Troféu Disciplina para a União Desportiva Atalaiense
O TELÉGRAFO DA ATALAIA - VILA NOVA DA BARQUINHA
ATALAIA, In MEMORIAS DA ACADEMIA REAL DAS SCIENCIAS DE LISBOA, TOMO VIII, 1823
“41. Os mapas n.º 3e 4mostrão a população da villa da Atalaia , e no termo, que simplesmente contém huma freguezia, e de todas deste território a mais populosa. Vê-se pois que o numero dos fogos he de627, e o total dos habitantes de 2196, estando estes para aquelles na proporção de 3,5 &c. que realmente não indica fertilidade de população. Tem esta freguezia lugares muito populosos, como são aBarquinha, Mouta, &c.
42. Os mesmos mappas a respeito desta villa e termo (como de todas as mais) especificão tudo quanto no plano se exige: aqui acontece o mesmo do que nas outras, a respeito da grande desproporção das viúvas a respeito dos viúvos, que he sempre em menor numero, e as causas que isto aqui tem originado, não são differentes: ha aqui huma grande quantidadede gente do mar, e quasi todos são daBarquinha,e alguns da Mouta; ha também muita gente occupada no serviço do campo; tanto em huma, como em outra occupação os homens se expõem ás differentes alternativas das estações, e adquirem por isso grande numero de enfermidades, além de serem ambos os serviços forçados, e violentos; estas mesmas causas são as que concorrem para a falta de povoação, nem ha nesta freguezia outras algumas, de donde se possa colligir o terem produzido o mencionado effeito.
43. A classe mais numerosa he a empregada na navegação para a capital, e quasi toda dos lugares acima referidos, pois que o commercio he o seu principal trafico: os cultivadores não guardão a proporção, e o calculo, de que em em 20 pares de habitantes sejão16destinados para a cultura (da terra); entretanto segundo o presente estado de pequena cultura do paiz , e porque mesmo huma grande porção delle he máo terreno, elles são sufficientes; a respeito porém da colheita da azeitona verifica-se o mesmo, dito nos antecedentes Artigos, pois sufficientes braços não ha. Nem se tem vindo estabelecer nesta freguezia gente de fóra, nem dela tem emigrado seus habitantes para outras partes. Aqui ha ordinários meios de subsistência ou no serviço do mar, ou do campo , alem dos differentes officios; se bem que os actuaes jornaes são diminutos, porém isto tem huma causa mais geral na decadência do commercio intrínseco, e agricultura em toda a nação. Ha huma roda de expostos na Atalaia, entretanto a seu respeito nada tenho que accrescentar ao já dito. Eis aqui o que julgo conveniente dizer a respeito da povoação deste território.”
A maior parte da actividade agrícola e pecuária tinha como referência o rio Tejo. Daí que não surpreenda os números de gentes do mar, pescadores e singeleiros na nossa terra. Uma breve referência para estes últimos, os singeleiros, quem são estes homens e qual o seu ofício? O transporte de mercadorias era feito, essencialmente, pelo rio Tejo e por terra mas para transportar os produtos entre os lugares do termo da Vila da Atalaia e a via fluvial tal tarefa estava entregue a estes homens que no mapa são 11.
A Cultura Avieira II
Este é o segundo escrito neste blog sobre a Cultura Avieira. O primeiro é de 8.11.2010 e pode ser revisto em http://atalaia-barquinha.blogspot.com/2010/11/seculo-xix-os-pescadores-nos-oceanos.html.
In MEMORIAS DA ACADEMIA REAL DAS SCIENCIAS DE LISBOA, TOMO VIII, 1823, retiro que a maioria da população de Paio de Pelle, actual Praia do Ribatejo, desde tempos de antanho, se dedicava à pesca: “ Quase todos já de antiquíssimos tempos se tem empregado no serviço da pesca do que tiram muito maiores vantagens, do que na cultura de terras …” uma vez que os terrenos circundantes, pelo relevo e declive acentuado das propriedades rústicas eram “bastantemente áridase estéreis, e em que somente muitos braços, muitos gados, e muitos estrumes poderão concorrer para que elas dêem algum interesse ao lavrador”. O locais de pesca dos nossos antepassados, tal como na actualidade “ é às vezes no rio Zêzere, e muito principalmente no Tejo …” Parte da população de Paio de Pelle emigrava para jusante do rio “onde chega a maré”. A sua actividade é exercida entre Vila Franca de Xira e Salvaterra de Magos e “ pescam sáveis desde o Natal até ao Santo Antonio, e mugens desde este tempo até ao S. Martinho. A imensa quantidade de varinas, e de chinchas (pequenas redes de arrastar), e de outras redes desta ordem, chamadas de arrastar, que desde o Alqueidão até aBarquinhase empregam na pesca dos sáveis no seu tempo competente, produz muitas vezes a escassez deste peixe no pego de Tancos, e é esta uma das causas da emigração destes homens se bem que outros há, que se empregam na pescaria dos sáveis no lugar da Praia, com as tais chinchas, e como por tal emigração não terão suficientes braços, costumam anualmente vir de Ovar, e de suas imediações de80a100 homens, que somente aqui permanecem aquele tempo necessário, e mesmo porque esta gente é mais apta, e está mais acostumada a tal serviço.” Abalando das suas terras de origem, no texto de Ovar, onde o Inverno é rigoroso e ao mar agitado o que, certamente, os inibia de exercer a sua actividade procuraram no Tejo, rio sem risco acrescido e pouco agitado, o seu sustento durante o tempo em que o mar está alterado.Terminado o Inverno regressavam às suas terras de origem para de dedicarem à pescar no mar e à faina da sardinha. Vemos que há, assim, uma migração sazonal de pescadores não são só da Praia da Vieira, como atrás se escreveu, mas igualmente de Ovar. No ano de 1823 eram, do dizer do escritor, de 80 a 100 homens pescadores. Muitos destes não regressam à sua terra natal, ficam a habitar na Borda-d’água do Tejo vindo a ser designados Avieiros ou Ciganos do Tejo.
