capela de Nossa Senhora de Santana, capela esta situada a 500 metros da vila, cuja fundação é antiga e atribuída a Roque Amador. Desconhece-se tudo acerca da personalidade do fundador.  Os devotos trazem pequenos ramos de alecrim que foi benzido e só neste dia é rezada missa na capela referida.
Vias de comunicação– É sede de estação de caminho de ferro. A estação de En­troncamento fica distanciada da Barquinha 3,5 quilómetros. Entre as duas estações não há carreiras de camionete.
Distância às povoações mais próximas - Ao Entroncamento, 3,5 kms, pela estrada nacional n.º 14, 1.ª.
A Tancos, igual distância e pela mesma estrada. Á Moita, 1 quiló­metro, por estrada em mau estado, antiga estrada nacional, por tanto a Câmara como Junta Autónoma não a reconhecerem como sua.
Na área da freguesia passa a estrada nacional n.º 14, 1.ª (Entroncamento, Barquinha, Tancos). Há três portos fluviais. Todos se encontram em péssimo estado e com más vias de acesso pelo abandono a que têm sido votados. Não passam na freguesia carreiras de camionete. Há automóveis de aluguer.
Produção - As suas principais produções de natureza agrícola são o azeite e os cereais. A pecuária é reduzida e a produção mineral inexistente. Não é centro industrial e não existe qualquer indústria caseira. Existem 5 lagares de azeite e destilação. A pro­dução que mais se tem desenvolvido é a do azeite. Não tem muitos terrenos incultos, a agricultura é feita por processos aperfeiçoados e a cultura que predomina é a da oliveira. Não tem baldios.
Comércio - Principal natureza do seu comércio: (por atacado) - azeites, vinhos, cereais e também mercearias. Para venda ao público: boas mercearias e bem assim lojas de fazendas. Como estabelecimentos comerciais predominam armazéns de azeite e estabelecimentos de mercearias e de fazendas.
Localidades com que mantém mais relações comerciais - Com as restantes localidades do concelho da Barquinha. Os armazéns de azeite transaccionam principalmente com Lisboa e Norte do Pais.
Tem farmácia.
Instrução - Em Vila Nova da Barquinha, escolas dos sexos masculino e feminino. Foi recentemente criado mais um lugar de professor, que funciona na sala de aula masculina. Nota-se a falta de mais duas salas, uma para o sexo masculino e outra para o feminino, assim como instalação condigna para a Cantina Escolar.
Associações e instituições - Há uma filarmónica na sede de freguesia, a Banda dos Bombeiros Voluntários. Há também a Misericórdia do Concelho de Vila Nova da Barquinha, que mantém o Hospital e Asilo de Velhos, a Associação dos Bombeiros Voluntários, humanitária pelo seu corpo de Salvação Pública, instrutiva pela Banda de Música, e recreativa pelas festas que realiza nos seus salões (esta associação dispõe de um pronto-socorro automóvel), o Sporting Club Barquinhense, associação desportiva e recreativa, possuindo salões de festas, o Grémio Barquinhense, sociedade recreativa, e a Cantina Escolar, instituição de beneficência e assistência.
Monumentos - Monumento aos Mortos da Grande Guerra, inaugurado em 11 de Abril de 1937. Este monumento é de homenagem do concelho aos seus mortos na guerra de 1914-1918. Na base do monumento repousam os restos de António Gonçalves Curado, 1.º soldado do C. E. P. falecido em combate e natural da freguesia da Barquinha. Trasladado do cemitério português de Richebourg, depois de ter sido sepultado no cemitério inglês de Laventie, para a sua terra natal por intermédio da extinta comissão dos Padrões da Grande Guerra, no dia 18 de Agôsto de 1929. Era soldado n.º 234, da 4.ª Companhia do Regimento de Infantaria n.º 28. Dificuldades várias, principalmente a falta de dinheiro, demoraram a construção do Monumento, cujo projecto foi gentilmente oferecido à Comissão construtora pelo Sr. Cap. de Engenharia Alfredo de Sousa Ghira.
Livros que se referem à freguesia - Extremadura Portuguesa de Alberto Pimentel, Ribatejo Histórico e Monumental, de F. Câncio, etc.
Aguas - A freguesia é abastecida de água esplêndida e abundante, distribuída por três chafarizes: dois na sede e um outro um pouco afastado. Não tem qualquer água com propriedades medicinais. A rede de esgotos está incompleta e serve apenas uma parte da sede da freguesia.
Luz eléctrica - Tem iluminação pública e particular, esta ao preço de 2$00 o Kilowate, fornecida pela Câmara Municipal e produzida pela Hidro-Eléctrica do Alto Alentejo.
Serras e montes - Não existem na freguesia. Há elevações conhecidas pelo Alto das Cruzes, Branquinho, etc.
Rios e Ribeiros - Rio Tejo.
Igrejas e capelas - Igreja Matriz na sede da freguesia, de construção relativamente recente e sem valor arqueológico, desprovida de azulejos ou quadros. Construída por subscrição dos paroquianos e possível auxílio do Estado, cerca de 1840. Capela de Roque Amador, construção do século XVII, desprovida de valor arquitetónico e fundada por Roque Amador.
Cruzeiros e alminhas, não existem.
Pontos de vista - Alto de Branquinho - Barca.
Homens notáveis naturais da freguesia – Dr. Carlos Barral Filipe, já falecido, médico ilustre em Lisboa e iniciador da construção do Hospital.
Folclore - Trajos e costumes ribatejanos.
Casas brazonadas, pelourinho, antigos conventos, estátuas, fontes artísticas, padrões e obeliscos, não há.
O brazão do concelho foi concedido pela Rainha D. Maria lI, em 1839.
Não existem na freguesia quaisquer elementos militares. Há Legião Portuguesa e não existe Mocidade Portuguesa.