A FEIRA FRANCA DA VILA DA ATALAIA
A lenda do Arrepiado
"Recortada contra o azul do céu, a silhueta imponente do Castelo de Almourol, evoca um passado povoado de personagens lendárias, de guerreiros e de heróis, de mouras encantadas e misteriosas donzelas. Todo um imaginário de sonho vivificando de imaginário a História e a Cultura das populações vizinhas do milenar castelo. A imponente construção medieval ergue-se na pequena, mas agreste e solitária, ilha de Almourol no meio do formoso e vasto Tejo, ali engrossado pelas águas do luso Zêzere. Das suas elevadas torres avista-se uma paisagem deslumbrante. Perto, prende-nos a atenção a risonha e mourisca povoação do Arripiado. O seu nome remete para uma lenda a que não falta nenhum dos ingredientes requeridos pela arte narrativa do povo de riba Tejo: cavaleiros sedutores e jovens de divina formosura vivem amores ora contrariados ora bem conseguidos. E tudo acontece naquele lugar privilegiado pela natureza, um lugar disputado pelos homens e pelos deuses: a surpreendente ilha de rochas reluzentes destacadas do areão de seixos doirados. Ilha verde e ocre, sombreada de frescos salgueirais e de copados sobreiros e azinheiras. Quando um frémito de aragem percorre a ramaria, a moldura esmeraldina reflecte-se no espelho mágico do rio. Pescadores e homens serranos navegam as águas profundas e descansam nas aprazíveis praias do Tejo. Casario branqueja nas encostas marginais do grande rio. As povações do Arripiado, do concelho da Chamusca, e logo além Tancos, do concelho de Vila Nova da Barquinha, apresentam aos olhos do viajante as marcas de um Passado que se desdobra também na aventurosa gesta de desbravar a terra e o rio e as matas. Povoações que testemunham a luta quotidiana, vivida ao longo dos tempos, por povos de dferentes civilizações. Almourol, a pitoresca ilha tagana, era já um castro romano na Era de César. Na decadência do Império Romano, a arruinada fortaleza foi convento e ermitério. A situação estratégica determinou o oscilar da sua posse por senhores de exércitos, por nobres poderosos. No periodo de declinio da dominação muçulmana, algumas épocas de agitação seguem-se a tempos de pacifica convivência entre moçárabes e os cristãos descendentes dos godos. Em Almourol vivia-se ao sabor de algaras mouriscas e de fossados dos cavaleiros cristãos que acompanhavam os cruzados nas lutas pela Reconquista. Reza a tradição que, no século X, a ilha tinha sido conquistada pelo temido Ibne Baqui, filho do lendário Xurumbaque. Este era um Mouro dotado de forças superiores. Feito prisioneiro pelos nórdicos da Normandia, logrou escapar-se-lhes. Conheceu palmo a palmo a região galega e, mais tarde, as terras taganas. Era já muito velho, quando decidiu marcar os seus dominios e instalar-se, em recônditos e inacessiveis lugares, entre serranias e rios profundos, numa região da antiga Lusitania, entre Coimbra e Santarém. A ilha de Al Mourol foi reforçada e dotada de uma zona de residência e de lazeres. Uma luxuosa alcaçaba, onde Ibne Baqui dividia o seu tempo entre aventuras guerreiras e os prazeres da música e da poesia. Al Mourol era um luger de paz e de recolhimento e uma atalaia vigilante. O poderoso muçulmano amava muito a sua mulher, a doce Fata, da tribo de Micnesa. Ambos se orgulhavam de sue filha Ari, uma jovem de rara beleza e invulgar talento. Os seus cânticos dulcificavam o coração dos guerreiros de Alá . A sua elegância e arte de bailarina eram afamados em todo Al Andaluz. De Beja, por uma madrugada de Maio, chegou uma luzida embaixada. Logo, Ibne Baqui mandou que todos os barqueiros e pescadores do rio se preparassem para acolher e transportar para Al Mourol o seu amado e velho irmão e toda a luzida comitiva que de tão longe viera visitá-lo. Ibne Xurami, senhor de imensa fortuna e invencível poderio militar, ouvira falar de Ari. Por ela, se decidira a vir negociar um casamento que haveria de reforçar ainda mais os descendentes do heróico Xurumbaque. A doce Ari veio a saber pelo zum-zum das belas mulheres do Pátio das Estrelas o que estava a acontecer. Uma nuvem negra parecia-lhe pairar sobre a sua juventude. Desde menina que ela amava Mem Roderico, moçárabe influente, mensageiro da paz em muitas questões e rivalidades entre mouros e cristãos. Também ele amava perdidamente a formosa Ari. Esperavam ocasião asada para convencerem os pais de ambos a permitirem o seu casamento. Depois de um longo serão de festejos, Ari esperou que o pai e a mãe se dirigissem para os seus aposentos e pediu-lhes para a ouvirem. Confiada no amor dos seus progenitores, Ari confessou-lhes o seu romance com Mem Roderico. E, rojando-se no lajedo, jurou-lhes que não suportaria nunca casar-se com o velho tio. Irado, Ibne Baqui mandou que metessem a filha na mais alta torre da fortaleza. E, para que não tentasse fugir, dizem as pessoas antigas, que "Piaram-a, isto é, ataram-na pelos pés como se fazia às cavalgaduras ruins de amansar. Ari peada, morria de saudade e paixão. Certo dia, por uma estreita fresta, entrou uma pomba branca que trazia presa a um laço no pé uma mensagem. Era a notícia de que o seu amado Mem Roderico tinha sido morto numa cilada pelos soldados de Ibne Baqui. Nesse mesmo instante a alma pura da infeliz Ari deixou o seu formoso corpo. Ari peada voou no corpo da pomba branca e foi poisar na campa de Roderico, lá em baixo, frente ao Tejo, no branco cemitério da povação que o povo passou a chamar de Aripeada, a branca e bela povação do Arripiado."
Retirado de: http://olharopassado.blogs.sapo.pt/24707.html
A Gliptografia na Igreja de Nª Srª da Assunção, Atalaia
A Igreja de Nª Srª da Assunção, na Atalaia, Vila Nova da Barquinha, é monumento nacional por Decreto n.º 11453, de 19 de Fevereiro de 1926. A data, gravada numa pilastra do lado esquerdo do arco da capela-mor, remete-nos para o acerto da data da sua construção, ano de 1528. Este belo edifício reflecte a orientação da escola de João de Castilho e de João de Ruão que enriqueceu entre nós “a arte da pedraria” com visibilidade acentuada no pórtico principal, verdadeira obra-prima da arte Renascentista. Para além do seu pórtico, dos painéis de azulejo do Séc. XVII, de duas cores combinadas, azul e amarelo, e do honorífico túmulo de D. José Manuel da Câmara, 2.º cardeal patriarca de Lisboa, a Igreja tem outros segredos que importa desvendar. Vamos então ao seu encontro …
Diversas marcas de cantaria encontram-se gravadas na Igreja da Atalaia (1). Localizam-se as mesmas em vários sítios do monumento nacional e que escaparam, até agora, à sua extinção. Podemos vislumbrá-las, entre outros locais: na torre sineira da igreja, na parede e contraforte de cunhal da fachada principal, na cabeceira do lado norte e também no seu interior, na arcaria do lado esquerdo e do lado direito da nave central. As marcas de canteiro ou siglas, Gliptografia (2), surgem nas superfícies interior e exterior das pedras e as que estão na Igreja da Atalaia, iguais às da figura ao lado, exprimem, afinal, o quê? Existem várias teses com o objectivo de clarificar o significado e a função destas marcas de cantaria havendo quem defenda que: “ - Constituem o alfabeto de uma língua mágica e esotérica de origem caldaica, destinando-se a exercisar toda a casta de malefícios;
- Não passariam de sinais utilitários gravados pelos canteiros para indicar a exacta posição, colocação, localização e altura, bem como o adequado ajustamento dos silhares aparelhados;
- Seriam marcas feitas pelos canteiros como assinatura pessoal com o fito de assinalar o trabalho realizado por cada um e permitir a contabilização do salário em conformidade;
- São marcas individuais, reportando-se ao nome de cada pedreiro (inicial ou monograma), às respectivas crenças e devoções (objecto simbólico ou alegórico), ao seu estado social (instrumento profissional), à data da realização do trabalho (signo astrológico), etc.
- Reproduziriam sinais franco-mações adoptados pelos pedreiros para seu mútuo reconhecimento;
- Poderiam corresponder, em certos casos, concomitantemente ou não com os significados enumerados supra, à assinatura do doador de uma pedra, coluna, abóbora, etc.” (3).
O certo é que estas marcas constituem um mistério que dá lugar a todo tipo de teorias que vão desde as iniciais do nome do canteiro, a indicadores de qualidades da pedra, à assinatura do canteiro para cobrar o preço do seu trabalho, a pedras dadas em doação para a sua construção, a interpretações astrológicas, etc. etc.
A opinião maioritária defende que as marcas de cantaria são para justificar o trabalho realizado na obra. Pelo levantamento dos sinais gravados nas pedras da Igreja da Atalaia verificamos que as marcas de identidade são de fácil execução e de traço simples pelo que me parece, salvo melhor parecer, que estas demonstram o apuramento do valor funcional incorporado tendo o objectivo de assinalar o trabalho realizado por cada um dos canteiros permitindo, assim, a contabilização do seu salário.
A gliptografia em Portugal constitui um caso de estudo dos mais notáveis casos da Europa mas, inexplicavelmente, esta permanece uma área que menos atenção tem despertado aos nossos investigadores.