Bibliografia: Boletim da Junta de Província do Ribatejo / dir. ed. Abel da Silva. - Santarém : J. R R., 1940.

À procura das origens da Barquinha

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O acto de tombar as propriedades das ordens militares era essencial para uma boa administração do seu património. A propriedade deveria ser identificada de acordo com a sua tipologia e localização; indicadas as confrontações aos quatro pontos cardeais; medida com uma vara (de 5 palmos, equivalente a 1,10m); referida a tipologia contratual (aforamento em vidas ou enfiteuse perpétua); estipular o foro respectivo e a data de vencimento do mesmo (geralmente festas religiosas: Natal, S. João, entre outras); e, por último, a autoridade que outorgou ou confirmou esse mesmo contrato (indicado se se tratava do Mestre presente ou de um seu antecessor).
Em 1504, foi efectuada uma visitação às comendas da Ordem de Cristo e do Médio Tejo. Daqui resultou a elaboração de tombos das suas propriedades. Esta visitação / inventariação fora ordenada pelo Capítulo Geral da Ordem de Cristo iniciou-se em 1503 e acabou em 1510. 
Compulsando os Tombos da Ordem de Cristo, vol. II, Comendas do médio Tejo, 1504 a 1510, sobre as Comendas de Dornes,  Beselga, Sonegado, Alvaiázere, Sabacheira, Ferreira do Zêzere, Pias, Casével, Pussos, Vila de Rei, Cardiga e de Almourol verificamos que dos respectivos tombos não se vislumbra nenhum topónimo com o nome da Barca, Porto da Barca, Porto da Bouça ou Boussa ou similar mas encontramos por exemplo: Lagoa Fedorenta, Lameira, Pedregoso, etc.. Assim, afastamos a origem de qualquer lugar com toponímia semelhante a Barca ou Barquinha e retiramos a existência física de qualquer povoado com este nome antes de 1510 porque a prova documental, até à presente data, não nos deixa outra conclusão.
Mas ... avancemos no tempo. No Numeramento ou Cadastro Geral do Reino, de D. João III, feito entre 1527-1532, encontramos o número do corpo da vila da Atalaia, ou seja, no núcleo que originaria um povoado. E encontramos os denominados casais, unidades rurais de exploração de terra desagregadas da vila para efeitos fiscais. Na área da vila da Atalaya havia, então, vinte e três e na área de Paio de Pele, actual Praia do Ribatejo, existiam 15 casais agrícolas dispersos. Segundo o Prof. José Alves Dias, cada casal tinha, em regra, uma casa e um celeiro. Alguns possuíam também palheiros e, mais raramente, adegas. As casas eram feitas de pedra e barro, madeiradas de castanho, sendo uma parte coberta de cortiça e outras de telhas. Os palheiros eram quase sempre cobertos de palha.
Pelo Tombo dos bens e produção da comenda da Cardiga, ficamos a compreender a organização económica de uma vila no nosso território. Vejamos o caso da Vila de Paio de Pelle. Todos os casais produziam cereais: trigo (66%) e centeio (34%). Dos quinze casais, dez cultivavam vinhas e oliveiras e oito continham pomares: entre as árvores plantadas havia ameixoeiras, pereiras, laranjeiras, figueiras e romanzeiras. Por este panorama de produtos podemos compreender a existência de "celeiros" em quase todos os casais. Ao lado dos terrenos cultivados, estavam os "matos maninhos" que serviam para pastagens; corte de madeira, mato e lenha, para uso comum. Os casais podiam estar acantoados em enfiteuse - isto é, perpetuamente - ou em vidas quase sempre três.
Se os documentos dão-nos a conhecer a vida dos casais ficamos por saber a sua localização em concreto.
Teria a Barquinha origem num casal ? No início do Séc. XVI quer o numeramento quer os tombos não nos respondem a esta questão. Os primeiros documentos conhecidos sobre a Barquinha datam de finais do século XVI pelo que nos é impossível, por agora, compreender em plenitude a matriz inicial de organização do seu povoado.
Antes do desvio do rio Tejo, 1543 e 1544, existiam casais disseminados pelas ricas zonas agrícolas antes de entrar na lezíria? Se sim, em que local? Junto do rio em zonas inundáveis ou no sopé do vale?
Questões pertinentes que as fontes ainda não nos elucidaram.
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