(1)Investigação do Dr. João Ramalhete: “A Gliptografia na Igreja de Nª Srª da Assunção, Atalaia, Vila Nova da Barquinha, Agosto de 2011”. O trabalho encontra-se para consulta na Biblioteca Municipal do Município.
(2)Griptografia – gravação na pedra por incisão ou relevo.
(3)Gandra, Manuel J., Cadernos da tradição, siglas e marcas lapidares, subsídio para o Corpus Lusitânico, Ano I, n.º 2, 2001.
ARROLAMENTOS DOS BENS CULTURAIS DA FREGUESIA DA ATALAIA
CONFLITOS SOBRE A LEZÍRIA DA ATALAIA (REINADOS DE AFONSO III E D. DINIS)
CARTAS DE PRIVILÉGIOS À VILA DA ATALAIA
Uma das paixões de qualquer investigador é datar a origem de qualquer vila.
O desconhecimento das circunstâncias concretas da origem medieval da Atalaia não olvida uma leitura atenta aos documentos agora republicados no presente blog.
Podemos afirmar que a origem da Atallaya, enquanto lugar com privilégios reais remonta, pelo menos, aos primórdios da nacionalidade. As cartas abaixo contam-nos as quezílias da Atalaia, e da Asseiceira, com os territórios vizinhos e confinantes, a criação de póvoas ou, melhor dizendo, de concelhos, além da procura de letra de lei real para pôr termo aos abusos de que eram vítimas os nossos antepassados e, também, através dela adquirir direitos às suas gentes.
Os estudos devem prosseguir procurando esclarecer e divulgar as verdadeiras origens desta bonita vila.
OBS. No fim das Cartas abaixo indica-se a era de ..., exemplo: "(...) era de mil e trezemtos e coremta annos " que corresponde ao ano de 1302. Recorda-se que aquando da feitura da Carta, vigorava a era de César, baseada no calendário juliano que iniciara a contagem dos anos em 1 de Janeiro do ano 38 a.C. Este método de datação vigoraria em Portugal até ao ano de 1422, ano em que por Carta Régia de 22 de Agosto, viria a ser substituído pela Era de Cristo, cuja contagem se iniciava no ano 1 do Nascimento de Jesus.
CARTA DE 1302 DE D. DINIS
“ Dom Dinis per graça de Deus, Rey de Purtugal, e do Alguarve. A quamtos esta carta virem faço saber, que pello muyto mal que amim disseram, e que eu sey certo que se fazia no Soveral da lameira, que he amtre Tomar e a Golegam, matanldo hy os homens, e molheres, e esbulhamdo e tendo lhe hy o caminho, e fazemdo hy muyto mal, e muvto mallfeytoria; pera se partir este mal todo, e todos estes danos e todas estas perdas, emtemdemdo que he serviço de Deos, mamdei, e mamdo ao comcelho de Torres novas, cujo termo é aquelle luguar, que façam hy duas povoras; a saber: huua nallbergaria a que chamam a Ceiceira, e a outra lugar onde chamam Atallaya no caminho, no qual luguar hy devisou Ruy Paees bugalho quando lá foy com os Juizes de Torres, e querendolhe fazer graça e merce a todos aquelles que ha povorarem, e morarem comtinuadamente, tennho por bem, e mamdo que sejam escusados d'ostes, e de fosado, e dadua a que nom vam em ella em nenhuum tempo. Outro sy mamdo e tenho por bem que de todas aquellas vinhas que fizerem nos termos de sas pobras, que nom dem do vinho que nellas ouverem nenhuua releguajem em nenhuum tempo, mas mando, e tenho por bem, que se vinho trouxerem pera hy doutros lugares pera vemder no releguo, que dem de toda carregua huum almude como o custume de Samtarem, e no mais: e o vemdam tambem no releguo em cuba como em tonel, como se cada huum pagar. E outro sy a todos aquelles que esta carta virem, faço saber que eu Recebo em minha guarda, e em minha emcomemda, e sob meu defemdimemto todos aquelles que morarem em esas povoras sobreditas; e seus homens, e seus herdamemtos, e cryados, e todallas outras suas cousas, porque mamdo, e defemdo que nenhuum seja ousado que faça mal, nem torto a elles, nem a seus homens, nem a suas herdades, nem a seus guados, nem nenhuuas suas cousas; e aquelle que ende al fizer, ficará por meu ymiguo, e peitarmia os meus emcoutos de seis mil solldos e corregeria a elles, e a cada huum delles em dobro o mal que lhes fezese, e dey emde aos ditos povoradores esta carta. Damte em Samtarem adesoyto dias de Fevereiro. ElRey o mandou. Francisco Annes a fez, era de mil e trezemtos e coremta annos.” (ano de 1302 d.C.)
2.ª CARTA DE 1303 DE D. DINIS
“Dom Dinis, per graça de Deus, Rey de Purtugal, e do Alguarve. A quamtos esta carta virem faço saber, que eu sabemdo por verdade que se matavam muytos homens, e faziam muitos roubos, e muitas malfeytorias em termo de Torres novas, a saber: no Soveral dabureiras; que he amtre aguoa de cardiga, e bellsega, fiz fazer huua povra no lugar que chamam Atallaya, e outra na Ceiceira, e outra amtre essas povras no lugar que chamam a Tojeira, e eu por minha allma em remimento de meus pecados, querendo fazer graça e merce a eses que morarem em esas povras, quitolhe a minha jugada pera todo sempre do pam, e do vinho, e do linho que ouverem em essas povras, e termo das ditas povras. Em testemunho desto lhe dey esta minha carta, damte em Lixboa a cimquo dias de Setembro. ElRey o mamdou. Afomso Pires a fez, de mil trezentos coremta e huum anos.” (ano de 1303 d.C.)
3.ª CARTA DE 1307 DE D. DINIS
“Dom Dinis, per graça de Deus, Rey de Purtugal, e do Alguarve. A quantos esta carta virem faço saber, que hos povoradores das minhas pobras da Tallaya, e da Ceiceira se me emviaram queixar do mal, e força que lhes faziam os Concelhos de Torres novas, e Tomar, e dalguus outros lugares queremdo por sobre elles Releguos, e portajens, e allmotaçarias, e açouguajem, e mordomado, e outros foros, e custumajens, perque hos derramcavam, e destroyam do que eses povoradores aviam em tal guisa, que nam. podiam sofrer, nem poderiam a hy morar, nem povorar, e pediramme que lhes ouvese merce. E eu queremdolhe" fazer graça, e merce, e porque emtemdo que he meu serviço, Mamdo que estes povoradores nom dem aos ditos comcelhos, nem a nenhuum outro lugoar nenhuua das sobreditas cousas elles, nem os moradores dos termos das ditas pobras; e mamdo, e defemdo aos ditos Comcelhos de Torres, e de Tomar, e dos outros lugares, que lhes nom demamdem, nem filhem nenhuua das ditas cousas, nem ponham sobre elles foro, nem custume allguum; e se lhes allguua cousa tem filhada polla dita resao, mamdo que loguo, vista esta carta, lhe emtreguem, sob penna dos corpos, e dos meus emcoutos: em testemunho desta cousa dey aos povoradores dos ditos lugares estaa minha carta, damte em Samtarem a dous dias dabril. ElRey o mandou por Gilly Annes, seu tisoureiro. Ruy Vasques a fez, anno de mil e trezemtos e coremtae cimquo” (ano de 1307 d.C.)
4.ª CARTA DE 1325 DE D. AFONSO IV
“Dom Afonso, per graça de Deus, Rey de Purtugual, e do Alguarve. A quamtos esta carta. virem faço saber, que hos povoradores das povras datallaya, e da Ceiccira, me mostraram huúa Carta delRey Dom Dinis meu padre, a que Deus perdoee, em a qual he comtheudo amtre as outras causas, que por agravamemtos que lhes faziam os comcelhos de Torres novas, e Tomar, e outros lugares, queremdolhes poer sobre elles Relegos, e portagens, e allmotaçarias, e açoguajees, e mordomos, e outros foros, e custumajens, perque os derramcavam, e destroyam do que aviam, que lhe, pediam sobre esto merce; elRey meu padre vemdo esto, queremdolhe fazer graça, e merce, mamdou que hos ditos povoradores nom desem ao ditos comcelhos, nem a nenhuus outros lugares as sobrditas causas, e elles nem os moradores das ditas pobras, e mamdava aos ditos comcelhos de Torres novas, e de Tomar, e dos outros lugares, que lhes nã demamdasem, nem filhasem nenhuua das ditas cousas; e pediram me por merce, que eu lhes fizese esto comprir, e guardar, segundo era comtheudo na dita carta delRey meu padre: e eu queremdolhe fazer graça, e merce, tenho por bem, e mamdo que lhe seja guardada a dita carta delRey meu padre, assy como em ella he comtheudo, e mamdo aos ditos Comcelhos que lha façam cumprir, e guardar. E em testemunho desto lhe dey esta minha carta, damte em Santarem postomeiro dia de Janeiro. ElRey o mamdou per Mige1 Vivas, seu clérigo. Lourenço Martins a fez, era de mil e trezemtos e sesemta etres annos” (ano de 1325 d.C.)
5.ª CARTA DE 1328 DE D. AFONSO IV
“Dom Afonso, per graça de Deus, Rey de Purtugal, e do Alguarve: a todallas Justiças; corregedores dos meus Reynos, que esta minha carta virem, faço saber os povoradores da minha povora datallaya, e Ceiceira me diseram que vós lhe nom queriades leixar levar as viamdas que ham mister pera dita povora, e esto nam tenho eu por bem se asy he, porque vos Mamdo a cada huum de vós em vossos lugares, que vós lhe leixes levar as viamdas ho que ham mister pera dita povora por seus dinheiros, e nom lhes embarguedes o que al nam façades, se nam a vós me tornaria eu porem, e peitarmiades os meus emcoutos. E em testemunho desto lhe dey esta minha carta, damte em Miramda adezasete de Janeiro ElRey o mamdou por Estevam Pires. Joham Lopes a fez, era de mil e trezemtos sesemta e seis annos.
Todas as cartas são originais, apresentadas perante a autoridade real, conforme se infere do Livro 28 da Chancelaria d’ElRei D. João III, fl. 1
1. As quaees cartas asy mostradas como dito he, o dito Estevam Paees, precurador do dito comcelho, em seu nome nos pedio que elle se temia de se as ditas cartas perderem per foguo, ou aguoa, ou allgum outro cajam; e que se emterndiam dajudar dellas ao diamte, que lhas mamdassemos dar o trellado das ditas cartas, e privilegiós pella guysa que em ellas he comtheudo; e nós vemdo as ditas cartas em como nam eram riscadas, nem viciadas, nem em nenhuum lugar sospeitas, Mamdámos lhe dar o dito trelado em esta nosa carta testemunhavel, selada com noso sello pemdemte; em testemunho desta lhe mamdámos dar esta nosa carta, damte na cidade de Lixboa quimze dias de Novembro. ElRey o mamdou por Lourenço Annes Fogaça, seu vasallo &c. Gil Vasques a fez, era de mil e quatro centos e vintoyto annos.
2 . Pedimdonos o dito concelho que lhas quisesemos asy confirmar, e nós visto seu Requerimento, queremdo-lhe fazer graça e merce, temos por bem, e confirmamoslha como se nela comtem. E asy mamdamos as Justiças que lha cumpram imteiramemte como nela he comtheudo, sem allguua duvida, nem embarguo allguum. Dada em Samtarem a dous dias do mes de Junho. Fernam de Pina a fez. Anno de noso Senhor Jesus Chrispto de quatrocentos e oytemta e sete annos.
3. Pedimdonos o dito comcelho que lhe comfirmasemos as ditas cartas aquy comtheudas, e vysto per nós seu Requerimento, e queremdolhe fazer graça e merce, temos por bem e lha comfirmamos asy, e pela guysa, e maneira que se em ella comtem. E asy mamdamos que se cumpram, e guardem imteyramemte sem nenhuma duvida; dada em a villa destremoz a vimte cimquo dias de Dezembro. Vicente Pires a fez. Anno do nascimento de noso Senhor Jesus Chrispto de mil e quatro cemtos novemta e seis annos. Pedimdome os sobreditos que por lhe fazer merce lhe comfirmase as ditas cartas á dita villa datallaya, e visto por mym seu Requerimemto, queremdolhe fazer graça e merce, tenho por bem de lhas comfirmar, e mamdo que se cumpra, e guarde como nellas se conthem. Bastiam Lameguo a fez em Lixboa a desanove de Setembro de mil e quynhemtos e vimte oyto annos.
Bibliografia: MEMÓRIAS DA ACADEMIA REAL DAS SCIENCIAS DE LISBOA, TOMO VIII, PARTE I, 1823 e Livro 28 da Chancelaria d’ElRei D. João III, fl. 1
A RESTITUIÇÃO DOS BENS DA IGREJA DA ATALAIA EM 1931
Por: António Luís Roldão
A perseguição movida pelos detentores do movimento republicano em ordem à instauração de um modelo político capaz de dar satisfação às legítimas aspirações do povo, saldou-se por um evidente fracasso. O mal da nação não estava na igreja Católica nem na sua doutrina, antes na incapacidade das cabeças pensantes e politizadas chamadas a corrigir os erros, os desvios, os abusos e o autoritarismo que minavam o país, sendo impotentes para obter um êxito sustentável. Essa incapacidade leva-os a ver fantasmas onde quer que fosse, obstáculos aos seus propósitos de governação, olhando a Igreja Católica e tendo-a como principal inimiga e impecilho do processo reformista pensado para a salvação da Pátria. O arrolamento dos bens da Igreja ocorrido em 1911 e a suspensão do culto católico até 1917, foram das principais medidas de coação tomadas, tendo por objectivo a asfixia da religião. A Atalaia, a sua Igreja e as Capelas que se estavam sob a sua alçada, a do Senhor Jesus da Ajuda; a da Moita; das Vaginhas e S. Caetano, viram-se espoliadas e impedidas do uso regular dos seus bens durante muitos anos. É a restituição desse espólito feito em 10 de Janeiro de 1931, como peça histórica que agora se revisita, dando conta dos actores presenciais e autorizados em acto tão importante; Francisco Monteiro da Silva; Joaquim José Vieira; João dos Santos Gil; Manuel Rodrigues Maia; Bernardino Gomes; Luís Falcão de Somer e Luís Augusto da Costa Ramos.
TEOR DO DOCUMENTO
Inventário ou arrolamento da Igreja da Atalaia – Igreja Paroquial ( Monumento Nacional ) sacristia, casa da Irmandade, e dependências. Casa e dependências foram demolidas na ocasião das obras de restauração da Igreja (Monumento Nacional – 1939). Uma custódia de prata, com pedras; um cálice rico, de prata dourada, com pixide (vaso do sacrário) de prata dourada; uma dita de metal dourado; uma cruz de prata para a extrema unção; dois pequenos resplendores de prata; duas pequenas caixas de prata para os santos; três lâmpadas de latão amarelo; dois turibulos e suas gavetas com colheres, tudo de metal amarelo; uma pequena campainha; três sinos na torre e um no relógio; uma caldeirinha para água benta de metal amarelo; ambulas de estanho para os santos óleos; uma concha de metal para os baptismos; uma chave de sacrário com fita encarnada; trinta e dois castiçais de pau dourado para os altares; quatro crucifixos de pau dourado, dois tocheiros na forma de castiçais para junto do altar-mor; seis varas do palio douradas; duas lanternas para junto do páleo; uma cruz processional; dois tocheiros processionais; duas cadeiras de couro (velhas); sete bancos de madeira de pinho; uma credencia, um banco com três assentos e almofadas; uma escada para as lâmpadas; um pequeno arcaz para arrecadação de roupas e alfaias; dois confessionários volantes, uma estante de missal; dois missais e três sacras; cinco pedras de ara, vinte jarras de porcelana; um berço do Menino Jesus; um sudário; uma capa de asperges de damasco roxo; uma capa de asperges de damasco branco, duas dalmáticas, estolas e cingulos de damasco branco; uma casula de damasco branco com estola e cingulo; mais duas idênticas; uma encarnada; uma verde; uma roxa; uma preta; cinco bolsas de corporais de diferentes cores; seis véus do cálice de diferentes cores; um pequeno véu de damasco para a estante do missal; uma estola paroquial de damasco branco e roxo; uma estola paroquial de damasco preto; uma manga de cruz de damasco branco; uma manga de cruz de veludo preto; um pavilhão de damasco branco do sacrário (velho); um pavilhão de damasco encarnado; um pavilhão de damasco do esquife, branco; um palio de damasco branco para seis varas; um frontal de damasco branco, com ramos; outro do mesmo tecido, sem ramos; um frontal de damasco branco/encarnado (velho); uma umbela de damasco branco; um reposteiro de damasco encarnado da porta principal; duas pernas de sanefas do arco do cruzeiro – de damasco encarnado; dez sanefas de damasco encarnado (bastante rotas); doze pernas de damasco encarnado; uma sanefa e pernas de algodão encarnado; cinco capas de lã encarnada (velhas); cinco capas de lã branca; treze toalhas de linho dos diferentes altares; dez toalhas de algodão; três alvas de linho; três amitos de linho; três cingulos para as alvas; oito sanguíneos; três manustergios; uma sobrepeliz; um Ritual de Paulo V; cinco coberturas de chita para os altares; Imagens = Nossa Senhora da Assunção - padroeira da freguesia; S. Francisco de Assis; Nossa Senhora do Rosário; Santo António; Menino Jesus; um quadro em tela (N. Srª da Piedade) um dito – S. João Baptista. O processo de onde é possível extrair a presente peça histórica contempla a restituição das alfaias litúrgicas e paramentaria das referidas Capelas dispersas pela paróquia Atalaense, curioso e exemplar documento na minúcia do inventário e na preocupação de restituir inteiramente os espólios arrolados em 1911. De salientar, como nota final, a presença, no rol dos figurantes a quem cabe a responsabilidade de receber de volta, os pertences da Igreja, a presença de políticos coniventes com os comissários da República, creio que por aproveitamento e segurança dos estatutos sociais mais do que por convicção.
Volume 1, Edição 1, do Centro Social e Paroquial da Atalaia, IPSS, Centro de Dia e Creche, CRESCER SOLIDÁRIO
A ATALAIA E A BARQUINHA NOS CAMINHOS DE SANTIAGO
O CENSO LOCAL DE 1878
Por: António Luís Roldão
No princípio do ano de 1872, a Câmara Municipal da Vila Nova da Barquinha elaborou um mapa estatístico onde constavam, pormenorizadamente tratados, o número de fogos e o montante das populações residentes nos diversos lugares conhecidos do espaço concelhio. Tratou-se de uma tentativa mais abrangente e ambiciosa do que aquela que se fazia regularmente, contentando-se tão somente em conhecer a quantidade dos fogos e as populações das freguesias, levantamentos feridos de algumas grosseiras distorções e irregularidades fáceis de detectar por comparação, devidas por certo à insuficiente capacidade, à pouca competência e engenho das pessoas incumbidas dessa responsabilidade.
Esse realismo é evidente e ressalta da análise comparativa que se faz dos resultados inscritos nas tábuas para o efeito reduzidas a escrito e oficialmente remetidas ao Governo Civil, em obediência aos preceitos administrativos.
A organização do documento de 1872 pauta-se por uma mais ampla abrangência de resultados, ultrapassa os limites regulamentares das tábuas anteriormente referidas, pois que, desta vez, vai ao fundo da questão, identificando a natureza dos fogos e das populações residentes, não somente nas freguesias mas especificamente em todos os lugares publicamente conhecidos do território concelhio.
Constitui um instrumento de assinalado interesse documental pelo facto de demonstrar como se espalhava o povo de Deus neste assinalado espaço. É uma primeira e séria abordagem para o passo mais longo e complexo, que, por amadurecimento ao longo dos anos irá resultar no censo de 1878, naquilo que poderemos traduzir com toda a propriedade como o marco fundamental do conhecimento organizado e estruturado das potencialidades do concelho, nas vertentes sócio-económicas.
Apreciemos…
Lugares | Fogos | Habitantes |
Atalaia | 93 | 380 |
Moita | 156 | 594 |
Vaginhas | 64 | 263 |
Pedregoso | 7 | 31 |
Lameira | 1 | 10 |
Casal do Doutor | 1 | 2 |
Casal do Médico | 1 | 4 |
Vale do Seixo | 1 | 4 |
Moinho do Bonito | 1 | 4 |
Casal do Frade | 2 | 5 |
Porto Beiçudo | 1 | 7 |
Quinta do Amaro | 1 | 5 |
Ponte da Pedra | 1 | 44 |
Barquinha | 230 | 953 |
Praia | 69 | 307 |
Fonte Santa | 4 | 20 |
Casal do Jacinto | 3 | 13 |
Vale de Poços | 6 | 24 |
Madeiras | 1 | 2 |
Pintainhos | 21 | 93 |
Fontainhas | 3 | 8 |
Figueiras | 5 | 24 |
Laranjeira | 30 | 118 |
Portela | 9 | 38 |
Limeiras | 16 | 69 |
Outeiro | 26 | 105 |
Caneiro | 12 | 58 |
Matos | 13 | 59 |
Casal do Rio | 1 | 8 |
Acampamento | 6 | 26 |
Tancos | 57 | 246 |
Com naturais e ligeiras alterações quantitativas, quanto aos índices demográficos, relativamente ao esboço de 1872, são elucidativos das vivências da população na segunda metade do século XIX. Revisitam-se, ao pormenor, como espelho curioso e singular de uma época que o pó do tempo acabou por cobrir do esquecimento, sobrando-nos este memorial recordativo.
A realidade do concelho era, então, composta de duas realidades económicas distintas, nem sempre complementares no harmonioso dos resultados. A primeira, importante e absorvente do extracto de uma sociedade aburguesada tinha, nos proveitos fáceis e generosos da vila fluvial – o Tejo – nos negócios de água abaixo e água acima, a tentação fundamental e apetecida. Geradora de riquezas sem necessidade de grandes investimentos, agrupava o grosso dos negociantes estabelecidos com casa própria, cómoda e próspera. Segunda, traduzida no mundo rural – agricultura e pastorícia – constituía o complemento daquela, no rendimento que a terra era capaz de proporcionar, nas parcelas adaptadas ao cultivo da oliveira, da vinha e aos produtos de menor valia. A mata, propícia ao pastoreio do gado e produtora das madeiras e das lenhas para o aquecimento doméstico, associava-se aos proveitos. No capitulo do mundo rural e na vertente da agricultura e nas suas variantes, revele-se, já, a opulência da Quinta da Ponte da Pedra, impondo-se como potentado entre os seus pares, na diversidade e número dos seus rebanhos e no povo activo (44 elementos) para gerir, eficazmente, o tratamento das lides agrícolas. Os aspectos sócio-económicos são tratados ao pormenor, no parecer desses procuradores de coisas importantes e vitais para a subsistência, enraizamento e fixação das populações.
ANIMAIS DE CARGA E TRANSPORTE: é referida a existência de 26 cavalos e 16 muares, distribuídos pelos lugares mais concorridos, força capaz de movimentar as 37 viaturas de dois rodados, achadas pelos inquiridores. Parece-me insuficiente o número peca por defeito se avaliarmos o importante e valioso desempenho que o transporte desempenhava na movimentação das cargas do mundo agrícola e das mais apetecidas e reclamadas no tocante ao tráfego fluvial. Mas, é esse o número constante.
GADO VACUM: existia, apenas, um contingente de 50 unidades na Ponte da Pedra, elemento elucidativo, entre outros, da capacidade criadora e produtiva dessa casa.
GADO LANIGERO: foram contadas 1977 unidades, com particular relevância os efectivos encontrados na Moita – 200: Ponte da Pedra – 500: Barquinha – 700 e Tancos – 400.
GADO SUÍNO: dá-se conta de 229 unidades, com evidência nos efectivos da Ponte da Pedra – 40 e da Moita, com 50.
No respeitante aos MOINHOS DE VENTO, existiam dois, um na Barquinha e o outro em Tancos e quanto aos de ÁGUA, são 13 no total, 10 dos quais em Tancos e os restantes no Vale Seixo, no Porto Beiçudo e na Ponte da Pedra.
FORNOS: são eles 135, dispersos por todo o território, particularmente na Atalaia, com 20; Moita, com idêntico número; a Barquinha, com 30 e Tancos, com 10, os mais significativos.
POÇOS E CISTERNAS: encontram-se 53 ao longo do espaço concelhio, contribuindo para as necessidades do abastecimento de água das populações, obtendo nas fontes e nas correntes do Tejo e do Zêzere um contributo suplementar, sem perigos ou implicações de monta.
Não me alongo mais na análise deste interessante repositório de uma época de prosperidade concelhia, que, em certos aspectos, nos dá que pensar.
Publicado no Jornal Novo Almourol MAR12 n.º 371
ATALAIA e MOITA (1930-1940)
A freguesia de Atalaia, que tem a sua sede na vila do mesmo nome, tem por orago Nossa Senhora da Assunção. No ano de 1600 a sede da freguesia já tinha a categoria de vila. A freguesia é de 2.ª ordem, supondo-se que a sua criação remonta ao século XI.
Praia do Ribatejo (1930-1940)
Bibliografia: Boletim da Junta de Província do Ribatejo / dir. ed. Abel da Silva. - Santarém : J. R R., 1940.
Tancos (1930-1940)
Bibliografia: Boletim da Junta de Província do Ribatejo / dir. ed. Abel da Silva. - Santarém : J. R R., 1940.